Lyra da Mocidade | Page 3

Faustino Fonseca Júnior
diamantinas,?Recorda-me sempre ao vel-as?Tuas gra?as peregrinas.
Que queres, pois se te n?o vejo,
Como outr'ora, na varanda?Trocando phrazes amantes?
Por isso mando-te um beijo
Na briza suave, branda,?Fitando os astros brilhantes.
Lisboa, 1891
+CEMITERIO+
No cemiterio alvejam mausol��os
De pedras rendilhadas e custosas;?Elegantes, guindados corucheos;?Epithaphios, legendas caprichosas.
Ali jazem os ricos. Nas pompozas
Inscrip??es se vae ler os nomes seus.?Em outras campas s�� se v��em rozas,?Goivos, martyrios, contemplando os ceos.
A jazida dos pobres. Trabalhando
Morreram e ali est?o alimentando?A terra onde essas fl?res se v?o nutrir.
Em quanto os outros distraidos, futeis,
Viveram ociosos, sempre inuteis,?E nem sequer d'estrume v?o servir!
Lisboa, 1891
+A PROSTITUTA+
A rua �� miseravel, suja, estreita,
Como um terrivel antro criminoso,?E d'uma porta a prostituta espreita?O transeunte lubrico, cioso.
�� repellente, quanto mais enfeita
O cabello posti?o e unctuoso.?Teve illus?es, quem sabe, hoje desfeita,?A gra?a d'esse rosto alvar oleoso,
Veio cahir n'aquelle loda?al
Onde se espoja torpe, embriagada,?At�� ir decompor-se no hospital
Se o amante que tem a desgra?ada
N?o lhe der caridoso, bestial,?O descan?o pr'a sempre �� navalhada.
Lisboa, 1891
+AMOROSO+
Eu amo-te, amo-te tanto
Talvez n?o saibas o quanto?Meu cora??o fazes pulsar;?Talvez n?o saibas, �� linda,?Como a tua gra?a infinda?Me faz viver para amar.
Amo-te a face formoza,
Amo-te a boca de roza,?Amo-te o negro cabello,?Amo-te o gesto mavioso,?O sorrir casto e bondoso,?O olhar gracioso e bello.
Adoro-te a singelleza
Que �� engaste da belleza,?Amo-te o lindo rubor?Com que te purpurizaste,?Quando tremula escutaste?As juras do nosso am?r.
Encontrei-te, o meu cora??o
Satisfez a aspira??o?E tenho um novo viver.?Acho mais bellos os prados,?Os tons do sol mais dourados,?Em tudo o amor julgo v��r.
Oh! se o teu am?r assim
F?r t?o ardente por mim,?N?o haver�� nada igual?�� pura felicidade?Dos dias da mocidade,?Ao meu risonho ideal.
Angra do Heroismo,?1890
+A CARIDADE+
I
Caridade, quem ��s! Quem te inventou?
Para que serves, quaes os meios teus,?A tua agencia, assim, quem t'a arranjou,?Para que vens fallar-nos sempre em Deus!
Em Deus! Quando o universo elle creou
Legou a alguem riquezas ou tropheos!?Quaes foram os braz?es, que bens doou??Venderia indulgencias l�� dos ceos?
Mentes, que nunca fez separa??es,
Nem fez a fome nem as priva??es,?O mundo concedeu �� h��manidade.
Mas como �� que ha ent?o ricos e pobres?
Como �� que existem os plebeus e os nobres??Que significas pois, �� caridade?
II
Rebanhos a pastarem nas campinas,
As aves a cruzarem-se no ar,?O serpear das aguas argentinas,?Os fructos a dourarem no pomar;
A pureza das auras matutinas,
Os dias que o bom sol nos vem dourar,?As flores assetinadas, purpurinas,?As poeticas noites de luar;
Os campos no sorrir da primavera,
A selva, as fragas onde vive a fera,?O universo em toda a immensidade,
Nunca foi concedido por heran?a.
Era pr'a humanidade a esperan?a?De um dia conquistar a felicidade.
III
Os maus, por��m, poderam com presteza
Empolgar o que a todos pertencia.?O sangue era direito a uns--Nobreza--?E aos d'hoje o dinheiro--A burguezia--
E foi assim que os bens da natureza,
Que o creador a todos concedia,?Se viram disputados com fereza,?Se viram empolgar com ousadia.
E appareceu a fome. Ent?o aos pobres
Os ricos atirando com uns cobres?Inventaram um Deus de caridade.
Mas haverem luctar, embora custe,
Depor de todo a Caridade-embuste.?Hastear a bandeira da Egualdade!
Lisboa, 1892
+AS REVOLU??ES+
Excerpto
. . . . . . . . . . . . . . . Um de n��s que cahir
Das entranhas da terra ha-de fazer surgir?Milhares de vingadores promptos a combater.?Pela causa da patria a quem custa morrer??O sangue vae regar a arvore bemdita?Da santa liberdade! O fogo que crepita?Aldeias a queimar, cidades e castellos,?A forca gemebunda, os gumes dos cutellos,?As algemas de ferro, as fortes legi?es,?A chuva da metralha, a boca dos canh?es,?Sacrificios crueis, o jugo do tyranno,?Esmagando o direito, o pensamento humano,?Isso tudo o que vale! Conseguir�� deter?O carro do Progresso?. . . . . . . . . . . . .?. . . . . . . . . . . . . Tu lembras-te de ver?O mar quando revolto agita o dorso hiruto,?N'um palpitar gigante, amea?ador e brusto?O que faz ao navio, o mais forte que seja??Sabes a vaga enorme que elle altivo dardeja,?Como destroe as naus mais ricas e possantes,?As frotas que sepulta numerosas, gigantes,?Como galga furioso anteparos muralhas.?Elle joga os rochedos como se fossem palhas,?E vae cavando sempre e sempre transformado?A miseria, a ruina, o lodo sepultando??Detenham-no v?o por-lhe um dique, uma corrente?Para que n?o avance, obstaculo potente,?Elle deve temer os fortes pared?es.?Galga tudo por��m!. . . . . . . . . . . . . . .?. . . . . . . . . . . . . Assim as revoluc??es?Por sobre a sociedade avan?am triumphaes?Entre os hymnos de amor e furias de chacaes,?Entre rios de sangue e tremedaes de lama?Hasteando por fim libertadora flamma?Os povos redimindo!. . . . . . . . . . . . . .
Guerrilheiro--Acto IV--Scena II
+EM VIAGEM+
Noite de lua cheia, pura brisa
Agita caprichosamente o mar?Onde o navio rapido desliza,
Dentro da superficie circular
Formada pelas aguas buli?osas?Que a abobada celeste vem ta upar.
As nuvens, em manadas caprichosas,
O vapor desafiam na carreira,?Passando em turbilh?es vertiginosas.
Deffendendo o navio, precavida,
As aguas vae tingir de rubra c?r,?A lanterna vermelha, suspendida,
E faz correr do flanco do vapor
Um jacto c?r
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