Nova Castro: tragedia | Page 9

João Baptista Gomes Junior
se atrevesse a contravi-las, Seu tremendo castigo serviria De memorando exemplo ao Mundo inteiro.

ACTO III.
SCENA I.
Ignez só.
Miseranda!.. Que trance! Oh desventura!.. Oh senten?a, cruel!.. Venceste, ó Fado. Apraziveis lugares, testemunhas Do mais ardente amor, ah, para sempre A malfadada Ignez de vós se aparta... Quanto f?ra melhor, quanto mais doce Deixar a vida, que deixar o amante! Que!.. Eu... deixar o amante?.. Oh caro Esposo!.. Oh Ceos! podeis manda-lo, ou permitti-lo? Sereis tambem crueis como os humanos? Condemnareis os mesmos, que soprastes, Sentimentos d'Amor, da Natureza? Para hum castigo tal quaes s?o meus crimes?.. Se me queres punir, Deos de vingan?a, Os raios tens nas m?os, accende os raios, Meu terno cora??o reduze ao nada; Mas d'outro cora??o, a que o ligaste, Separa-lo jámais... Ah! nem tu mesmo, Nem tu, que podes tudo, tanto podes... Que proferes, blasfema! Aos Ceos te atreves?.. Oh virtude! Oh raz?o! Desamparais-me?.. Onde, Ignez, onde está tua constancia? Aos teus deveres torna, entra em ti mesma. Org?o do Ser Supremo, hum Rei te ordena, Que do Esposo te apartes; n?o resistas; He for?a obedecer; enfrêa n'alma, Suffoca as afflic??es, cala os queixumes: Co'as desgra?as os crimes n?o mistures: Mas deixa-lo!.. Ai de mim... Deixa-lo!.. Agora, Agora he que eu conhe?o as furias todas, Toda a for?a d'amor: elle triunfa Da raz?o, da virtude, e dos Ceos mesmo.
SCENA II.
Ignez, e Elvira.
Elv. Senhora... (Ai triste!.. o pranto me suffoca!) Se he certo que impias ordens te condemn?o A deixar Portugal, a triste Elvira, Que protestou viver, morrer comtigo, Sempre junto ao teu lado, a qualquer parte A que te arroje a sorte, ha de seguir-te: Confio que esta gra?a me concedas.
Ign. Ah! N?o venhas juntar aos meus pezares O quadro da Amizade consternada: Para esmagar-me o cora??o sensivel Bem basta Amor, a Natureza basta. N?o posso resistir a tantos males, Aos golpes da saudade que retalh?o Da atribulada Ignez o peito afflicto. Mais pranto com teu pranto n?o me arranques, Que a hum terno cora??o inda mais cust?o As lagrimas que move, que as que verte. He mesmo o ser amado hum bem funesto, Que exacerba a desgra?a aos desgra?ados.
Elv. He possivel haver almas t?o duras, Que hum t?o sensivel cora??o flagellem!... Mas ah!.. Porque aos pezares succumbimos? D. Pedro he teu Esposo; elle ha de opp?r-se Defensor poderoso em teu soccorro; Ha de frustrar da tyrannia as ordens; Nelle pois confiemos: a excita-lo Bastar?o tuas lagrimas...
Ign. ................... Que dizes! Que terrivel idéa me despertas! Em vez de confortar-me, vens, Elvira, Abater-me a constancia, aconselhar-me A que contra seu Pai revolte hum filho?.. Ah! N?o... Embora Ignez infeliz seja; Mas nunca origem de rebeldes crimes: Amortecida já, mas inda accesa Brilha a luz da raz?o dentro em minha alma. N?o consintas, oh Ceos, que amor a apague; Fortalecei meu peito. Sim, eu devo, Eu devo submetter-me ao meu destino: Cumpr?o-se as duras leis do duro fado: Amargurada irei longe do Esposo Acabar entre as garras da saudade... Porém os caros filhos... Ah! comigo, Comigo os levarei. Doces penhores Do mais constante amor, sereis ao menos Na minha adversidade terno allivio... Entre os meus bra?os sempre, sempre unidos Da inconsolavel M?i ao peito anciado, Cobertos de caricias, de suspiros, Banhados com meu pranto, em seus semblantes O semblante verei do Esposo ausente. Aprender?o de mim... Mas ah! Que digo!.. Quereria eu acaso, associando Ao pavoroso horror do meu destino O destino dos filhos innocentes, Tolher sua ventura?.. N?o; entregues De seu Pai aos desvelos, abrigados á sua sombra fiquem; lembrem-lhe elles A miserrima Ignez continuamente... O retrato da M?i nos filhos veja, Que eu memorias do Esposo n?o care?o; No cora??o gravada a sua imagem, Ante os meus olhos sempre ha de seguir-me, Ha de, em quanto viver, viver comigo, E comigo baixar á sepultura.
SCENA III.
D. Pedro, Ignez, e Elvira.(20)
(20) Ignez, apenas vê D. Pedro, busca enxugar as lagrimas. Elvira affasta-se para o fundo da Scena, e pouco depois se retira.
Ped. Ignez, querida Esposa... Mas que vejo!.. Debalde buscas enxugar teu pranto: Aos olhos de hum amante nada escapa. Impressas no teu rosto bem diviso As afflic??es, que o cora??o me partem. Que motivo... Mas devo eu pergunta-lo? N?o sei assaz a origem dos teus males?.. Eu sou, sim, sou eu mesmo o teu flagello; Mas o teu defensor, o teu Esposo: Nada receies pois, nada te afflija... Porém as tuas lagrimas se dobr?o?.. Oh Ceos!..
Ign. .... Amado Esposo, n?o repares, N?o te afflijas co'as lagrimas que choro: As tuas express?es, tua presen?a Aggrav?o minha dor, meu pranto augment?o. Ah! pelos tristes olhos sahir deixa Meu cora??o em lagrimas desfeito.
Ped. Antes em borbot?es todo o meu sangue Eu quero ver correr, do que o teu pranto. De tua alma desterra v?os temores, Extermina os pezares, n?o succumbas A males transitorios que te opprimem. Os caprichos do Fado, a
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