Eco da Voz Portugueza por Terras de Santa Cruz | Page 3

António Feliciano de Castilho
o peso dessa Corôa, não sustentada por mão de amigo,
mas encravada na Tua cabeça pelas patas do Leopardo e do Leão, e
pelos esporões do gallo.
E, como antes que S. Pedro negasse o Divino Mestre, o Gallo cantará
tres vezes.--
Rainha de Portugal, porque Te Degradaste abrindo Tu mesma as portas
do teu Reino para ser invadido?
Rainha dos Portuguezes, porque os não Governaste conforme os seus
recursos e as suas necessidades, para que a fome os não matasse, e a
paz lhes desse prosperidade?
Rainha pelos Portuguezes, porque não Quiseste firmar todo o Teu
poder nesse amor dos Portuguezes, que por Ti abriram suas veias e os
seus cofres?
...........................................................................
Tu não Quiseste ficar inviolavel; mas os Teus subditos são Portuguezes,
leaes, e cavalheiros; e Tu para elles ainda És sagrada!
!...................................!.....................................!
Mata-os, mas não os aviltes.

*VIII*
Saiam já de nossa terra os Estrangeiros armados! E onde quer que elles
tenham arvorado o seu estandarte, erga-se para memoria dessa affronta
uma alta cruz, e diga-se:
Aqui jaz Portugal, que a seus filhos, não tendo já nome que deixar,
legou --Vingança-- porêm vingança nobre: a de haverem de amarem-se
para engrandecer-se, para se regenerar.
IX
Rainha!
Manda o Teu sceptro de ferro para os Teus arsenaes.
Ve-lo-Has transformado em espadas, ancoras, pelouros, e arados.
E os pulsos dos Teus Portuguezes, ainda magoados das algemas que
lhes Lançaste, Verás como ganham vigor para defender-Te, e para
humildes servir-Te.
Humildes por amor!
Para leval-os ao combate, e depois do combate a seu trabalho, Toma Tu
uma leve canna, como Teus Avós fizeram, e Vae, risonha, nobre e
compassiva, ante elles, que são Teus filhos.
Leval-os-Has onde Quizeres; porque, apesar do que Has feito, elles Te
amam.
Leaes cavalheiros, só querem que não te esqueças de que És sua Mãi, e
de que nem mesmo entre as féras ha Mãi para consentir que seus filhos
sejam offendidos por estrangeiros.
Tu Crês que não És sua Mãi, elles se consideram Teus filhos, e hão de
amar-Te, em quanto Fores, ao menos madrasta sua e não Estrangeira,
Tu, que És filha de D. Pedro.

Se Queres ser cruel embora o Sejas.
Teus subditos são cavalheiros leaes, que nunca tingiram suas mãos no
sangue dos seus Reis, no cadafalso, como fizeram já aquelles a que
recorres, aquelles cuja bandeira se arvora a Teu reclamo, em terras de
Portugal!
...........................................................................
Rainha pelos Portuguezes!
Teus subditos soffrerão tudo, tudo por Ti; menos a infamia de uma
bofetada por mão de Regicidas.
...........................................................................
Rainha pelo amor e pelas armas de Portugal!
Preferes ser tyranna?
Matta os Portuguezes Tu mesma: não os Aviltes.
X
........................................................................... .......................................
....................................
E disse por derradeiro o procurador d'El-Rei Lourenço Viegas:
"Quereis que o Senhor Rei vá ás Côrtes d'El-Rei de Leão, ou lhe pague
tributo, ou a alguma outra pessoa, afóra o Senhor Papa; que o
appellidou Rei?"--A esta voz surgiram todos, e com as espadas nuas e
alçadas, gritaram: "Livres somos, nosso Rei é livre, só ás nossas mãos
devemos a nossa Liberdade: e qualquer Senhor Rei, que em tal
consentir, morra por ello: e se ainda não fôr Rei, nunca em nenhum
tempo possa vir a reinar sobre nós."--Aqui El-Rei coroado, se ergueo
outra vez, e floreando na direita a espada nua, dísse para todos;
"Quanto hei lidado por vossas liberdades, assás o sabeis vós. Por
testemunhas vos tomo, e por testemunhas a este meu braço e espada; se
alguem em tal consentir, morra por ello; e a ser filho ou neto meu, não

reine."
--Todos disseram: boa palavra, morrerão: "Rei, que em alheio dominio
consentir, não será de nós soffrido uma só hora no throno."
--Ao que El-Rei poz remate, com dizer "Assim se faça."
(A. F. Castilho)
Rio de Janeiro
Typ. de M. A. da Silva Lima
Rua de S. José N.º 8.--1847

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Terras de Santa Cruz, by António Feliciano de Castilho
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