Frei Luiz de Sousa | Page 5

Almeida Garrett
se afflige, chora... ella ahi est�� a chorar... ella ahi est�� a chorar... (_vai-se abra?ar com a m?e que chora_) Minha querida m?e, ora pois ent?o!--Vai-te embora, Telmo, vai-te: n?o quero mais fallar, nem ouvir fallar de tal batalha, nem de taes hist��rias, nem de coisa nenhuma d'essas.--Minha querida m?e!
*Telmo*. E �� assim: n?o se falla mais n'isso. E eu vou-me embora. (_�� parte, indo-se depois de lhe tomar as m?os_) Que febre que ella tem hoje, meu Deus! queimam-lhe as m?os... e aquellas rosetas nas faces... Se o perceber�� a pobre da m?e!
SCENA IV
MAGDALENA, MARIA
*Maria*. Quereis v��s saber, m?e, uma tristeza muito grande que eu tenho?--A m?e ja n?o chora, n?o? ja se n?o infada commigo?
*Magdalena*. N?o me infado comtigo nunca, filha; e nunca me affliges, querida. O que tenho �� o cuidado que me d��s, �� o receio de que...
*Maria*. Pois ahi est�� a minha tristeza: �� esse cuidado em que vos vejo andar sempre por minha causa. Eu n?o tenho nada; e tenho saude, olhae que tenho muita saude.
*Magdalena*. Tens, filha... se Deus quizer, hasde ter; e hasde viver muitos annos para consola??o e amparo de teus paes que tanto te querem.
*Maria*. Pois olhae: passo noites inteiras em claro a lidar n'isto, e a lembrar-me de quantas palavras vos tenho ouvido, e a meu pae... e a recordar-me da mais pequena ac??o e gesto,--e a pensar em tudo, a ver se descubro o que isto ��--o porque tendo-me tanto amor... que, oh isso nunca houve decerto filha querida como eu!...
*Magdalena*. N?o, Maria.
*Maria*. Pois sim; tendo-me tanto amor, que nunca houve outro egual, estaes sempre n'um sobresalto commigo?...
*Magdalena*. Pois se te estremec��mos?
*Maria*. N?o �� isso, n?o �� isso: �� que vos tenho lido nos olhos... Oh, que eu leio nos olhos, leio, leio!... e nas estr��llas do ceu tambem--e sei coisas...
*Magdalena*. Que est��s a dizer, filha, que est��s a dizer? que desvarios! Uma menina do teu juizo, temente a Deus... n?o te quero ouvir fallar assim.--Ora vamos: anda ca, Maria, conta-me do teu jardim, das tuas flores. Que flores tens tu agora? O que s?o ��stas? (_pegando nas que ella traz na m?o_)
*Maria*, abrindo a m?o e deixando-as cahir no rega?o da m?e. Murchou tudo... tudo estragado da calma... ��stas s?o papoulas que fazem dormir, colhi-as para as metter debaixo do meu cabe?al ��sta noite; quero-a dormir de um somno, n?o quero sonhar, que me faz ver coisas... lindas ��s vezes, mas tam extraordinarias e confusas...
*Magdalena*. Sonhar, sonhas tu acordada, filha! Que, olha, Maria, imaginar �� sonhar: e Deus p?s-nos n'este mundo para velar e trabalhar--com o pensamento sempre n'elle sim, mas sem nos extranharmos a ��stas coisas da vida que nos cercam, a ��stas necessidades que nos imp?e o estado, a condic??o em que nasc��mos. Ves tu, Maria: tu es a nossa unica filha, todas as esperan?as de teu pae s?o em ti...
*Maria*. E n?o lh'as posso realizar, bem sei.--Mas que heide eu fazer? eu estudo, leio...
*Magdalena*. Les demais, can?as-te, n?o te distraes como as outras donzellas da tua edade, n?o es...
*Maria*. O que eu sou... s�� eu o sei, minha m?e... E n?o sei, n?o: n?o sei nada, sen?o que o que devia ser n?o sou...--Oh! porque n?o havia de eu ter um irm?o que fosse um galhardo e valente mancebo, capaz de commandar os ter?os de meu pae, de pegar n'uma lan?a d'aquellas com que os nossos av��s corriam a India, levando adeante de si Turcos e Gentios! um bello mo?o que fosse o retratto proprio d'aquelle gentil cavalleiro de Malta que alli est��. (Apontando para o retratto) Como elle era bonito meu pae! Como lhe ficava bem o preto!... e aquella cruz tam alva em cima! Paraque deixou elle o h��bito, minha m?e, porque n?o ficou n'aquella sancta religi?o, a vogar em suas nobres galeras, por esses m��res, e a affugentar os infieis deante da bandeira da Cruz?
*Magdalena*. Oh filha, filha!... (Mortificada) porque n?o foi vontade de Deus: tinha de ser d'outro modo.--Tom��ra eu agora que elle cheg��sse de Lisboa! Comeffeito �� muito tardar... valha-me Deus!
SCENA V
JORGE, MAGDALENA, MARIA
*Jorge*. Ora seja Deus n'esta casa!
(Maria beija-lhe o escapulario e depois a m?o; Magdalena somente o escapulario.)
*Magdalena*. Sejaes bem vindo, meu irm?o!
*Maria*. Boas tardes, tio Jorge!
*Jorge*. Minha senhora mana!--A ben?am de Deus te cubra, filha!--Tambem estou desassocegado como v��s, mana Magdalena: mas n?o vos afflijaes, espero que n?o hade ser nada.--�� certo que tive umas not��cias de Lisboa...
*Magdalena*, assustada. Pois que ��, que foi?
*Jorge*. Nada, n?o vos assusteis; mas �� bom que estejaes prevenida, por isso vo-lo digo. Os governadores querem sair da cidade... �� um capricho verdadeiro... Depois de aturarem mettidos alli dentro toda a f?r?a da peste, agora que ella est��, se p��de dizer, acabada, que s?o rarissimos os casos, �� que por f?r?a querem mudar de ares.
*Magdalena*. Pois coitados!...
*Maria*. Coitado do povo!--Que mais
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 26
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.