a mim?Altas montanhas d'elevados cumes.?O sol do am?r doiral-as-ha, e assim,?Vendo-o t?o alto, n?o terei ciumes.
Ciumes! Elle é que hade tel-os, quando,?Em claras noites de luar silente,?Ouvir vibrar alguma voz, cantando?Os versos que te fiz devotamente.
Versos para te ungirem os ouvidos?E os labios d'anemica e de santa,?T?o pobres, t?o ingenuos, t?o sentidos,?Que o povo humilde os acolheu e os canta.
Ent?o, se te olhar bem, logo adivinha...?Logo sombriamente se convence?De que a tua alma se fundiu na minha?--E apenas o teu corpo lhe pertence.
DE PROFUNDIS CLAMAVI AD TE DOMINE
_á Leo_
Ao charco mais escuso e mais immundo?Chega uma hora no correr do dia?Em que um raio de sol, claro e jocundo,?O visita, o alegra, o alumía;
Pois eu, nesta desgra?a em que me afundo,?Nesta contínua e intérmina agonia,?Nem tenho uma hora só dessa alegria?Que chega ás coisas infimas do mundo!...
Deus meu, acaso a roda do destino?A movimentam vossas m?os leaes?Num aceno impulsivo e repentino,
Sem que na cega turbulencia a domem?!?Senhor! N?o é um seixo o que esmagaes;?Olhae que é--_o cora??o dum homem_!...
JOANNINHA
_A Mayer Gar??o_
Descance de quando em quando...?Passar assim toda a tarde?Sempre bordando, bordando,?Sem que um momento desista,?Até faz pena! N?o lhe arde?Nem se lhe perturba a vista?...
Descance de quando em quando...?Erga os olhos do bordado?E veja quem vae passando.?O trabalho alegra a gente,?Mas assim, t?o aturado,?--N?o lhe faz bem certamente.
Erga a carinha tranquilla,?Erga esse rosto t?o lindo?E veja os mo?os da villa?A passarem por aqui,?Uns descendo, outros subindo,?--E todos d'olhos em si...
Descance de quando em quando?E veja se escolhe algum;?Já é tempo d'ir pensando?Em casar. N?o é assim?...?Se n?o lhe agrada nenhum,?--Diga se gosta de mim.
Desde os come?os do outono?Que eu a trago no sentido,?N?o como, n?o tenho sono,?Tudo me dá rala??o??Quer-me para seu marido??--Diga que sim ou que n?o...
QUANDO AS ANDORINHAS PARTIAM...
A Cassianno Neves
Bocca talhada em milagrosas linhas,?A luz augmenta com o seu falar.
Esta manh? um bando de andorinhas?Ia-se embora, atravessava o mar.
Chegou-lhes ás alturas, pela aragem,?Um adeus suave que ella lhes dissera,
--E suspenderam todas a viagem,?Julgando que voltára a primavera...
A PARáBOLA DO PUCARO D'AGUA
Acreditaram os romanticos que a arte residia principalmente na disformidade. Se atravez das proprias dores descessem ás profundas realidades da vida, teriam observado que... o viver do povo encerra em si uma poesia sagrada. Sentil-a e mostral-a n?o é tarefa de machinista; para tal, n?o é necessario juntar-lhe effeitos theatraes.
... O que é preciso é ter olhos para vêr na sombra, na pequenez e na humildade, é um cora??o que auxilie a vista nestes recessos do lar, nestas sombras de Rembrandt.
MICHELET_. _O Povo
A Manuel Penteado
Buscava em algum assunto adrede?A versos que inculcassem novidade,?Quando uma intensa e irreprimivel sêde?Me fez voltar do sonho á realidade.
E pedi agua (já se vê) que veio?Consoante é d'uzo cá por entre o povo?Num pucaro de barro ingenuo e feio,?Servindo-lhe de salva um prato c?vo.
Bebi o liquido dum trago só;?E dito o ?Deus te pague? habitual,?Subi de novo a escada de Jacob?No heroico intuito de escalar o ideal...
Mas o idealismo é como a nevoa ondeante?Que os rios erguem pela madrugada;?O olhar destingue-a, quando está distante,?E da que nos rodeia--n?o vê nada...
De que serve afinal tentar a gente?Reter, dentro das m?os, fumo de palha,?Se aqui, aos nossos olhos, no existente,?Ha tanta coisa que os attráia e valha?...
A agua vinda neste vaso fragil?Que um ignorado artista modelou?Num gesto--já mechanisado e agil--?á for?a d'imitar o que encontrou,
é um assunto cheio de belleza,?Cheio de claro e alto ensinamento.?Assim na branda fala portuguêsa?O désse eu, como o tenho em pensamento!...
A agua é como a esp'ran?a?Que a tudo se sujeita...?Onde quer que se deita?Lá fica humildemente acommodada,?Seja a concha da m?o duma crean?a,?Ou a ta?a lendaria da ballada...
Tanto sacia?Num vaso tyrrêno dos da antiga Roma?(Que um só valia?O rútilo oiro d'avaro banqueiro)?Como a que se toma?Na argilla porosa,?Alegre trabalho dum simples oleiro...
E é?Até?Bem mais saborosa?No barro suarento?Deixado á janella,?Que num opulento?Copo lavrado?Que seja perten?a de rica baixella?E sonho gentil, cinzel phantasista?Dalgum grande artista?Dos raros d'agora, ou do tempo afastado...
Bichos humanos, féras em pé,?Sêde bondosos como a agua o é...
No luzente alcantil da magnitude,?Ou no áspero declive da pobreza,?Nunca cerreis o espirito á virtude,?Nunca fecheis os olhos á belleza.?Que todo o cora??o,?Desde o sabio de genio ao cavador,?Seja o Calix de paz e de perd?o?Contendo a agua limpida e lustral?Dum irmanado e perpetuo am?r...
Agua que limpe a mácula do mal?E mitigue a miseria, a ancia, a magua?Desta cruenta e impiedosa guerra?Em que tantas creaturas se consomem.
Nem só da agua?Que vem da terra?Tem sêde o homem...
Nasce uma fonte?Rumurejante?Na encosta dum monte;
E mal que do seio?Da terra brotou,?Logo o seu veio?Transparente?E diligente?Buscou e achou?Mais baixo logar...
E sempre descendo,?E sempre a cantar,?Vae andando,?Galgando,?Vencendo,?(Ou tenta vencer...)?Folha, raíz, areia, o que tolher?A sua descida...
Ao brotar da dura frágoa?--é uma lagrima d'agua...
Mas esse humilde fiozinho,?Que um destino bom impelle,?Encontra pelo caminho?Um outro que é como elle...
Reunem-se, fundem-se os dois,?Proseguem de companhia,?E fica dupla depois?A for?a que
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