Manuel da Maya e os engenheiros militares portugueses no Terramoto de 1755 | Page 6

Cristóvão Sepúlveda
aos limites das suas
propriedades, sem que houvesse maneira de saber se as baseavam na
verdade.
Por Aviso de 11 de dezembro de 1755 foi ordenado ao Engenheiro-mor
Manuel da Maya que «chamando á sua presença os officiaes de
Infantaria com exercicio de engenheiros, que lhe parecessem mais
habeis e expeditos, os mandasse passar os liveis necessarios para se
conhecer e calcular com clareza os declivios que ha dos Mosteiros da
Boa Hora, do da Annunciada, do de Corpos Christi, da Igreja da
Magdalena, e S. Sebastião da Padaria, até ás cortinas do Terreiro do
Paço e da Ribeira»; tinha isto por fim acommodar os entulhos em
logares mais baixos.
Por Aviso de 22 do mesmo mês e anno foi ordenado a Manuel da Maya
que «na conformidade das reaes ordens fizesse apalpar e abalizar pelos
officiaes, que achasse mais expeditos e exactos, os terrenos de que se
tratava, em forma que ficassem distinctamente demarcados os logares
que se houvessem de entulhar e as alturas dos entulhos que nelles se
haviam de lançar, para que fossem lançados com a devida proporção,
onde mais conviesse e sem o perigo de se tornarem a mover, etc.».
Outro Aviso da mesma data ao Duque Regedor das Justiças (Duque de

Lafões) para se nivelar a parte da cidade que ia entre a rua Nova do
Almada e a Padaria, e para se pôrem marcos e balizas nas covas e
declives, afim de se encherem com os desentulhos e ficar nivelado o
Terreiro do Paço com as mesmas duas ruas em beneficio da
reedificação da cidade, ordenava ao mesmo Engenheiro mor «que,
pelos officiaes que achasse mais expeditos, fizesse pôr as sobreditas
balizas com a brevidade que requeria a urgencia[12]».
São estas umas simples amostras do grande trabalho e da missão
importante que aos engenheiros militares coube na reedificação da
cidade, como lhes continua a caber no decurso dos tempos; pois que
nomes de engenheiros do exercito muito distinctos estão ligados, não
só a obras militares, mas civis, na historia do nosso país.
* * * * *
E melhor do que o poderiamos dizer, falará agora do grande papel que
Manuel da Maia teve nesse grave momento da nossa existencia social a
memoria (dissertação) que em seguida publicamos, por elle apresentada
sobre a reedificação da capital, e que pela primeira vez damos á
estampa. É dividida em tres partes: as duas primeiras conservam-se nos
papeis de José Baptista de Castro na Biblioteca Publica de Evora; a
terceira encontra-se, remettida do Archivo Militar, na Torre do Tombo.
Devia ter uma quarta parte, que o auctor deixou de escrever[13].
Damos aqui publicidade ás tres partes que pudemos felizmente reunir,
na certeza de que encontrarão o apreço e a estimação do leitor.
Ao Duque de Lafões, na sua qualidade de Regedor das Justiças, era
dirigida essa dissertação, e do conceito e apreço em que foi tida reza o
seguinte officio, cuja copia guarda a Biblioteca de Evora:
Ex.^{mo} Sr.
Agradeço muito a V. Ex.^a a atenção de partecipar-me a segunda parte
da Disertação que tem escrito sobre a renovação da cidade de Lisboa
destruida, e agora repito a V. Ex.^a o que a respeito destes papeis tenho
representado a ElRey meu Snr., porque achei que V. Ex.^a
comprehendeo com vastidão, discorreo com profundidade, e escolheo,

a meu entender, com acerto, o modo que deve seguir-se. S. Mg.^e vai
mostrando que segue o parecer de V. Ex.^a; ainda que a sua modesta
escrupulosidade o duvide, e verdadeiramente só nesta parte me não
parecem solidos os fundamentos da desconfiança de V. Ex.^a. V. Ex.^a
he um vasalo tão util, como bom compatriota, e asim se percebe no
zelo com que vigia sobre a saude publica, lembrando-se de que se deve
dar correnteza ás aguas estagnadas na Praça do Rocio e na Rua Nova
dos ferros. ElRey meu Snr. foi servido encarregarme de evitar aquele
perigo, e pela medeação dos Ministros da justiça Inspectores dos
Bairros desta Cidade, com bem ordenado trabalho, se vencerão muitas
defficuldades, e entre grandes perigos não sucedeo a menor disgraça,
achando-se desde a somana pasada esgotados completamente hum e
outro lugar. Tenho entrado a recear nos possão agora prejudicar as
muitas lamas que a cada paso se encontrão pelas ruas e o descuido que
ha, e ouve sempre, em extrahir da superficie da terra quantidade de
animaes mortos que se achão expostos: porem como esta incumbencia
me não foi recomendada poupo-me ao maior pezar que seria o que me
resultase de se poder acuzar a minha omição, o que para mim só era
sensibilisimo. D.^s G.^e a Pesoa de V. Ex.^a m.^{tos} an.^s. Cerca das
Necessidades a 5 de Março de 1756.
Ex.^{mo} Snr. Manoel da Maya.
Mais attento serv.^{or} de V. E.
Duque de Lafões[14].
Eis agora o trabalho apresentado por Manuel da Maia, e que,
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