côrte um escarceu
Que brame da vingança nos
escolhos
D'altas vagas de bronze nos refolhos
Poz a Intriga um galeão como
trofeu
A effigie de Pombal tinha em labeu
Jaz na poeira, no olvido,
e nos abrolhos.
Então a Inveja alastra a baba escura
Qual serpente, que as roscas
ennovela
E a empreza do ministro transfigura.
Entretanto o Marquez com amargura
Diz fitando a grosseira caravella:
--_Lá te vaes Portugal agora á véla._--
*Abandonado!*
Uma fita prendi côr de saphira
No leve, tenue pé d'uma andorinha;
Este anno regressou a pobresinha
E junto ao ninho seu constante gira.
Quando o sol no horisonte se retira
Esvoaça em redor de mim sósinha;
Tambem esta alma, soffrega, mesquinha
Por ti enfeitiçada geme,
expira.
Ella na espuma branca, qual arminho
Foge no mar á raiva dos açores
Não perdendo a lembrança do seu ninho
Só tu na primavera dos amores,
Como vibora occulta em rosmaninho,
De mim te olvidas na estação das flôres.
*Garibaldi*
(Fallecido a 1 de junho de 1882.)
É morto o _condottiere_, o paladino
Soldado da rasão e da justiça
Forasteiro, que o sangue desperdiça
Nas refregas do tragico destino.
Genio do bem, suave e peregrino
Estatua de luz e amor toda massiça
A cujo aspecto a multidao submissa
Se agrupa em alvoroço
repentino,
Guerrilheiro da America indomavel
Espada de Dijon, e da Marsalla,
De Napoles e Roma inconsolavel!
O solitario de Caprera é morto,
E, quando o heroe no tumulo resvala,
Um calafrio gela o mundo absorto.
*Imprecação*
Para que te amava eu? Corpo d'espuma
Cruel enlevo de labios
setinosos
Onde bailam desejos luminosos
Estrella, que de luz o ceu
perfuma.
Para que te amava eu? Que densa bruma
Me offusca de saudade em
tons nervosos
Desfolhando com gritos lacrimosos
As petalas d'amôr
uma por uma?
Para que te amava eu? oh! praza aos ceus
Que em quanto o sol girar
pelo universo
Naufragues da paixão nos escarceus.
E porque soffro na tristeza immerso,
Pallido goivo ao pé dos
mausoleus,
Oxalá que o amôr te seja adverso!
*O terremoto*
Com fragor açoitando a vaga escura,
O temporal irado, espumacento
Cavalga um perfido corcel--o vento--
Que solta gargalhadas de
bravura.
Treme a terra, e com horrida figura,
Como Athlante, sacóde o turvo
argento;
Nos gonzos oscillando o pavimento,
Dançam torres no
assomo da loucura.
Vae o fogo alastrando o aureo manto,
As ruinas trucidam fugitivos,
Que sangrentos se abraçam convulsivos!
--O que fazer?--inquire o rei em pranto,
O ministro lhe diz com nobre
espanto:
--_Sepultar mortos, e cuidar dos vivos._--
*Entre palmeiras*
Faiscam os jaezes dos Cavallos,
Vibra o som dos clarins pela
athmosphera;
No dorso de elephantes reverbéra
A seda e prata em
crebros intervallos.
Rodeado de innumeros vassallos
Intrepido radjah de côr austera
Busca o tigre e leão, onça e panthera
Crusando as selvas, e galgando
os vallos.
No cerrado paul ondula a brenha
E um leão de medonha, hirsuta juba
Em furioso valor se desentranha.
A raiva dos lebreus o estimula,
Os dardos o trespassam, mas derruba
O radjah, que nas vascas estrangula.
*Nostalgia*
Nos estuarios alpestres do Brasil,
Onde o sol inflammado resplandece,
A cabilda dos negros desfallece
Sob o látego torpe e mercantil.
Nas areias matisa-se febril
O ouro virgem, e no spatho permanece
O diamante, que arisco se aborrece
Entre o cascalho estupido,
imbecil.
O escravo, quando avista um diamante
De dezesete _carats_ quebra
fôrro
As algemas sorrindo triumphante.
Que me valeu porém o descobrir-te
Diamante sem rival?--Suspiro e
môrro
A teus pés almejando possuir-te.
*No confissionario*
D'um frade libidino e bronzeado
Ortego desenhou o rosto bento,
Grave ausculta no sexto mandamento
Uma joven do seculo passado;
Fascinada respira o ar mesclado
Das lascivas perguntas de convento,
Que se aproveitam do veloz momento
Galopando na senda do
peccado.
A pobre flôr arqueja palpitante
Sob esse olhar, que vae como despil-a
Mystico, corrompido e triumphante.
E na cruz soffredor, agonisante,
Mudo Christo de velha e tosca argila
Pasma da habilidade do farçante!
*Boletim militar*
_1814_
Vae rir-se desdenhosa a sombra de _Pombal_!
Era doida a rainha. O
principe regente
Ostentando gentil a bochêcha eloquente
Tinha bom
appetite e ventre clerical,
Mas logo que Junot açaima Portugal
Embarca a toda a pressa e deixa
a nossa gente,
Panda véla o conduz ao Brasil florescente,
E rapido
imagina um plano theatral.
Veloz como no monte a trepida gazella,
É certo resguardava a
insipida pessoa
Adiposa e feliz para cingir a c'rôa,
E da nação em prol tão lorpa se revela,
Que nomeia coronel do
exercito á cautela
O Santo Thaumaturgo Antonio de Lisboa.
*Taborda*
Taborda, altivo heroe da gargalhada,
Que dominas no palco com
bravura,
Quando vier sobre ti a morte escura,
Hade sentir-se
humilde, deslumbrada.
E rindo a vez primeira enthusiasmada,
Desfranzindo a medonha
catadura,
Ao vêr-te e ouvir-te em alegria pura,
Despedaça a féra
clava ensanguentada.
Como subjugas cauto a morte ingrata,
Vences tambem risonho a
dúctil alma
D'esta multidão gélida, pacata.
E Satan abysmado diz em calma:
--Sim?!... Mais almas do que eu elle
arrebata?
Já Diabo não sou!... Leva-me a palma.--
*Antonio Pedro*
Antonio Pedro, astro fulgurante
Que cruzas do tablado a vasta senda
Como guerreiro impavido da lenda,
Que, em busca de proesas,
vaga errante.
Eil o cingindo as armas de diamante!
Sem que o cansaço, ou vil
temor o prenda,
Cada vez mais se engolfa na contenda,
Em prol da
esquiva fama alti-sonante.
Quando o veu do futuro descortino
No alcáçar da justiça, que rebrilha
Sabeis o que descubro, e vaticino?
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