bem vemos não se applacar a justa ira
do Senhor!
Tarde, bem tarde expiaremos as nossas culpas!
Tarde, bem tarde alcançaremos graça!
Porque a maldição de um Deos peza sobre o lusitano povo, como sobre
o povo escolhido!
Porque um perjurio, um sacrilegio tanto excitaram a colera celeste que
muito longa e tormentosa terá de ser a expiação!
Porèm diz-nos a consciencia, animada pela Fé robusta de nossos Pais,
que muito e muito haverá de soffrer este povo escolhido; mas soffrer
não deverá ser ignominia, aviltamento; porque elle é grande em sua
pequenez, que encerra um passado glorioso, um futuro providencial
para a felicidade, para a regeneração da caduca Europa!
A nossa voz rompe o silencio dos irmãos nossos, magoados, que
choram pela Patria, e se envergonham de que os vejam chorar em terra
alheia; e abafam seus gemidos para não parecerem ingratos, elles, que
aqui não soffrem, na terra mais hospitaleira e venturosa!
Egoista, que por viveres abrigado de tantas miserias não te importa a
fome e a guerra, que vão matando os teus irmãos n'outro hemispherio.
Devasso, que porque sobre a tua face não foi dada a bofetada, tua face
fica pallida, impassiva, indiferente á affronta que lá soffreram, a duas
mil legoas, os teus compatriotas.
Nenhum de vós se atreva a ler este papel.
*IV*
Rainha pelos Portuguezes!
O desamor de Teus subditos ao usurpador, Teu Tio, entorpeceo-lhes os
braços por tal fórma que deixaram entrar uma Esquadra Franceza pelo
tejo.
E o pavilhão francez, o pavilhão tricolor, essa bandeira do Povo, essa
bandeira que a desgraçada Polonia julgava a cada instante esperançosa
vêr tremular ao longe em soccorro de seu ultimo baluarte; esse pavilhão
mentiroso tremulou por algumas horas n'algumas fortalezas de
Portugal.
Mas assim foi ainda, porque os Portuguezes, opprimidos, esperavam
protecção nesses estrangeiros para sacudir o jugo de um tyranno, sem
derramar tanto sangue, quanto é o que a Tua Corôa lhes tem custado.
Illudidos foram nas suas esperanças; e nunca lhes hade passar a magoa
de não terem corrido todos, á voz de quem quer que fosse, para o
combate, para morrer abraçados á cruz de sua bandeira!
Triste necessidade, lhes nutrindo uma esperança, os fez covardes, e tal
desengano lhes ha de enrubecer de vergonha sempre as faces
maceradas!...
E com que necessidade agora Tu Consentes que o pavilhão da
soberbissima Inglaterra se arvore em terra de Portuguezes?
E em que logar, em que torre elle se arvora, para conservar preso um
troço de Portuguezes, surpreendidos sem nenhuma declaração de
guerra?
Conheces aquella torre?
A torre de S. Julião!....
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Naquella torre, cadafalso de Gomes Freire!...
Naquella torre, cujos alicerces estão ensopados de sangue portuguez,
derramado gota a gota para Ti, por mais de cinco annos....
Alli... alli se arvora a bandeira de Inglaterra, que tem prisioneiros os
Teus subditos.... e a Ti mesma.... a Ti mesma, qual outra Pomaré!...
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Que vergonha!....
*V*
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Rainha! Rainha!
Sabes tu que muito sangue espargido nos cadafalsos levou sobre ondas
rubras que formava a Tua pesada corôa atravez do Oceano para sobre
um rochedo inexpugnavel?
Sabes que essas ondas de sangue augmentaram lá com o furor dos
combates? e Sabes que refluindo até ás praias do Mindello trouxeram
para Ti essa Corôa que Deixas vacillar?
E Sabes Tu que para que ella fosse elevada até á altura de Tua cabeça
foi necessario que a levasse aos hombros Teu Pai moribundo; que
ajudado por seus amigos subio com muito custo e muita dor uma
pyramide alta de cadaveres, em cuja face reclinada Tu Dormias o
somno da innocencia?...
E Sabes Tu que apenas chegado ao apice dessa pyramide, Teu Pai,
dando sua alma a Deos, dando seu coração aos seus Portuguezes, e
collocando, já nos ultimos suspiros, sobre a Tua cabeça essa Corôa de
tanto preço, cahio morto, Elle, entre os soldados rasos?!...
*VI*
Rainha! Rainha!
Esses soldados eram portuguezes!
Esses cadaveres eram de Portuguezes!
Esse tanto sangue, derramado por Ti, era sangue Portuguez!...
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Rainha! Rainha!
O Throno em que Te Assentas é feito de ossos Portuguezes....
O Teu manto de Rainha é vermelho por ser tincto com sangue
Portuguez....
A Corôa que Tens na cabeça é a caveira de Teu Pai!....
...........................................................................
O sceptro...
Sómente o sceptro é Teu.... fabricado por Ti.... de ferro.... muito pesado
para Teu pulso debil....
*VII*
Rainha pelos Portuguezes!
Tu não Quizeste ficar inviolavel.
Não hade ser unicamente o ranjer dos ossos que formam o Teu solio, o
que te avisará de que mal sentada Estás, quando não Fazes justiça
inteira.
Não será unicamente a cor vermelha de tua purpura que hade
manchar-Te a mão, quando a Affastares de sobre a cabeça daquelle que
vem pedir-Te abrigo.
Não hade unicamente ser a caveira de Teu Pai, que apertando-Te as
fontes quando Te Esqueceres do que a Portugal Deves, Te poderá fazer
insupportavel
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