Contos dAldeia | Page 8

Alberto Braga
applicar o correctivo.
--Deixe l��, sr. Joaquim--dizia-lhe o abbade.--�� preciso muita misericordia para tratar as crean?as. Lembre-se do que dizia Jesus: Sinite parvulos venire ad me.
O mestre, que n?o sabia latim, mas que diante do curso quiz occultar a ignorancia, respondeu a sorrir com ares de quem percebia:
--Et cum spiritu tuo!

EST�� NO C��O!
Um sargento de atiradores, que, desde a madrugada, tinha percorrido oito leguas, a p��, sem descan?ar, entrou n'uma taberna que ficava �� beira da estrada, e perguntou se era por ali que morava Maria La Courdaye.
O taberneiro descobriu-se respeitosamente deante do soldado, e, saindo �� porta, estendeu o bra?o, e indicou-lhe:
--�� ali, do lado direito. Abra uma cancella e entre.
--Obrigado! Boa noite--agradeceu o militar. E dirigiu-se apressadamente para l��.
* * * * *
No muro da estrada havia uma cancella de pau; e aberta a cancella, atravessando-se por um caminho assombreado de algumas arvores frondentes, via-se ao fundo a modesta casinha branca, escondida entre a verde ramaria de uns carvalhos.
Tinha ao lado uma leirita plantada de horta; e, �� sombra de um choupo, mais no fundo, uma pia de pedra, onde murmurava uma veia de agua muito crystalina. Do esgalho de uma arvore prendia-se ao tronco de outra uma corda, estendidas na qual alvejavam, expostas �� luz perpendicular do sol do meio-dia, umas roupinhas brancas de crean?a. No cunhal da casa havia uma parreira, que subia encostada �� parede, com as suas largas folhas de um verde accentuado d'entre as quaes pendiam os cachos escuros com os bagos cobertos de p�� luzente e subtil das estradas. Da chamin�� desenrolava-se serenamente uma espiral branca de fumo, que se expandia pelo ar. A casinha branca, de um s�� andar, apparecia encastoada no fundo escuro de uma collina. E no cabe?o do outeiro, a espessura immovel e macia de um pinheiral fechava o horisonte, como um largo reposteiro de velludo verde.
N'essa casa vivia uma formosa mulher na companhia de dois filhos.
Coitadita da pobre! Ficava viuva aos vinte e cinco annos e com dois filhinhos que eram o seu encanto. O mais velho tinha sete annos e chamava-se Miguel, que era o nome do pae; o mais pequenino contava apenas onze mezes, e tinha nascido pouco depois que o pae partiu para a terrivel guerra da Crim��a.
De uma vez, depois de cearem, a m?e, para que o Miguel n?o fizesse bulha e acordasse o menino, chamou-o para ao p�� de si, abriu a carta geographica, e disse-lhe:
--Olha, meu filho, onde est�� o teu querido pap��?
O pequenino abriu muito os olhos, e respondeu a sorrir:
--Na guerra! Pum! Pum!
--Anda v��r onde elle est��.
E, pegando-lhe na m?osinha, fechou-lhe os trez dedos mais pequenos, estendeu-lhe o indicador, e foi-lh'o levando por todas as terras por onde o pae tinha seguido. O dedo da crean?a ia subindo montanhas, descendo aos valles, atravessando as planicies, costeando pelo litoral e cortando o mar. O pequeno balbuciava todos os nomes que a m?e proferia. Quando chegou �� Crim��a parou. Ergueu a sua cabecinha loura, e levantou os olhos para a luz do candieiro, a v��r se elle lhe fazia a merc�� de o alumiar bem. Depois levou a m?o ao abat-jour e tirou-o para o lado.
--Deixa o candieiro, meu filho.
--Ora, ora--exclamou o Miguel, fazendo biquinho.
--Deixa, meu filho--pedia a m?e.
--Eu quero v��r o pap��.
E debru?ou-se outra vez sobre a carta, a procurar com o olhar investigador um ponto qualquer.
A m?e, n'esse instante, com o mais novinho adormecido nos bra?os, olhou para o crucifixo, que tinha pendurado �� cabeceira, e principiou a rezar baixinho, com duas grossas lagrimas a tremerem-lhe �� fl?r das palpebras.
--Est�� aqui o pap��?--perguntou o Miguel.
--Est��, meu filho, est��.
--Na guerra?
--Sim, meu rico amor, na guerra.
O Miguel ficou pasmado a olhar para a Crim��a, e exclamou:
--Eu quero ir �� guerra dar um beijo ao pap��.
--Oh! meu filho!
--O que �� a guerra, mam??
--N?o sei, Miguel. O teu pap��, quando vier ha de contar-nos, sim?
No dia seguinte, logo depois da ceia, quando o menino j�� dormia no rega?o da m?e, o Miguel pediu:
--Eu quero ver outra vez o pap��.
E foi procurando, pouco a pouco, pelo mappa. Assim que apontou a Crim��a, exclamou radiante:
--Ah! aqui est�� elle!
E depois, no outro dia, logo �� bocca da noite, bateram apressadamente �� porta. Quem seria, Jesus! A m?e do Miguel at�� tremeu. Pegou na creancinha e foi v��r quem era. O Miguel--aquillo era j�� um homem ��s direitas!--��a ao lado da m?e, segurando-se-lhe a uma das pr��gas do vestido.
--Ha-de ser o pap��--disse elle.
Abriu-se a porta, e no fundo estrellado da noite, sobresaiu a elevada corpolencia de um soldado. A claridade do luar batia-lhe em cheio no rosto avincado da fadiga e queimado do sol, com grandes bigodes espessos. Os bot?es da fardeta reluziam.
--�� aqui que m��ra a sr.^a Maria La Courdaye?--perguntou elle, enxugando ao canh?o o suor copioso que lhe escorria na testa.
--Sou eu--respondeu a m?e de Miguel.
--��
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