as nupcias. Podes certificar-lhe, que consorte Ha de meu Filho
ser da Filha sua.
Emb. Nem era de esperar que hum Rei tão sabio Procedesse jámais
d'outra maneira, Prompto vou expedir ao meu Monarcha A plausivel
resposta, que lhe envias.
SCENA X.
D. Affonso, Coelho, e Pacheco.
Af. Sem demora, Pacheco, apromptar faze, Para Ignez conduzir, segura
escolta: Vai, Coelho, dizer-lhe que se apreste: Partirá hoje Ignez para
Castella, E meu filho comigo para a Corte.
Coel. Oxalá que assim seja! Mas duvido. Em castigar avaro em
demasia, Além de ser, Senhor, simples desterro Aos delictos de Ignez
pena mui leve; Receio que de horriveis attentados Seja origem fatal este
projecto. Fôra talvez melhor lançar mão logo Dos efficazes, ultimos
remedios. Eu conheço o caracter de teu filho: Mal souber que
roubar-lhe Ignez intentas, Dos filiaes deveres esquecido, Com braço
armado, temo que se atreva Contra seu proprio Pai.
Af. .................. Nem tal profiras: Não faças a meu filho essa injustiça:
De tão feio attentado basta a idéa Para me horrorisar. Ide ligeiros Fazer
que as minhas ordens se executem. Ah! Se alguem se atrevesse a
contravi-las, Seu tremendo castigo serviria De memorando exemplo ao
Mundo inteiro.
ACTO III.
SCENA I.
Ignez só.
Miseranda!.. Que trance! Oh desventura!.. Oh sentença, cruel!..
Venceste, ó Fado. Apraziveis lugares, testemunhas Do mais ardente
amor, ah, para sempre A malfadada Ignez de vós se aparta... Quanto
fôra melhor, quanto mais doce Deixar a vida, que deixar o amante!
Que!.. Eu... deixar o amante?.. Oh caro Esposo!.. Oh Ceos! podeis
manda-lo, ou permitti-lo? Sereis tambem crueis como os humanos?
Condemnareis os mesmos, que soprastes, Sentimentos d'Amor, da
Natureza? Para hum castigo tal quaes são meus crimes?.. Se me queres
punir, Deos de vingança, Os raios tens nas mãos, accende os raios, Meu
terno coração reduze ao nada; Mas d'outro coração, a que o ligaste,
Separa-lo jámais... Ah! nem tu mesmo, Nem tu, que podes tudo, tanto
podes... Que proferes, blasfema! Aos Ceos te atreves?.. Oh virtude! Oh
razão! Desamparais-me?.. Onde, Ignez, onde está tua constancia? Aos
teus deveres torna, entra em ti mesma. Orgão do Ser Supremo, hum Rei
te ordena, Que do Esposo te apartes; não resistas; He força obedecer;
enfrêa n'alma, Suffoca as afflicções, cala os queixumes: Co'as
desgraças os crimes não mistures: Mas deixa-lo!.. Ai de mim...
Deixa-lo!.. Agora, Agora he que eu conheço as furias todas, Toda a
força d'amor: elle triunfa Da razão, da virtude, e dos Ceos mesmo.
SCENA II.
Ignez, e Elvira.
Elv. Senhora... (Ai triste!.. o pranto me suffoca!) Se he certo que impias
ordens te condemnão A deixar Portugal, a triste Elvira, Que protestou
viver, morrer comtigo, Sempre junto ao teu lado, a qualquer parte A
que te arroje a sorte, ha de seguir-te: Confio que esta graça me
concedas.
Ign. Ah! Não venhas juntar aos meus pezares O quadro da Amizade
consternada: Para esmagar-me o coração sensivel Bem basta Amor, a
Natureza basta. Não posso resistir a tantos males, Aos golpes da
saudade que retalhão Da atribulada Ignez o peito afflicto. Mais pranto
com teu pranto não me arranques, Que a hum terno coração inda mais
custão As lagrimas que move, que as que verte. He mesmo o ser amado
hum bem funesto, Que exacerba a desgraça aos desgraçados.
Elv. He possivel haver almas tão duras, Que hum tão sensivel coração
flagellem!... Mas ah!.. Porque aos pezares succumbimos? D. Pedro he
teu Esposo; elle ha de oppôr-se Defensor poderoso em teu soccorro; Ha
de frustrar da tyrannia as ordens; Nelle pois confiemos: a excita-lo
Bastarão tuas lagrimas...
Ign. ................... Que dizes! Que terrivel idéa me despertas! Em vez de
confortar-me, vens, Elvira, Abater-me a constancia, aconselhar-me A
que contra seu Pai revolte hum filho?.. Ah! Não... Embora Ignez infeliz
seja; Mas nunca origem de rebeldes crimes: Amortecida já, mas inda
accesa Brilha a luz da razão dentro em minha alma. Não consintas, oh
Ceos, que amor a apague; Fortalecei meu peito. Sim, eu devo, Eu devo
submetter-me ao meu destino: Cumprão-se as duras leis do duro fado:
Amargurada irei longe do Esposo Acabar entre as garras da saudade...
Porém os caros filhos... Ah! comigo, Comigo os levarei. Doces
penhores Do mais constante amor, sereis ao menos Na minha
adversidade terno allivio... Entre os meus braços sempre, sempre
unidos Da inconsolavel Mãi ao peito anciado, Cobertos de caricias, de
suspiros, Banhados com meu pranto, em seus semblantes O semblante
verei do Esposo ausente. Aprenderão de mim... Mas ah! Que digo!..
Quereria eu acaso, associando Ao pavoroso horror do meu destino O
destino dos filhos innocentes, Tolher sua ventura?.. Não; entregues De
seu Pai aos desvelos, abrigados Á sua sombra fiquem; lembrem-lhe
elles A miserrima Ignez continuamente... O retrato da Mãi nos filhos
veja, Que eu memorias do Esposo não careço; No coração gravada a
sua imagem, Ante os
Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.