Lyra da Mocidade | Page 4

Faustino Fonseca Júnior
legiões,
A
chuva da metralha, a boca dos canhões,
Sacrificios crueis, o jugo do
tyranno,
Esmagando o direito, o pensamento humano,
Isso tudo o
que vale! Conseguirá deter
O carro do Progresso?. . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . Tu lembras-te de ver
O mar quando revolto agita o
dorso hiruto,
N'um palpitar gigante, ameaçador e brusto
O que faz
ao navio, o mais forte que seja?
Sabes a vaga enorme que elle altivo
dardeja,
Como destroe as naus mais ricas e possantes,
As frotas que
sepulta numerosas, gigantes,
Como galga furioso anteparos muralhas.

Elle joga os rochedos como se fossem palhas,
E vae cavando
sempre e sempre transformado
A miseria, a ruina, o lodo sepultando?

Detenham-no vão por-lhe um dique, uma corrente
Para que não
avance, obstaculo potente,
Elle deve temer os fortes paredões.


Galga tudo porém!. . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . Assim as
revolucções
Por sobre a sociedade avançam triumphaes
Entre os
hymnos de amor e furias de chacaes,
Entre rios de sangue e
tremedaes de lama
Hasteando por fim libertadora flamma
Os povos
redimindo!. . . . . . . . . . . . . .
Guerrilheiro--Acto IV--Scena II
+EM VIAGEM+
Noite de lua cheia, pura brisa
Agita caprichosamente o mar
Onde o navio rapido desliza,
Dentro da superficie circular
Formada pelas aguas buliçosas
Que a abobada celeste vem ta upar.
As nuvens, em manadas caprichosas,
O vapor desafiam na carreira,
Passando em turbilhões vertiginosas.
Deffendendo o navio, precavida,
As aguas vae tingir de rubra côr,
A lanterna vermelha, suspendida,
E faz correr do flanco do vapor
Um jacto côr de sangue, qual baleia,
Ferida pela mão do trancador.
A proa corta a vaga que volteia.
Ha um arfar giganteo, convulsivo,
D'um immenso coração que bate e
anceia.
E d'aquelle organismo, forte, vivo,
Saem soluços de estridor medonho,
Saem rugidos d'um toar altivo.

Esse gigante que se ri do oceano
É creação, quasi milagre, sonho,
D'outro gigante, o pensamento
humano!
A bordo do _Funchal_,
1891
+LYRISMO+
Quizera possuir a lyra harmoniosa
Dos vates geniaes, dos reis da poesia
De Camões ou do Tasso, o
Dante ou Cimaros
A bella inspiração a doce melodia.
Para te descrever em rima caprichosa
O meu amor sem fim, ir com a moda queria,
Dedicar-te um poema e
chamar-te formoza
Tratar-te por _Marilia_ em vez do teu _Maria_.
Mas os versos por mais que faça vão errados,
Não soam nunca bem e fogem á medida,
E por isso não quero estar
com mais cuidados.
Gosto muito de ti, bem o sabes querida.
Mas não posso imitar os outros namorados
Piegas que em idilio
arrastam toda a vida.
Lisboa, 1890
+MINIATURA+
O ceo puro e sereno,
O mar auri-fulgente,
O ar tepido, ameno,
O campo sorridente,
A rama do arvoredo,

A frança dos salgueiros,
A voz do fragoedo,
Que limpidos ribeiros!
Ao fundo entre a folhagem
Beijada pela aragem
Risonha reclinada
Estavas tu, Elvira.
Eu empunhando a lyra
Cantei a minha amada.
Angra do Heroismo,
1982
+DESCRENÇA+
Trabalho. E cada dia que decorre
Vem trazer-me maior desilusão.
É mais uma esperança que me morre,

É mais um fundo golpe ao coração.
E acreditava, louco, no direito!
E cria, visionario, na honradez!
Inda abrigava puras no meu peito

Illusões que este pantano desfez!
A ganancia, a ambição, a intriga vil,
Como sapos e rãs n'um lodaçal,
Asquerosos, vão tudo macular.
Vence o ladrão, o nescio, o imbecil
Oh! Quem tivesse o rir de Juvenal,
Um raio pr'a orgia fulminar!
Lisboa, 1892
+LUAR+
Como é linda esta noite de luar!

Nos raios de fulgor phosphorecente
Vejo recordações do teu olhar!
Fico então a scismar. Mas de repente
Uma nuvem pesada, vagarosa,
Lembra-me de que estás saudosamente
Tanto longe de mim! E pesarosa
Fica minha alma a contemplar o ceo
Ennamorada, crente e desditoza.
E contudo d'iviso um sorrir teu
No puro azul d'estrellas scintillante
Onde vagueia o pensamento meu!
Tudo consola um coração amante.
A crença de que estás tambem fitando
O lindo ceo de mundos
fulgurante,
O nosso puro amor idealisando,
Isso me basta ao coração amante,
E me vae a saudade mitigando!
Lisboa, 1891
INDICE
Lyra da mocidade
Ella
O Mar
31 de Janeiro de 1891
O
Guerrilheiro
Porque te amo
A saudade
Esperança
Á memoria de
Alfredo Lopes
A Revolução
Aspirações
Os Crepes de Camões

A Bordo
Roza em Botão
Tempestade e Bonança
As Estrellas

Cemiterio
A Prostituta
Amoroso
A Caridade
As Revoluções

Em viagem
Lyrismo
Miniatura
Descrença
Luar
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Júnior

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