Contos para a Infância

Guerra Junqueiro
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Contos para a Infancia, by Guerra Junqueiro

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Title: Contos para a Infancia Escolhidos dos Melhores Autores por Guerra Junqueiro
Author: Guerra Junqueiro
Editor: Tipografia Universal de Tomás Quintino Antunes
Release Date: July 13, 2007 [EBook #22059]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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CONTOS PARA A INF?NCIA
ESCOLHIDOS DOS MELHORES AUTORES POR GUERRA JUNQUEIRO
LISBOA
TIPOGRAFIA UNIVERSAL DE THOMáS QUINTINO ANTUNES, IMPRESSOR DA CASA REAL
Rua dos Calafates, 110
1877

*A m?e*
Estava uma m?e muito aflita, sentada ao pé do ber?o do seu filho, com medo que lhe morresse. A criancinha pálida tinha os olhos fechados. Respirava com dificuldade, e às vezes t?o profundamente, que parecia gemer; mas a m?e causava ainda mais lástima do que o pequenino moribundo.
Nisto bateram à porta, e entrou um pobre homem muito velho, embu?ado numa manta de arrieiro. Era no Inverno. Lá fora estava tudo coberto de neve e de gelo, e o vento cortava como uma navalha.
O pobre homem tremia de frio; a crian?a adormecera por alguns instantes, e a m?e levantou-se a p?r ao lume uma caneca com cerveja. O velho come?ou a embalar a crian?a, e a m?e, pegando numa cadeira, sentou-se ao lado dele. E contemplando o seu filhinho doente, que respirava cada vez com mais dificuldade, pegou-lhe na m?ozinha descarnada e disse para o velho:
--Oh! Nosso Senhor n?o mo há-de levar! n?o é verdade?--
E o velho, que era a Morte, meneou a cabe?a duma maneira estranha, em ar de dúvida. A m?e deixou pender a fronte para o ch?o, e as lágrimas corriam-lhe em fio pela cara. Sentiu-se estonteada com um grande peso de cabe?a; estava sem dormir havia três dias e três noites. Passou ligeiramente pelo sono, durante um minuto, e despertou sobressaltada a tremer de frio.
--Que é isto! exclamou, lan?ando à volta de si o olhar alucinado. O ber?o estava vazio. O velho tinha-se ido embora, roubando-lhe a crian?a.
* * * * *
A pobre m?e saiu precipitadamente, gritando pelo filho. Encontrou uma mulher sentada no meio da neve, vestida de luto. ?A Morte entrou-te em casa, disse-lhe ela. Via sair a correr levando teu filho. Anda mais depressa que o vento, e o que ela furta nunca o torna a entregar.?
--Por onde foi ela? gritou a m?e. Diz-mo pelo amor de Deus!?
--Sei o caminho por onde ela foi, respondeu a mulher vestida de preto. Mas só to ensino, se me cantares primeiro todas as can??es que cantavas ao teu filho. S?o lindas, e tens uma voz harmoniosa. Eu sou a Noite e muitas vezes tas ouvi cantar, debulhada em lágrimas.
--Cantar-tas-ei todas, todas, mas logo, disse a m?e. Agora n?o me demores, porque quero encontrar o meu filho.--
A Noite ficou silenciosa. A m?e ent?o, desfeita em lágrimas, come?ou a cantar. Cantou muitas can??es, mas as lágrimas foram mais do que as palavras.
No fim disse-lhe a Noite: ?Toma à direita, pela floresta escura de pinheiros. Foi por aí que a Morte fugiu com o teu filho.?
A m?e correu para a floresta; mas no meio dividia-se o caminho, e n?o sabia que direc??o havia de seguir. Diante dela havia um matagal, cheio de silvas, sem folhas nem flores, de cujos ramos pendia a neve cristalizada.
* * * * *
--N?o viste a Morte que levava o meu filho?? perguntou-lhe a m?e.
--Vi, respondeu o matagal, mas n?o te ensino o caminho, sen?o com a condi??o de me aqueceres no teu seio, porque estou gelado.?
E a m?e estreitou o matagal contra o cora??o; os espinhos dilaceraram-lhe o peito, donde corria sangue. Mas o matagal vestiu-se de folhas frescas e verdejantes, e cobriu-se de flores numa noite de Inverno frigidíssima, tal é o calor febricitante do seio d'uma m?e angustiosa.
E o matagal ensinou-lhe o caminho que devia seguir. Foi andando, andando, até que chegou à margem dum grande lago, onde n?o havia nem barcos, nem navios. N?o estava suficientemente gelado para se andar por ele, e era demasiadamente profundo para o passar a vau. Contudo, querendo encontrar o seu filho, era necessário atravessá-lo. No delírio do seu amor, atirou-se de bru?os a ver se poderia beber toda a água do lago. Era impossível, mas lembrava-se que Deus, por compaix?o, faria talvez um milagre.
--N?o! n?o és capaz de me esgotar, disse o lago. Sossega, e entendamo-nos amigavelmente. Gosto de ver pérolas no fundo das minhas águas, e os teus olhos s?o dum
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