Nova Castro: tragedia | Page 2

João Baptista Gomes Junior
Que numa lagrima s�� que tu derrames, Se o Principe j��mais a divisasse, Seria de sobejo a envenenar-lhe O terno cora??o, que affagar deves!... Se neste estado agora elle te achasse, Em que estado sua alma ficaria! Por seu amor, te rogo, enxuga o pranto, As afflic??es desterra, em que so?obras.
Ign. Oxal�� que podesse desterra-las! Mas buscarei ao menos reprimi-las, Porque n?o participe o caro Esposo Dos males, dos horrores que me cerc?o. Embora o Ceo me opprima, e me castigue, Entorne sobre mim suas vingan?as; Por��m sobre elle s�� prazeres mande: O seu socego, mais que o meu, desejo: A fim de lhe mostrar alegre o gesto, A que esfor?os me n?o dou continuamente? Para o n?o affligir... ah! Quantas vezes Calco, suffoco dentro do meu peito Afflic??es, que no peito me n?o cabem!... Quantas vezes, sumindo-se a seus olhos, Dos meus ao cora??o rec��a o pranto! Mas ah, que os meus pezares, meus martyrios, Quanto mais os escondo, muais se az��d?o, Nem podem j�� ter fim sen?o co'a vida. A qualquer parte, oh Ceos, que os olhos mande, Motivos d'afflic??o s��mente encontro. Do passado a lembran?a me horrorisa, E do futuro a id��a me intimida: Contra mim conspirada a intriga, a inveja, Sobranceiras as iras d'hum Monarcha, Tudo me vai cavando a sepultura: O cora??o m'o diz.
Elv. .......... Elle te illude: Que podes tu temer, quando enla?ada Ao mais digno dos Principes do Mundo, Ao melhor dos mortaes que os Ceos form��r?o, O seu bra?o invencivel te defende? Em vez de recear sonhados males, Olha os immensos bens, a fausta sorte, Que propicio futuro te apparelha; O Lusitano Solio, que te espera; O respeito, o amor dos Portuguezes, A gloria de imperar sobre este povo, A quem teme, e venera o Mundo inteiro... Tudo, tudo, Senhora, te promette Permanentes venturas: nada temas.
Ign. Essas mesmas quimericas venturas, Esses bens illusorios, que me apontas, Justos motivos s?o dos meus temores. Oxal�� que D. Pedro n?o tivesse Hum Throno por heran?a que offertar-me! Ent?o f?ra eu feliz, pass��ra a vida No rega?o da paz, e da alegria: N?o haveria ent?o quem se oppozesse �� perpetua uni?o das nossas almas; Nem barbara politica empec��ra De nossos ternos cora??es a escolha: Hum do outro na posse, ambos ditosos, Aos transportes d'amor sem susto entregues, Rodeados dos tenros, caros filhos, Sem ter que desejar, o Throno excelso, Todos esses fantasmas da grandeza Nem huma vez sequer nos lembrari?o; Mas o fado nao quiz...
Elv. .............. Ahi vem D. Sancho.
Ign. Que motivo o conduz a procurar-me? Venero as suas c?s, e o seu caracter; Como elle, junto aos Reis, ach?o-se poucos.
SCENA II.
D. Sancho, Ignez e Elvira.(5)
(5) Elvira, logo que D. Sancho entra na Scena, retira-se para o fundo della, e pouco depois desapparece.
Sanc. O Ceo neste lugar faz que eu te encontre: He preciso, Senhora, com franqueza Mostrar-te os imminentes precipicios, Que s�� tua virtude evitar p��de. O Principe despreza os meus conselhos, Meus rogos n?o attende, nem j�� c��de ��s lagrimas d'hum velho que aprecia, Mais do que a propria vida, a sua gloria: D'hum velho, que incumbido de educa-lo, Sempre a n��a verdade ante os seus olhos Tem feito apparecer, buscando sempre Afastar-lhe a lisonja dos ouvidos, Esse das Cortes pessimo veneno, Que os cora??es dos Principes corrompe. Seu caracter violento, caprichoso, Agora por amor mais inflammado, J�� n?o deixa dobrar-se ��s minhas vozes; C��go resiste aos Paternaes preceitos; He necessario pois que a obedecer-lhe O resolvas tu mesma. Bem conheces Do inflexivel Affonso o genio iroso. J�� tres vezes o tem chamado �� Corte, Sem que D. Pedro cumpra os seus mandados, Nem queira pesar bem seus amea?os: Muito do Rei severo temo as iras, Por crueis Conselheiros ati?adas: Vendo talvez do filho a rebeldia, Se esque?a de que he Pai. Cumpre, Senhora, Que atalhes as funestas consequencias, Que podem resultar da pertinacia Em que o Principe insiste: que o conven?as A beneficio seu, e em teu proveito, A cumprir sem demora os seus deveres: Eu sei que na sua alma podes tudo, E das tuas virtudes tudo espero.
Ign. O teu zelo, candura, e probidade Assaz louvo, e respeito. N?o te enganas Em suppor-me capaz de emprender tudo, Inda mesmo arriscando a propria vida, Para chamar D. Pedro aos seus deveres; N?o tem sido por falta de lembrar-lhos, Que elle ��s ordens de hum Pai tem resistido. (Tu, n?o menos do que eu, seu genio sabes) Nem attender-me quer quando lhe imploro, Que �� Corte v�� lan?ar-se ��s Regias Plantas. Todavia, D. Sancho, eu te prometto, Que n?o h?o de cessar minhas instancias; Embora, longe delle, Ignez saudosa, Ao furor dos seus ��mulos exposta, Venha talvez a ser victima triste De insidiosa politica: antes quero Morrer, do que lembrar-me que sou causa De que o Principe falte aos seus deveres.
Sanc. Quem nutre em
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