Frei Luiz de Sousa | Page 6

Almeida Garrett
valem as vidas d'elles? Em pestes e desgra?as assim, eu intendia, se govern��sse, que o servi?o de Deus e do rei me mandava ficar, at�� �� ��ltima, onde a miseria fosse mais e o perigo maior, para attender com remedio e amparo aos necessitados.--Pois, rei n?o quer dizer pae commum de todos?
*Jorge*. A minha donzella Theodora!--Assim ��, filha; mas o mundo �� d'outro modo: que lhe faremos?
*Maria*. Emend��-lo.
*Jorge*, para Magdalena, baixo. Sabeis que mais? Tenho medo d'esta crian?a.
*Magdalena*, do mesmo modo. Tambem eu.
*Jorge*, alto. Mas emfim, resolveram sahir: e sabereis mais que, para c?rte e ?buen-retiro? dos nossos cinco reis, os senhores governadores de Portugal por D. Filippe de Castella que Deus guarde, foi escolhida ��sta nossa boa villa d'Almada, que o deveu �� fama de suas aguas sadias, ares lavados e graciosa vista.
*Magdalena*. Deix��-los vir.
*Jorge*. Assim ��: que remedio! Mas ouvi o resto. O nosso pobre convento de San'Paulo tem de hospedar o senhor arcebispo D. Miguel de Castro, presidente do gov��rno.--Bom prelado �� elle; e, se n?o fosse que nos tira do humilde soc��go de nossa vida, por vir como senhor e principe secular... o mais, paciencia. Peior �� o vosso caso...
*Magdalena*. O meu!
*Jorge*. O vosso e de Manuel de Sousa: porque os outros quatro governadores--e aqui est�� o que me mandaram dizer em muito segr��do de Lisboa--dizem que querem vir para ��sta casa, e p?r aqui aposentadoria.
*Maria*, com vivacidade. Fechamos-lhes as portas. Mett��mos a nossa gente dentro--o ter?o de meu pae tem mais de seiscentos homens--e defend��mo'-nos. Pois n?o �� uma tyrannia?...--E hade ser bonito!... Tom��ra eu ver seja o que for que se pare?a com uma batalha!
*Jorge*. Louquinha!
*Magdalena*. Mas que mal fizemos n��s ao conde de Sabugal e aos outros governadores, para nos fazerem esse desacato? N?o ha por ahi outras casas; e elles n?o sabem que n'esta ha senhoras, uma familia... e que estou eu aqui?...
*Maria*, que esteve com o ouvido inclinado para a janella. �� a voz de meu pae! Meu pae que chegou.
*Magdalena*, sobresaltada. N?o oi?o nada.
*Jorge*. Nem eu, Maria.
*Maria*. Pois oi?o eu muito claro. �� meu pae que ahi vem... e vem affrontado!
SCENA VI
JORGE, MAGDALENA, MARIA, MIRANDA
*Miranda*. Meu senhor chegou: vi agora d'aquelle alto entrar um bergantim que �� por f?r?a o nosso. Estaveis com cuidado; e era para isso, que ja vai a cerrar-se a noite... Vim trazer-vos depressa a not��cia.
*Magdalena*. Obrigada, Miranda.--�� extraordinaria ��sta crian?a; ve e ouve em taes distancias...
(Maria tem sahido para o eirado, mas volta logo depois.)
*Jorge*. �� verdade. (�� parte) Terrivel signal n'aquelles annos e com aquella complei??o!
SCENA VII
JORGE, MAGDALENA, MARIA, MIRANDA, MANUEL DE SOUSA _entrando com varios criados que o seguem--alguns com brand?es accesos.--�� noite fechada_.
*Manuel*, parando juncto da porta, para os criados. Fa?am o que lhes disse. Ja, sem mais deten?a! N?o apaguem esses brand?es; incostem-n'os ahi f��ra no patim. E tudo o mais que eu mandei.--(Vindo ao proscenio) Magdalena! Minha querida filha, minha Maria! (Abra?a-as) Jorge, ainda bem que aqui est��s, preciso de ti: bem sei que �� tarde e que s?o horas conventuaes; mas eu irei depois comtigo dizer a ?mea culpa? e o ?peccavi? ao nosso bom prior.--Miranda, vinde ca. (_Vai com elle �� porta da esquerda, depois ��s do eirado, e d��-lhe algumas ordens baixo_.)
*Magdalena*. Que tens tu? nunca entraste em casa assim. Tens coisa que te d�� cuidado... e n?o m'o dizes? O que ��?
*Manuel*. �� que... Senta-te, Magdalena; aqui aop�� de mim, Maria; Jorge, sentemo'-nos que estou can?ado. (Sentam-se todos) Pois agora sabei as novidades, que seriam extranhas se n?o fosse o tempo em que viv��mos. (Pausa) �� preciso sahir ja d'esta casa, Magdalena.
*Maria*. Ah! inda bem, meu pae!
*Manuel*. Inda mal! mas n?o ha outro remedio. Sahiremos ��sta noite mesma. Ja dei ordens a toda a familia: Teimo foi avisar as tuas aias do que haviam de fazer, e l�� anda pelas cameras velando n'esse cuidado. Sempre �� bom que vas dar um relance d'olhos ao que por l�� se faz: eu tambem irei por minha parte.--Mas temos tempo: isto s?o oito horas, �� meia noite v?o quatro; d'aqui l�� o pouco que me importa salvar estar�� salvo... e elles n?o vir?o antes da manhan.
*Magdalena*. Ent?o sempre �� verdade que Luiz de Moura e os outros governadores?...
*Manuel*. Luiz de Moura �� um vill?o ruim, faz como quem ��: o arcebispo ��... o que os outros querem que elle seja. Mas o conde de Sabugal, o conde de Sancta-Cruz, que deviam olhar por quem s?o, e que tomaram este incargo odioso... e vil, de opprimir os seus naturaes em nome de um rei extrangeiro!... Oh que gente, que fidalgos portuguezes!... Heide-lhes dar uma lic??o, a elles, e a este escravo d'este povo que os soffre, como n?o levam tyrannos ha muito tempo n'esta terra.
*Maria*. O meu nobre pae! Oh, o meu querido pae! Sim, sim, mostrae-lhes quem sois e
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