Improvisos de Bocage | Page 3

Manuel Maria de Barbosa du Bocage
do Téjo undoso,?Pungidas de alta dor, vagueis insanas:?Croai-vos de floridas espadanas,?Ou de grinaldas de coral ramoso.
Já n?o rechin?o do arco sanguinoso?D'atroz Doen?a as séttas inhumanas?Contra o Cysne que as ondas Tagitanas?Enfrêa com o Carmen portentoso.
Serpes da Inveja, Serpes agoireiras,?Emmudecei, que a válida Saude?Assoma, entre Esperan?as lisonjeiras.
Vem, bella Deosa, ao Vate Elmano acude,?Que eu grato forjarei nestas Ribeiras?Hymnos, batidos na Thebana incude.
_Pelo Bacharel Domingos Maximiano Torres._
+SONETO XIII.+
Se as arduas Leis da s?a Filosofia?Sacra Egíde n?o s?o contra a Desgra?a,?Ent?o em que desdiz a humana Ra?a?Das outras, que Raz?o n?o alumia?
Seus venenos distille a Tyrannia,?Raivoso o Fado em raios se desfa?a:?Alma, que o lume da Raz?o repassa,?Sórve tranquilla o néctar d'Alegria.
Quando a Ventura ao pensamento acóde,?E n?o próva revezes o Desejo,?Embates d'Affli??o qualquer sacóde.
Aos males na constancia ser sobejo?A poucos dado foi; Elmano o póde:?Dá, que hum novo troféo gloríe o Téjo.
_Moniz._
_Ao Senhor Manoel Maria de Barbosa du Bocage, em resposta ao Soneto pag. 6., pelos mesmos coasoantes._
+SONETO XIV.+
Em teu Genio s'inflamma fogo intenso,?Brilhante emana??o d'um Deos, d'um Ente,?Que as Estrellas, a Lua, o Sol ridente?N'um dia fez surgir do Cháos denso:
Teu extasis t'eleva a Espa?o immenso,?Sentes impulsos, que o Mortal n?o sente;?Eis lúcido clar?o te abraza a mente,?E o Ser encaras, por quem vivo, e penso.
Pasmado, abs?rto no fulgor Divino,?Repassado de atónito desmaio,?Ant'o Solio do Eterno t'imagino:
Acordas, e do Canto em novo ensaio?Dos Athêos aviltando o desatino,?Louvas hum Deos, e tremes do seu raio.
_Por J. A. Soares._
_Ao senhor Jo?o Pedro Maneschi, por occasi?o do incendio em que perdeo todos os seus bens._
+SONETO XV.+
Nos puros Lares teus assoma, irado,?Vulcano em ondas de indomavel chamma;?Impetuoso cresce, horrivel brama:?Parece accezo pela m?o do Fado!
Em ferventes vorágens desmandado,?Tudo afêa, ennegrece, abraza, inflamma,?E em cinza inutil, súbito, derrama?Teus merecidos bens, Manéschi honrado.
Mas tu dessa fatal, visivel Péste,?Dessa, do Inferno imagem devorante,?O damno, estrago, horror baldar pudéste.
Rico de huma Alma singular, constante,?Tens, tens tudo: Amizade, que te préste,?Dó, que te chóre, e Musa, que te cante.
A composi?o deste Soneto he anterior á minha molestia, mas a Gratid?o me ordena p?-lo aqui.
_A huma Donzella de estremada Belleza, de rara Virtude, e morta na flor dos annos._
+SONETO XVI.+
De Homens, e Numes suspirado Encanto,?Lilia, innocente como virgem Rósa,?Lilia, mais branda, Lilia, mais formósa?Que a Nynfa ethérea, de puníceo manto:
Eu, e os Amores (que perdêr?o tanto)?Damos-te ás cinzas obla??o mimósa:?Curva goteje minha Dor saudósa?Na molle offrenda, que requer meu pranto.
Em teu sagrado, perennal Retiro?Disponho, ao som de languidas querélas,?A rosa, o cravo, a túlipa, o suspiro.
Medrai no ch?o de Amor, florinhas béllas...?Ah Lilia! Eu gózo o Ceo!... Lilia! Eu respiro?Tua alma pura na fragrancia déllas!
Pedio-mo Pess?a, que virtuosamente a amava; e a mágoa do assumpto, apurada na tristeza da minha situa??o, deo hum Soneto, que talvez penhore os cora??es ternos.
_Na gravissima enfermidade do Senhor Manoel Maria de Barbosa du Bocage._
+SONETO XVII.+
Elmano! Elmano! Os que te ouvír?o rindo,?Penhas, e Montes, que teu Metro al?ava,?Clamar faz hoje a D?r, que em pranto os lava,?E, mais que todos, o Permesso, e Pindo.
Bosques, Paizagens, que teu verso lindo?Em dobro enriquecêo, teu mal aggrava:?Chor?o-te Gra?as, Nynfas, que elle honrava,?O niveo rosto com as m?os cobrindo.
Inda, Cysne do Téjo, inda teu Canto,?Bem que rouco, s'escuta; e em desconsolo?Já das Musas te chora o C?ro santo.
Quando n?o ergas o mellífluo collo,?Quem restará chorar-te? Hum Deos em pranto?Se ha de ent?o vêr, chorando o mesmo Apollo.
_Por Thomaz Antonio dos Santos, e Silva._
_Em resposta ao antecedente: Elmano a Tomino._
+SONETO XVIII.+
Vapor doirando, que me afuma os Lares,?(Porque a Morte os bafeja de contino)?S?lto de ti relampago divino,?[25] Milton de Lysia, alumiou meus ares.
O bem d'ouvir-te, o bem de me chorares?Quasi que irmana desigual Destino:??Tu de assombros Cantor, (Fébo, ou Tomino)??Eu Ave, eu órg?o de pavor, de azares.?
Níveo matiz d'auriferas arêas [26],?Cysne qual Jove outr'ora [27], e que no alado?Extasi aos Céos a melodia altêas!
Vóz, de que adóro o cantico sagrado,?Vóz, que a dor minha, o Fado meu prantêas!?Dá-me teus sons, e cantarei meu Fado. [28]
[25] Pelo estro, e pela cegueira.
[26] As do Téjo.
[27] Quando se tornou Cysne por Leda.
[28] Porque ent?o a gloria compensa-me a fortuna.
Apesar do que digo a pag. 10, sempre tive occasi?o de honrar o meu insigne Compatriota.
+SONETO XIX.+
Genio mordaz, que o Mérito golpêa,?Nadando em ondas de sulfúrea chamma,?Leva de r?jo a Musa que do Gama?Cantou prodigios mil, de gloria chêa.
Sem luz o Triste, e s?frego da alhêa,?Raz?es fallaces imagina, e trama;?Porém, risonha, n?o desmaia a Fama?Q'entre os Luzeiros immortaes vaguêa:
N?o eu assim, que, atónito, e curvado,?Teus sons adóro, magestoso Elmano,?Pelos Sal?es Febêos extasiado!
Vate, crédor do Século Romano!?Digno Daquelle, a cuja sombra, e lado?Cantava outr'ora o Cysne Mantuano!
_Por D. Gast?o Fausto da Camara Coutinho._
+SONETO XX.+
Se na que, mórna, e lúgubre, murmura,?Corrente Avérna, como as sombras densa,?Dér quéda enórme a s?frega Doen?a?Que á vida quer sorver-me a fonte impura:
De eleitos Vegetaes sagaz mistura?N?o foi rígido est?rvo á Morte infensa:?Só póde aos olhos meus Virtude immensa?A do Horror ferrolhar Morada
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 7
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.