Elmano;?Os que a Ternura unio desune a Morte.
+SONETO VI.+
Dura Filosofia audaz forceja?Por dar-me essencia nova ao pensamento;?De bronze diz que forre o soffrimento,?E em brazas, como em flores, manso esteja:
Diz, que, ó Leis de Zen?n [21], por vós me reja;?Que sabe do alto Systema alto Portento:??Os org?os vivem, morre o sentimento,??E mudo, e frio, o cora??o caleja.?
Mas ah! Mais sabio que Zen?n o Eterno,?Fonte ás lágrimds deo, deo fonte ao riso:?Co'a Lei das sensa??es meu ser govérno.
Se eu folgasse entre o mal que em mim diviso,?Na mente ousára unir o horror do Inférno?Aos Sóes, de que se esmalta o Paraiso.
[21] Discipulo de Crates, e Fundador do Estoicismso, ou Seita dos Estóicos. Quando o Homem crê visinhar com o seu Nada, (o Nada Universal) as sombras, em que o envolvem, o abaf?o as suas paix?es, se rarefazem, e esvaecem aos lumes da Justi?a, e do Desengano: ou já lhe bróte sobrenaturalmente n'alma este fenómeno, ou já porque, evaporado o amor proprio, attente mais nos outros que em si. Eu, talvez nesse estado, ou n?o longe delle, confesso ingenuamente, que, pela suavidade, e apuro do métro (nas composi??es lavradas com mais desvélo, e mais gosto) pelas flores, pelos esmaltes Poéticos de que as ameniza, e formosêa, (em especial as Báchicas) Belmiro está mui sobranceiro aos Engenhos vulgares. A Raz?o me pede, que lhe honre o mêrito; e o Cora??o, que lhe releve a, talvez, injusti?a, com que trabalhou remover-me de hum gráo, havido da Voz pública.
+SONETO VII.+
Agora que a seu l?brego Retiro?Como que a ba?a Morte me encaminha,?E o cora??o, que as ancias lhe adivinha,?Débil se ensaia no final suspiro:
Musa de Elmano, e Musa de Belmiro,?Una-se a gloria sua á gloria minha:?Meu nome aguarentou com voz mesquinha,?Eu justo ao seu n?o fui, e a sê-lo aspiro.
Nem tu me esquecerás, Gast?o cadente [22],?Lustroso apar do mim, quando de chófre?Igneas can??es brotei, c'um Deos na mente.
Abri, Verdade, abri teu áureo cófre:?Isto Elmano extrahio co'a m?o tremente?No sério ponto que illus?es n?o sóffre.
[22] Se a locu??o, a fantasia, e o rhythmo caracteriz?o a mente Poética, aponto D. Gast?o Coutinho como dorade com estes thesoiros do Espirito. N?o s?a, como devêra, (e altamente) o louvor de Thomas Antonio dos Santos, e Silva nos meus talvez ultimos versos, porque em outros, de mon??o mais Febéa, e já divulgados, lhe teci elogios, em que a fraterna amizade, que de muito nos liga, nada proferio avêsso á justi?a, e ao tom circunspecto do Discernimento.
+SONETO VIII.+
N?o mais, ó Tejo meu, formoso, e brando,?á márgem, fértil de gentis verdores,?Terás d'alta Ulysséa hum dos Cantores,?[23] Suspiros no áureo metro modulando.
Rindo n?o mais verá, n?o mais brincando?Por entre as Nynfas, e por entre as Flores?O C?ro divinal dos nús Amores,?Dos Zéfyros azues o affavel Bando.
Co'a fronte já sem myrto, e já sem loiro,?O arrebata de r?jo a m?o da Sórte?Ao Clima salutar, e á márgem de oiro.
Ei-lo em Fragas de horror, sem luz, sem nórte;?S?a daqui, dalli piado Agoiro:?Sois vós, Desterro etérno, Ermos da Mórte!
[23] _Carmina Pastoris Siculi modulabor avena._
Virgil. Eclog. 10.
+SONETO IX.+
Nestóreos Dias, que sonhava Elmano,?Brilhantes de almos gostos, de aurea Sorte,?Pomposa Fantasia, audaz Transporte,?As azas cerceai do Orgulho insano.
Plano de hum Numen contradiz meu plano,?E quer que se esvae?a, e quer que abórte:?Eis, eis palpita, precursor da Mórte,?No túmido aneurisma o Desengano.
A Deos, ó Génios que Ulysséa admira:?(Cantor, que honrastes, honrareis, Cantores)?Versos, prantos lhe dai, que Elmano expira.
Deixai-lhe a cinza em paz, fataes Amores;?E vós, do extincto Vate a Campa, e Lyra,?[24] Virtudes, que exaltou, cobri de flores.
[24] Beneficencia, e Piedade, celebradas no Epicedio ao Marquez d'Angeja.
_Ao Senhor Nuno Alvares Pereira Moniz._
+SONETO X.+
Co'a mente juvenil, sublime, alada?Sabes da térrea Mans?o, Mans?o profana;?Introduzes, Moniz, a idéa ufana?Lá na de Sóes sem conto Estancia ornada.
Já, de Lysia cantando a Historia honrada,?S?as qual Grega Musa, ou qual Romana;?Já, medrando nos Céos a for?a humana,?Teu Metro creador faz Ente o Nada.
Nove Deosas lou??as, tres Deosas nuas?Te abrem thesoiros: cada qual te admira?No verso gra?as mil, que f?r?o suas.
Assás luzio teu Estro: a mais aspira;?E estranho n?o será que substituas?A tuba de Mar?o de Flacco á Lyra.
Quero (se meus dias findarem) deixar huma prova do muito em que tive, do muito que merecem os talentos de hum dos meus mais caros Amigos.
_Ao súbito desastre de hum Poeta amado da Na??o._
+SONETO XI.+
Cantor, que a fronte erguia engrinaldada?Comvosco, Idálias cr?as: myrto, e rósas,?Que vio por m?o das Tágides formósas?De alj?fares a Lyra, e de oiro ornada;
Mente, de ethéreos Dons abrilhantada,?Que, s?lta em produc??es lou??as, pompósas,?Surgio, voou com azas luminósas?Ante o Bando que vai de r?jo ao Nada;
Estro, opulento do Febêo Thesoiro,?(Já dos épicos Sons talvez no ensaio)?Ouvio sahir das trévas triste agoiro.
Seu Fado o fulminou, bateo-lhe o raio?á Sombra tua... ai dor! Lá mesmo, ó Loiro:?Chorai-o, Amores, Tágides, chorai-o.
De Author anónymo; porém que he facil conhecer pelo estilo.
_Votos pelo restabelescimento da saude de Bocage._
+SONETO XII.+
N?o mais, Nynfas gentis
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