Frei Luiz de Sousa | Page 8

Almeida Garrett
sen?o os das m��s ac??es que fazemos. Que tens tu na consciencia que t'os fa?a temer? O teu cora??o e as tuas m?os est?o puras: para os que andam deante de Deus, a terra n?o tem sustos, nem o inferno pavores que se lhes attrevam. Rezaremos por alma de D. Jo?o de Portugal n'essa devota capella que �� parte da sua casa; e n?o hajas m��do que nos venha perseguir n'este mundo aquella sancta alma que est�� no ceu, e que em tam sancta batalha, pelejando por seu Deus e por seu rei, acabou martyr ��s m?os dos infieis.--Vamos, D. Magdalena de Vilhena, lembrae-vos de quem sois e de quem vindes, senhora... e n?o me tires, querida mulher, com vans chymeras de crian?as, a tranquillidade do espirito e a f?r?a do cora??o, que as preciso inteiras n'esta hora.
*Magdalena*. Pois que vais tu fazer?
*Manuel*. Vou, ja te disse, vou dar uma lic??o aos nossos tyrannos que lhes hade lembrar, vou dar um exemplo a este povo que o hade allumiar...
SCENA IX
MANUEL DE SOUSA, MAGDALENA, TELMO, MIRANDA e outros criados, _entrando apressadamente_.
*Telmo*. Senhor, desimbarcaram agora grande comitiva de fidalgos, escudeiros e soldados que veem de Lisboa e sobem a incosta para a villa. O arcebispo n?o �� decerto, ja ca est�� ha muito no convento: diz-se por ahi...
*Manuel*. Que s?o os governadores? (Telmo faz um signal affirmativo.) Quizeram-me inganar, e appressam-se a vir hoje... parece que adivinharam... Mas n?o me colheram desapercebido. (_Chama �� porta da esquerda) Jorge, Maria! (Volta para a scena_) Magdalena, ja, ja sem mais demora.
SCENA X
MANUEL DE SOUSA, MAGDALENA, TELMO, MIRANDA e os outros criados; JORGE e MARIA entrando.
*Manuel*. Jorge, acompanha ��stas damas. Telmo, ide, ide com ellas.--(Para os outros criados) Partiu ja tudo, as arcas, os meus cavallos, armas e tudo o mais?
*Miranda*. Quasi tudo foi ja; o pouco que falta est�� prompto e sahir�� n'um instante... pela porta detr��s, se quereis.
*Manuel*. Bom; que s��ia. (A um signal de Miranda sahem dois criados.) Magdalena, Maria, n?o vos quero ver aqui mais. Ja, ide; serei comvosco em pouco tempo.
SCENA XI
MANUEL DE SOUSA, MIRANDA e os outros criados.
*Manuel*. Meu pae morreu desastrosamente cahindo s?bre a sua propria espada; quem sabe se eu morrerei nas chammas ateadas por minhas m?os? Seja. Mas fique-se aprendendo em Portugal como um homem de honra e cora??o, por mais poderosa que seja a tyrannia, sempre lhe p��de resistir, em perdendo o amor a coisas tam vis e precarias como s?o esses haveres que duas faiscas destroem n'um momento... como �� ��sta vida miseravel que um s?pro p��de apagar em menos tempo ainda! (_Arrebata duas tochas das m?os dos criados, corre �� porta da esquerda, atira com uma para dentro: e ve-se atear logo uma lavareda immensa. Vai ao fundo, atira a outra tocha; e succede o mesmo. Ouve-se alarido de f��ra_.)
SCENA XII
MANUEL-DE-SOUSA e criados: MAGDALENA, MARIA, TELMO E JORGE accudindo.
*Magdalena*. Que fazes?... que fizeste?--Que �� isto, oh meu Deus!
*Manuel*, tranquillamente. Illumino a minha casa para receber os muito poderosos e excelentes senhores governadores d'estes reinos. Suas excellencias podem vir quando quizerem.
*Magdalena*. Meu Deus, meu Deus!... Ai, e o retratto de meu marido!... Salvem-me aquelle retratto.
(_Miranda e outro criado v?o para tirar o painel; uma columna de fogo salta nas tape?arias e os afugenta_.)
*Manuel*. Parti, parti. As materias inflammaveis que eu tinha disposto v?o-se ateando com espantosa velocidade. Fugi.
*Magdadena*, cingindo-se ao bra?o do marido. Sim, sim, fujamos.
*Maria*, tomando-o do outro bra?o. Meu pae, n��s n?o fugimos sem v��s.
(Redobram os gritos de f��ra, ouve-se rebate de sinos; cai o panno.)

ACTO SEGUNDO
_�� no palacio que f?ra de D. Jo?o de Portugal, em Almada: sal?o antigo de g?sto melancholico e pesado, com grandes retrattos de familia, muitos de corpo inteiro, bispos, donnas, cavalleiros, monges; est?o em logar mais conspicuo, no fundo, o d'elrei D, Sebasti?o, o de Cam?es e o de D. Jo?o de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos condes de Vimioso. S?o as antigas da casa de Bragan?a, uma aspa vermelha s?bre campo de prata com cinco escudos do reino, um no meio e os quatro nos quatros extremos da aspa; em cada bra?o e entre os dois escudos uma cruz floreteada, tudo do modo que trazem actualmente os duques de Cadaval; s?bre o escudo coroa de conde. No fundo um reposteiro muito maior e com as mesmas armas cobre as portadas da tribuna que deita s?bre a capella da Senhora da Piedade na egreja de San'Paulo dos dominicos d'Almada_.
SCENA I
MARIA e TELMO
*Maria*, _sahindo pela porta da esquerda e trazendo pela m?o a Telmo, que parece vir de pouca vontade_. Vinde, n?o fa?aes bulha, que minha m?e ainda dorme. Aqui, aqui n'esta sala �� que quero conversar. E n?o teimes, Telmo, que fiz ten??o e acabou-se.
*Telmo*. Menina!...
*Maria*. ?Menina e m??a me levaram
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