ha duvida.
--O que �� l��?--gritou o mestre Joaquim com uma voz convulsa.--O que ��?
E ficou a olhar para o Gabriel, inclinando com o indicador o pavilh?o da orelha direita.
--Fui eu que ensinei assim--repetiu o Gabriel assustado.
--Vem c��--chamou de afogadilho o mestre--j�� aqui, seu atrevido. E bateu com a palmatoria na mesa. O Gabriel poisou o livro no logar e aproximou-se.
--Aqui j��.
O mestre descarregou-lhe nas m?osinhas tenras meia duzia de furiosas palmatoadas.
Foi muito bem feito! Apre! Offender a sabedoria do seu mestre!
* * * * *
De uma outra vez, de tarde, aconteceu passar o abbade pela aula do mestre regio. F��ra ouvia-se uma gritaria, que eu sei l��! parecia que o mundo ia acabar.
�� porta da aula estavam tres pobres mulheres, cada uma com um filhinho ao collo.
--Ahi vem o sr. abbade--disse uma d'ellas.--Vamos pedir-lhe, mulheres. Aquillo foi Nosso Senhor que o trouxe por aqui.
Abeiraram-se do abbade, e imploraram-lhe que fosse elle pedir ao mestre que perdoasse por esta vez aos rapazinhos.
--Ent?o o que aconteceu?--perguntou o reitor.
--Quem sabe l��, sr. abbade! Elles berregam, que parece que os matam!
--Se eu j�� at�� ouvi o meu Manoel, que �� tam fraquinho!
--E o meu Jo?o, sr. abbade, que tam doentinho tem andado.
--E o meu Jos��! aquelle que foi este anno �� primeira confiss?o, sr. abbade; sabe?
O abbade dirigiu-se �� porta e bateu.
--Quem ��?--perguntou de dentro a voz aspera do mestre.
--Abra, mestre Joaquim, faz favor?
O abbade entrou. Para os pequenos foi como se vissem a Providencia.
--Ent?o o que lhe fizeram estes mariolas, sr. Joaquim?--perguntou o abbade, olhando em roda para os alumnos.
--O que me fizeram? Roubaram-me dois lapis!
--Oh! que grande peccado!--exclamou o abbade, arregalando os olhos.
--E �� que nenhum confessa--explicou o mestre. E bradou, voltado para os pequenos--nenhum confessa, mas eu ra a i xo-os, aqui, todos.
O abbade poz-lhe a m?o no hombro e serenou-o, dizendo-lhe:
--Pois se nenhum confessa, �� o mesmo; que vamos j�� saber quem foi. Espere ahi que volto j��.
Sa��u o abbade, e, passados instantes, entrou na aula, precedido de uma rapariga.
Aproximou-se da mesa e disse:
--P?e tudo aqui em cima, Josephinha. Assim. Agora vai-te embora.
A pequena poisou uma panella de folha, e tirou debaixo do avental um gallo preto. O abbade metteu o gallo dentro da panella, cobriu-a com o testo, e principiou assim:
--Fez-se um grande peccado! Roubaram um lapis! Quem rouba um lapis, �� muito capaz de roubar tudo! Meus filhos, um de v��s commetteu o crime; e n?o o confessa por vergonha. Ora, por causa d'aquelle que roubou os lapis, v?o padecer todos os mais. Ahi teem! Em vez de s�� fazer um peccado, que Nosso Senhor lhe perdoava, se o confessasse e se arrependesse, vae commetter muitos: faltar �� verdade, que �� t?o feio, e depois deixar que os outros soffram injustamente.
Os pequeninos ouviam o abbade com religiosa venera??o.
O abbade proseguiu:
--H?o de vir todos, cada um por sua vez, p?r a m?o sobre esta panella. O gallo preto ha de cantar logo que sinta sobre o testo a m?o criminosa do que roubou o lapis. E fica assim conhecido o ladr?o; o sr. mestre Joaquim ha de castigal-o, e eu n?o o quero ver mais. Ora, torno a dizer, se confessar est�� perdoado.
Na aula, silencio profundo.
--Nenhum se accusa?--disse o abbade.--Venha o numero 1.
Foi o numero 1 e poisou a m?o sobre o testo. O gallo n?o cantou.
Foi o numero 2, foi o numero 3 e chegou at�� ao numero 4.
Antes de chegar a vez ao numero 5, todos os olhares convergiram para um canto da aula, d'onde partiam uns solu?os afflictivos.
--Quem chora ahi?--perguntou o abbade.
Ergueu-se o Eusebio da Entrevada.
Era um pequenino de oito annos, muito pobresinho, com um palmito de cara que estava mesmo a pedir p?o.
Era um cinco reis de gente, o Eusebio.
--�� o da Empr��gada--explicou o do Moleiro.
--Anda c��, menino--chamou o abbade--anda c��. Tu porque choras?
O pequeno aproximou-se para justificar as suas lagrimas, mostrou ao reitor os dois lapis roubados.
--Ah! foste tu, Eusebio?!
E Jesus! O pequeno chorava que era um d�� do cora??o! E nem podia responder; apenas acenava.
--Ent?o foste tu. E, olha, para que os tiraste?
--�� que o sr. mestre--balbuciou o criminoso--disse-me que trouxesse eu um lapis, e eu n?o quiz pedir o dinheiro �� minha m?e, que est�� empr��gadinha na cama, e nem tem dinheiro para o caldo. E depois com medo de que o sr. mestre me batesse...
--Pegaste n'um lapis. Foi assim?--concluiu o parocho.
--Foi, sim, senhor.
--Mas tu tiraste dois!
O pequeno desatou a chorar.
--Para que tiraste dois?--insistia o padre.
--Era--explicou o Eusebio--para quando se acabasse um!...
O mestre estava j�� de palmatoria prompta.
O Eusebio estendeu resignado a m?osinha tr��mula.
--Basta--terminou o abbade.--Eu prometti que se perdoava a quem confessasse. Para outra vez, querendo alguma coisa, vae-me pedir, ouviste? Que eu n?o tenho tempo de saber o que vos falta. Ora vae para o teu logar, e promette que n?o tornas a fazer outra.
O mestre Joaquim sentiu muito n?o
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