Contos para a Infância | Page 8

Guerra Junqueiro
uma árvore, dizia ele consigo, que dará
libras como uma cerejeira dá cerejas, e irei entregá-las ao papá, que
ficará muito contente.» Todas as manhãs ia ver se a libra tinha nascido,
mas não rebentava nada. Entretanto o pai procurava a libra por toda a
parte. Por fim perguntou ao Albertinho se a tinha visto.
«Vi papá; achei-a e fui semeá-la.»
«Como, semeá-la? doido! julgas talvez que vai nascer como uma
couve?»
«Mas, papá, ouvi dizer que o oiro se encontrava na terra.»
«É verdade, mas não nasce como uma semente; o oiro não tem vida.»
Desenterrou-se a libra, e Alberto foi castigado por dispor do que lhe
não pertencia.
Há contudo, meus filhos, uma maneira de semear o oiro, fazendo-lhe
produzir os mais belos frutos que existem no mundo. Quereis saber
como é? É dando-o aos pobres. Faz-se no Paraíso a colheita dessa
sementeira.

*A canção da cerejeira*
Disse Deus na Primavera: «Ponham a mesa às lagartas!» E a cerejeira
cobriu-se imediatamente de folhas, milhões de folhas, fresquinhas e
verdejantes.
A lagarta, que estava dormindo dentro de casa, acordou, espreguiçou-se,
abriu a boca, esfregou os olhos e pôs-se a comer tranquilamente as
folhinhas tenras, dizendo: «Não se pode a gente despegar delas. Quem
é que me arranjou este banquete?»
Então Deus disse de novo: «Ponham a mesa às abelhas!» E a cerejeira
cobriu-se imediatamente de flores, milhões de flores delicadas e
brancas.
E a abelha matinal aos primeiros raios da aurora pousou sobre elas,
dizendo: «Vamos tomar o nosso café; e que chávenas tão bonitas em
que o deitaram!»
Provou com a linguita, exclamando: «Que deliciosa bebida! Não
pouparam o açúcar!»
No Verão disse Deus: «Ponham a mesa aos passarinhos!» E a cerejeira
cobriu-se de mil frutos apetitosos e vermelhos.
«Ah! ah! exclamaram os passarinhos, foi em boa ocasião; temos apetite,
e isto dar-nos-á novas forças para podermos cantar uma nova canção.»
No Outono disse Deus: «Levantai a mesa, já estão satisfeitos.» E o
vento frio das montanhas começou a soprar, e fez estremecer a árvore.
As folhas tornaram-se amarelas e avermelhadas, caíram uma a uma, e o
vento que as lançou ao chão erguia-as novamente, fazendo-as esvoaçar.
Chegou o Inverno e disse Deus: «Cobri o resto!» E os turbilhões dos
ventos trouxeram a neve, sob cuja mortalha tudo dorme e descansa.

*Os gigantes da montanha e os anões da planície*

Era uma vez uma família de gigantes, que viviam num castelo na
montanha: um dos gigantes tinha uma filha de seis anos, da altura dum
álamo. Era curiosa e andava com vontade de descer à planície a ver o
que faziam lá em baixo os homens, que de cima do monte lhe pareciam
anões. Um belo dia, em que seu pai o gigante tinha ido à caça e sua
mãe estava dormindo, a jovem giganta desatou a correr para um campo,
onde os jornaleiros trabalhavam. Parou surpreendida a ver a charrua e
os lavradores, coisas inteiramente novas para ela. «Oh! que lindos
brinquedos!» exclamou. Abaixou-se e estendeu por terra o avental, que
quase que cobriu o campo. Lançou-lhe dentro os homens, os cavalos, a
charrua; de dois passos tornou a subir a montanha, e entrou no castelo,
onde seu pai estava a jantar.
--Que trazes aí, minha filha?» perguntou ele.
--Olhe, disse ela, abrindo o avental, que lindos brinquedos. São os mais
bonitos que tenho visto.»
E pô-los em cima da mesa, a um e um,--os cavalos, a charrua e os
trabalhadores, que estavam todos espantados, como formigas a quem
tivessem transportado dum formigueiro para um salão. A gigantinha
pôs-se a bater as palmas e a rir com uma alegria doida, mas o gigante
fez-se sério e franziu o sobrolho. «Fizeste mal, disse-lhe ele. Isso não
são brinquedos, mas coisas e pessoas que devem estimar-se e
respeitar-se. Mete tudo isso com cuidado no teu avental, e põe-no
imediatamente onde o achaste; porque fica sabendo que os gigantes da
montanha, morreriam de fome, se os anões da planície deixassem de
lavrar a terra e de semear o trigo.

*A criança, a anjo e flor*
Quando morre uma criança, desce um anjo do céu, toma-a nos braços, e
desdobrando as asas imaculadas, voa por cima de todos os sítios que
ela amara durante a sua pequenina existência; o anjo abaixa-se de
quando em quando para colher flores, que leva a Deus, para que
floresçam no paraíso ainda mais belas do que tinham sido na terra.

Deus recebe todas as flores, escolhe uma delas, toca-a com os lábios, e
a flor escolhida, adquirindo voz imediatamente, começa a cantar os
coros maviosos dos bem-aventurados. Ora escutai o que disse o anjo a
uma criança morta, que o estava ouvindo como num sonho. Pairaram
primeiro sobre a casa em que a criança brincara, e depois sobre jardins
deliciosos, cobertos de flores.
«Qual é a
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 38
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.