pobre.»
«E o teu appellido?»
«Seja--Santificado--O--Vosso--Nome.»
E o pobre foi-se embora com o seu alqueire de trigo.
Ao outro dia chega segundo pobre.
«Como te chamas?
«Venha--A--Nós--O--Vosso--Reino.»
«E o teu appellido?»
«Seja--Feita--A--Vossa--Vontade.»
E partiu com o seu alqueire de trigo.
Veiu terceiro pobre.
«Como te chamas?»
«Assim--Na--Terra--Como--No--Ceo.»
«E o teu appellido?»
«Dae-nos--Hoje--O--Pão--Nosso--De--Cada--Dia.»
E levou o seu alqueire.
Vieram ainda dois pobres successivamente, e passou-se tudo da mesma
forma até chegar ao Amen.
Pouco tempo depois o confessor encontrou o aldeão.
«Então já sabes o Padre Nosso?»
«Não, sr. cura, sei só os nomes e appellidos dos pobres a quem
emprestei o meu trigo.»
«Quaes são? tornou o padre.»
E o aldeão enumerou-lh'os a seguir, e pela ordem porque cada um se
tinha apresentado.
«Já vês, disse o confessor, que não era muito difficil aprender o Padre
Nosso, porque já o sabes perfeitamente.»
*O talisman*
Dois habitantes da mesma cidade exerciam n'ella a mesma industria,
mas com resultados bem diversos; um enriquecia-se e o outro
arruinava-se, o que não era de espantar, porque o primeiro zelava os
seus negocios com uma actividade infatigavel, emquanto que o
segundo, entregue inteiramente aos seus prazeres, encarregava os
estranhos da direcção da sua casa.
«Explica-me, disse um dia este ultimo ao seu collega, qual é a razão
porque a sorte nos trata de um modo tão differente? Vendemos as
mesmas mercadorias, a minha loja está tão bem situada como a tua, e
apezar d'isso, emquanto tu ganhas, eu não faço senão perder. E não é
porque eu seja estroina; não bebo, nem jogo. Já tenho pensado algumas
vezes se não terás tu por acaso algum precioso talisman.»
«Effectivamente, respondeu o outro, herdei de meu pae um talisman de
uma virtude incomparavel. Trago-o ao pescoço, e ando assim com elle
todo o dia por toda a casa, do celleiro para a adega, e da adega para o
celleiro. E o caso é que tudo me corre perfeitamente.»
«Olé meu querido collega, empresta-me pelo amor de Deus essa
reliquia preciosa de que tanto necessito; pódes ter a certeza de que t'a
restituo.»
«Pois vem buscal-a ámanhã de manhã.»
Quando ao outro dia foi procurar o seu generoso concorrente,
apresentou-lhe este uma avellã, através da qual tinha tinha passado um
fio de seda.
O nosso homem pòl-a immediatamente ao pescoço, e começou a correr
toda a casa com o talisman. Observou então a completa desordem que
por toda a parte ali havia. Na adega faltava-lhe vinho, cerveja e azeite;
na cozinha o pão, a carne e os legumes; no celleiro, o milho, o trigo, o
feijão; na estribaria, o feno e a aveia, roubados das manjadouras dos
cavallos; viu, finalmente, como os seus livros e registros estavam mal
escripturados; viu tudo isto, e que era necessário dar-lhe remedio,
comprehendendo que o dono da casa nunca póde ser substituido por
terceira pessoa na direcção dos seus negocios.
Passados alguns dias foi entregar ao dono o precioso talisman,
agradecendo-lhe duplamente, em primeiro logar, o seu bom conselho, e
em segundo logar, a maneira delicada porque lh'o tinha dado.
*A alma*
«Mamã, nem todas as creanças que morrem vão para o Paraizo. O outro
dia vi levar para o cemiterio um menino que tinha morrido; o seu papá
e as suas duas irmãsinhas acompanhavam o caixão, e choravam tanto
que me fazia pena. Iam a chorar porque aquelle menino tinha sido mau,
não é verdade?»
«Não; naturalmente foi sempre bom, e a sua alma, emquanto choravam
seus paes e suas irmãs, já estava vivendo feliz no Paraizo.»
«A alma? mamã; não sei o que é; não comprehendo bem.»
«Maria, acabas de me dizer que tiveste pena de ver chorar as duas
pequerruchas.»
«Tive sim, mamã, tive muita pena.»
«Ora bem, o que é que no teu corpo estava desconsolado e triste? eram
os braços?»
«Não, mamã.»
«Eram as orelhas?»
«Oh! não mamã, era cá dentro.»
«Esse lá dentro, Maria, é a tua alma que se alegra ou se entristece, que
te reprehende quando fazes o mal, e que está satisfeita quando praticas
o bem.
*Alberto*
Alberto tinha seis annos. Era filho de um jardineiro. Via seu pae e seus
irmãos, que eram activos e laboriosos, plantar arvores e fazer
sementeiras, que nasciam, cresciam e davam fructo. Tinha visto um
unico feijão produzir cem feijões e muitas vezes mais, e de uma talhada
de batata nascerem quarenta batatas magnificas; sabia que a terra
pagava com juros exorbitantes o que lhe emprestavam. Um dia achou
uma libra no quarto do pae, e foi enterral-a immediatamente no seu
jardimzinho. «Ha de nascer uma arvore, dizia elle comsigo, que dará
libras como uma cerejeira dá cerejas, e irei entregal-as ao papá, que
ficará muito contente.» Todas as manhãs ia ver se a libra tinha nascido,
mas não rebentava nada. Entretanto o pae procurava a libra por
Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.