instincto de salvador e desembara?ando-se da pedra mal atada, n?o tivesse mergulhado duas vezes e trazido para terra o seu mortal inimigo.
Este, que estava quasi desmaiado, comprehendeu quando voltou a si, que o c?o que elle tinha querido afogar, lhe salvára a vida.
Teve vergonha de seu acto miseravel; e desde esse dia, violentou-se a si mesmo e combateu as suas más inclina??es.
O exemplo do c?o corrigiu o homem.
*O rico e o pobre*
Martinho era um rapazito, que ganhava a sua vida a fazer recados; um dia, voltando d'uma aldeia muito distante da sua, achou-se cansado e deitou-se de baixo d'uma arvore, á porta d'uma estalagem, junto da estrada. Estava comendo um bocado de p?o que tinha trazido para jantar, quando chegou uma bella carroagem em que vinha um fidalguinho, com o seu preceptor. O estalajadeiro correu immediatamente e perguntou aos viajantes se queriam apear-se, mas responderam-lhe que n?o tinham tempo, e pediram-lhe que lhes trouxesse um frango assado e uma garrafa de vinho.
Martinho estava pasmado a olhar para elles; olhou depois para a sua codea de p?o, para a sua velha jaqueta, para o seu chapeo todo roto, e suspirando exclamou baixinho: Oh! se eu fosse aquelle menino t?o rico, em vez do desgra?ado Martinho! que fortuna se elle estivesse aqui, e eu dentro d'aquella carruagem!? O preceptor ouviu casualmente o que dizia Martinho e repetiu-o ao seu alumno, que, lan?ando a cabe?a fóra da carruagem, chamou Martinho com a m?o.
--Ficarias muito contente, n?o é verdade, meu rapaz, podendo trocar a minha sorte pela tua??--Pe?o que me desculpe senhor, replicou Martinho córando, o que eu disse n?o foi por mal.?--N?o estou zangado comtigo, replicou o fidalguinho, pelo contrario, desejo fazer a troca.?
--Oh! está a divertir-se comigo! tornou Martinho, ninguem quereria estar no meu lugar, quanto mais um bello e rico menino como o senhor. Ando muitas leguas por dia, como p?o secco e batatas, emquanto que o senhor anda n'uma carruagem, póde comer frangos e beber vinho.?--Pois bem, volveu o fidalguinho, se me queres dar tudo aquillo que tens e que eu n?o tenho, dou-te em troca de boa vontade tudo o que possuo.? Martinho ficou com os olhos espantados, sem saber o que havia de dizer; mas o preceptor continuou: ?Acceitas a troca??--Ora essa! exclamou Martinho, ainda m'o pergunta! Oh! como toda a gente d'aldeia vae ficar assombrada de me ver entrar n'esta bella carruagem!? E Martinho desatou a rir com a idéa da entrada triumphante na sua aldeia.
O fidalguinho chamou os criados, que abriram a portinhola e o ajudaram a descer. Mas qual foi a surpreza de Martinho, vendo que elle tinha uma perna de pau e que a outra era t?o fraca, que se via obrigado a andar em duas muletas: depois, olhando para elle de mais perto, Martinho observou que era muito pallido e que tinha cara de doente.
Sorriu para o rapazito com ar benevolo, e disse-lhe:--Ent?o sempre desejas trocar? Querias porventura, se podesses, deixar as tuas pernas valentes e as tuas faces córadas, pelo prazer de ter uma carruagem e andar bem vestido??--Oh! n?o, por coisa nenhuma! replicou Martinho.--?Eu, disse o fidalguinho, de boa vontade seria pobre, se tivesse saude. Mas, como Deus quiz que fosse aleijado e doente, soffro os meus males com paciencia e fa?o por ser alegre, dando gra?as a Deus pelos bens que me concedeu na sua infinita misericordia.
?Faze o mesmo, meu amiguinho, e lembra-te que, se és pobre e comes mal, tens for?a e saude, coisas que valem mais que uma carroagem, e que n?o podem comprar-se com dinheiro.
*Como um camponez aprendeu o Padre Nosso*
Tinha o cora??o duro, e n?o dava esmolas. Foi-se confessar uma vez, e o confessor deu-lhe por penitencia resar sete vezes o Padre Nosso.
?N?o o sei, e nunca o pude aprender, respondeu o alde?o.?
?Pois n'esse caso, tornou o confessor, imponho-te por penitencia dar a credito um alqueire de trigo a todas as pessoas que t'o forem pedir da minha parte.?
No dia seguinte de manh? apresentou-se o primeiro pobre.
?Como te chamas? perguntou-lhe o camponez.
?Padre--Nosso--Que--Estaes--No--Ceo, respondeu o pobre.?
?E o teu appellido??
?Seja--Santificado--O--Vosso--Nome.?
E o pobre foi-se embora com o seu alqueire de trigo.
Ao outro dia chega segundo pobre.
?Como te chamas?
?Venha--A--Nós--O--Vosso--Reino.?
?E o teu appellido??
?Seja--Feita--A--Vossa--Vontade.?
E partiu com o seu alqueire de trigo.
Veiu terceiro pobre.
?Como te chamas??
?Assim--Na--Terra--Como--No--Ceo.?
?E o teu appellido??
?Dae-nos--Hoje--O--P?o--Nosso--De--Cada--Dia.?
E levou o seu alqueire.
Vieram ainda dois pobres successivamente, e passou-se tudo da mesma forma até chegar ao Amen.
Pouco tempo depois o confessor encontrou o alde?o.
?Ent?o já sabes o Padre Nosso??
?N?o, sr. cura, sei só os nomes e appellidos dos pobres a quem emprestei o meu trigo.?
?Quaes s?o? tornou o padre.?
E o alde?o enumerou-lh'os a seguir, e pela ordem porque cada um se tinha apresentado.
?Já vês, disse o confessor, que n?o era muito difficil aprender o Padre Nosso, porque já o sabes perfeitamente.?
*O talisman*
Dois habitantes da mesma cidade exerciam n'ella a mesma industria, mas com

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