encher; O Ceo inspirou
primeiro Das letras alta invençaõ, Para dar aos desgraçados Suave
consolaçaõ: Para huma captiva amante Foi hum celeste favor; Ellas
exprimem, e fallaõ Toda a ternura de Amor; Hum juvenil Coraçaõ, De
seu soccorro ajudado, Puros dezejos sem susto Explica ao seu Bem
amado; A alma se manifesta Co'a singeleza devida, Aos olhos do charo
objecto He longa auzencia illudida; Juntando longiquuos Lares, Corre
hum suspiro inflamado Por seu magico poder Do Indo ao Polo apartado.
Bem sabes com que innocencia Teu amor antecipava; Que da amizade
a apparencia O nosso ardor disfarçava; Que achei sempre em teu
aspecto Huma angelica figura; Que emanava dos teus olhos Huma
chama etherea, e pura; Tua Amante, sem receio Absorta a teu lado
estava, Por isto, sim, sem remorso Minha paixaõ fomentava: Se erguias
celeste canto Ao Supremo Author do dia, Me figura que o Ceo
Attentamente te ouvia; Athé as verdades sanctas, Reveladas com
certeza, Parecia que de teus labios Cahiaõ com mais belleza. Que
perceitos dictarias, Que hoje mesmo eu naõ estime, Facilmente me
ensinaste Que o Amor naõ era hum crime: Á seducçaõ dos sentidos
Depressa me abandonei, Naõ vi outra Devindade Senaõ a que em ti
achei; A posse da Gloria eterna Com tanto prazer naõ via, Deixei de
invejar hum Ceo Que por te amar perderia. Ah! Quantas vezes eu dice,
Se á eleiçaõ de hum espozo Paterna lei me obrigasse Com laço eterno,
e odiozo. Julgara toda a uniaõ Pelo tormento maior, Se naõ fosse
vinculada Com os encantos de Amor; He amor qual avezinha, Se vê
prizoens conjugaes Estende ligeiras pennas, Eis voa, naõ torna mais:
Embora d'honras, riquezas Seja hymeneo coroado, E o nome de quem o
abraça Seja sancto, e respeitado; Mas brilhantes apparencias De vulgar
satisfaçaõ Tornaõ se em nada ao aspecto Da verdadeira paixaõ; Honras,
credito, riquezas Que sois á vista de Amor? Inspira este Deos ciozo
Com vingativo furor Inquietas paixoens terriveis Ao que profano dezeja
Nelle buscar outro bem Que so o de Amor naõ seja Se visse a meus pés
prostrado Do Mundo o amplo Senhor Inda pelo Throno do Mundo
Desprezára o seu amor; Thé recuzando do Cezar O consorcio o mais
brilhante Preferira de quem amo Ser huma fragil amante. Se outro titulo
encontrasse Mais terno, e livre seria Este o nome preciozo Que para
elle tomaria. Que dita se duas almas Com indissoluvel firmeza No seu
livre amor conhecem Só as leis da Natureza! Hum so objecto ocupa O
Coraçaõ que amor sente, He possuido, e possue Em mutua paixaõ
ardente; Em dous Amantes se encontraõ Pensamentos sempre iguaes; E
sem que os labios se expliquem Os olhos expressaõ mais. Se he esta a
maior ventura, Que hum amante pode achar Esta mesma n'outro tempo
Foi a minha, e de Abaylar.... Mas que subita mudança Me apprezenta o
impio Fado! Ceos que vejo! O meu amante Prezo, nû, ensanguentado!
Aonde estava Heloiza Neste momento horroroso!... Gritos, forças se
armariaõ Contra o lance sanguinozo. Oh barbaros, suspendei A feroz
maõ homecida, Ou arrojai toda a raiva Contra a minha infausta vida!
Ao menos se ambos culpados A mesma sorte condemna Recaha em
dous o castigo Soframos a mesma pena... A dôr me opprime, e
perturba... Por pejo, e piedade cesse... Meus soluços, e vergonha Na
garganta a voz impece. Poderás ser esquecido, Dia solemne, e fatal
Onde quais victimas fomos, E esp'rando o golpe mortal Junto aos
tremendos Altares, Entre combates violentos, Correo meu inutil pranto
Em taõ funestos momentos. Dei ao Mundo hum adeos eterno Á flor dos
annos mingoados, E bejo o sagrado véo Com os meus beiços gelados.
Tremem os Altares sanctos Quando minha voz conhecem, E até os
sagrados Lames Arquejando se amortecem: O Ceo acredita apenas A
Conquista que fazia; Ouvem com espanto os Anjos Os votos que eu
proferia; Mas com tudo ao Sanctuario Com palidez penetrava, E os
olhos que à Cruz proponho Em ti somente os fitava. Graça eficaz, puro
zelo Da santa Religiaõ Naõ compunhaõ o caracter Desta infeliz
vocaçaõ; Era hum amor desgraçado Essencia d'hum Ser constante,
Tudo entregava e perdia Por ter perdido hum Amante. Com teus olhos,
teus discursos Vem suspender meu tormento, Este poder te deixaraõ;
Possa em teu seio hum momento Repouzar minha cabeça: Seja em teus
labios bebido De amor o doce veneno De teus olhos recebido; Ja naõ
pertendo do Fado Que outro algum bem me destine, Da-me, sim, o que
dar podes, Deixa que o resto imagine.... Porem nao! Fujaõ de todo
Pensamentos criminozos, Có meu dever vem mostrar-me Eternos bens
mais ditozos, Tira a meus olhos a venda, Pinta-me a Celeste Gloria,
Faze minh'alma te fuja Dando ao seu Deos a Victoria. E se a meus
votos te negas Minhas fieis companheiras Os teus cuidados merecem
Saõ
Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.