uma árvore, dizia ele consigo, que dará
libras como uma cerejeira dá cerejas, e irei entregá-las ao papá, que
ficará muito contente.» Todas as manhãs ia ver se a libra tinha nascido,
mas não rebentava nada. Entretanto o pai procurava a libra por toda a
parte. Por fim perguntou ao Albertinho se a tinha visto.
«Vi papá; achei-a e fui semeá-la.»
«Como, semeá-la? doido! julgas talvez que vai nascer como uma
couve?»
«Mas, papá, ouvi dizer que o oiro se encontrava na terra.»
«É verdade, mas não nasce como uma semente; o oiro não tem vida.»
Desenterrou-se a libra, e Alberto foi castigado por dispor do que lhe
não pertencia.
Há contudo, meus filhos, uma maneira de semear o oiro, fazendo-lhe
produzir os mais belos frutos que existem no mundo. Quereis saber
como é? É dando-o aos pobres. Faz-se no Paraíso a colheita dessa
sementeira.
*A canção da cerejeira*
Disse Deus na Primavera: «Ponham a mesa às lagartas!» E a cerejeira
cobriu-se imediatamente de folhas, milhões de folhas, fresquinhas e
verdejantes.
A lagarta, que estava dormindo dentro de casa, acordou, espreguiçou-se,
abriu a boca, esfregou os olhos e pôs-se a comer tranquilamente as
folhinhas tenras, dizendo: «Não se pode a gente despegar delas. Quem
é que me arranjou este banquete?»
Então Deus disse de novo: «Ponham a mesa às abelhas!» E a cerejeira
cobriu-se imediatamente de flores, milhões de flores delicadas e
brancas.
E a abelha matinal aos primeiros raios da aurora pousou sobre elas,
dizendo: «Vamos tomar o nosso café; e que chávenas tão bonitas em
que o deitaram!»
Provou com a linguita, exclamando: «Que deliciosa bebida! Não
pouparam o açúcar!»
No Verão disse Deus: «Ponham a mesa aos passarinhos!» E a cerejeira
cobriu-se de mil frutos apetitosos e vermelhos.
«Ah! ah! exclamaram os passarinhos, foi em boa ocasião; temos apetite,
e isto dar-nos-á novas forças para podermos cantar uma nova canção.»
No Outono disse Deus: «Levantai a mesa, já estão satisfeitos.» E o
vento frio das montanhas começou a soprar, e fez estremecer a árvore.
As folhas tornaram-se amarelas e avermelhadas, caíram uma a uma, e o
vento que as lançou ao chão erguia-as novamente, fazendo-as esvoaçar.
Chegou o Inverno e disse Deus: «Cobri o resto!» E os turbilhões dos
ventos trouxeram a neve, sob cuja mortalha tudo dorme e descansa.
*Os gigantes da montanha e os anões da planície*
Era uma vez uma família de gigantes, que viviam num castelo na
montanha: um dos gigantes tinha uma filha de seis anos, da altura dum
álamo. Era curiosa e andava com vontade de descer à planície a ver o
que faziam lá em baixo os homens, que de cima do monte lhe pareciam
anões. Um belo dia, em que seu pai o gigante tinha ido à caça e sua
mãe estava dormindo, a jovem giganta desatou a correr para um campo,
onde os jornaleiros trabalhavam. Parou surpreendida a ver a charrua e
os lavradores, coisas inteiramente novas para ela. «Oh! que lindos
brinquedos!» exclamou. Abaixou-se e estendeu por terra o avental, que
quase que cobriu o campo. Lançou-lhe dentro os homens, os cavalos, a
charrua; de dois passos tornou a subir a montanha, e entrou no castelo,
onde seu pai estava a jantar.
--Que trazes aí, minha filha?» perguntou ele.
--Olhe, disse ela, abrindo o avental, que lindos brinquedos. São os mais
bonitos que tenho visto.»
E pô-los em cima da mesa, a um e um,--os cavalos, a charrua e os
trabalhadores, que estavam todos espantados, como formigas a quem
tivessem transportado dum formigueiro para um salão. A gigantinha
pôs-se a bater as palmas e a rir com uma alegria doida, mas o gigante
fez-se sério e franziu o sobrolho. «Fizeste mal, disse-lhe ele. Isso não
são brinquedos, mas coisas e pessoas que devem estimar-se e
respeitar-se. Mete tudo isso com cuidado no teu avental, e põe-no
imediatamente onde o achaste; porque fica sabendo que os gigantes da
montanha, morreriam de fome, se os anões da planície deixassem de
lavrar a terra e de semear o trigo.
*A criança, a anjo e flor*
Quando morre uma criança, desce um anjo do céu, toma-a nos braços, e
desdobrando as asas imaculadas, voa por cima de todos os sítios que
ela amara durante a sua pequenina existência; o anjo abaixa-se de
quando em quando para colher flores, que leva a Deus, para que
floresçam no paraíso ainda mais belas do que tinham sido na terra.
Deus recebe todas as flores, escolhe uma delas, toca-a com os lábios, e
a flor escolhida, adquirindo voz imediatamente, começa a cantar os
coros maviosos dos bem-aventurados. Ora escutai o que disse o anjo a
uma criança morta, que o estava ouvindo como num sonho. Pairaram
primeiro sobre a casa em que a criança brincara, e depois sobre jardins
deliciosos, cobertos de flores.
«Qual é a
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