Compendio da relaçam, que veyo da India o anno de 1691 | Page 4

Vicente Barbosa
requeria ta? rara supplica.
Prostrouse aos pès do Vara? Apostolico o bom velho do Anga, para beijarlhe seu santo habito, a cuja imita?a? velhos, & mo?os, grandes, & pequenos, procurava? fazer o mesmo, huns se lan?ava? a seus pès, outros o abra?ava?, & alguns ao menos o tocava?, & o Anga queria logo, logo (ao que parece) abra?ar nossa Santa Ley, pois (segundo deu a entender) a seguiria atè por ella perder a vida, se fosse necessario. Em consequencia do que, se offereceo a ir pessoalmente dar parte aos Senhores de Tomongùm, & Dama?, Principes supremos, que habita? o interior daquella Ilha, hum dos quaes era seu genro; & para se determinarem as circunstancias da Embayxada, prometteo de vir ao outro dia, o que na? pode ser, por se passar toda a noite em bayles, em applauso do seu Tatùm, & de can?ado na? pode commprir a promessa, mas veyo logo ao seguinte dia, em que foi recebido do Capita? Manoel de Araujo Gracez com muito apparato, & banqueteado com igual grandesa.
Na conferencia determinou o Capita?, que em nome do Padre levasse o Anga hum presente aos Principes, & como a passagem havia de ser por terras dos Mouros, a quem o Anga era sugeito, se offereceo o Capita? Manoel de Araujo, por ser muito amigo do Rey, alcan?ar licen?a; mas como elle estava distante, & por alg[~u]as occurrencias na? o pode o Capita? buscar, & na? podendo o Anga sofrer tanta dila?a?, pelo grande alvoro?o, que tinha, m?dou dizer, que lhe levassem o presente para os Principes, que sem embargo da licen?a queria ir, para o [~q] ao dia seguinte o foi buscar o Padre, & lhe entregou o mimo, que constava de duas caixas, em que hia? alg[~u]as curiosidades da China de pouco custo, & alg[~u]s anneis, & braceletes de vidro, & por remate h[~u]a lamina bordada com a Imagem de N. Senhora da Puresa, & outra do Patriarca S. Caetano, para que tomassem posse daquellas terras, & reduzissem aquelles povos ao verdadeiro conhecimento de Deos.
Ta? aceito foi à Divina bondade este obsequio, que o mesmo foi apparecer o Anga naquellas terras, & descobriremse as sagradas Imagens, que commoveremse todos incontinentemente com prodigioso alvoro?o a admittirem a este Vara? Apostolico, para cujo effeito preparàra? muitas embarca??es, que havia em o porto, & dera? principio a h[~u]a de 14.bra?as, muito ornada, para o condusir, & em breve tempo se preparou, & o viera? esperar à bocca do rio, em que se terminava a sua jurisdic?a?, na? passando a diante por causa das guerras c? os Mouros, & deste porto despachàra? ao Anga, c? o Embayxador dos Mouros (que tinha ido trattar com elles pazes) que procurasse permisso de entrar naquelle rio, em que estava o seu Tat?m; & por haver alg[~u]a demora na chegada do Anga, & o Dam?o desejava ver ao Padre, o mandou visitar por hum cunhado seu, & depois por hum seu irm?o lhe m?dou dizer, que se fosse por seu consentimento, o levaria logo a sua casa, mas que por muitas, & efficazes ras?es n?o era conveniente: logo depois deste recado chegou o Anga com o presente do Dam?o, que constava de huns bem curiosos cestinhos de palha, & c?na, de ervas odoriferas, & de outras cousas, entre as quaes vinh?o huns bollinhos cheirosos, que estim?o tanto, que se n?o concedem, sen?o a pessoas muito grandes, & que viv?o entre elles, para que os n?o levem fóra do Estado, por cuja causa se origin?o muitas guerras, & notando-se que as raizes das ervas vinh?o cheas de terras, se soube ser esta entre elles a mayor finesa, porque com ella signific?o dar posse de seus Estados.
Sendo perguntado o Anga daquelles Principes àcerca do seu Tat?m, lhes manifestou o summo despreso, que professava das cousas temporaes, o modo, & instituto de sua Religi?o, que prohibe n?o só ter rendas, mas tambem mendigar o preciso sustento, & que seu unico intento era instruillos em a verdadeira Religi?o, sem a qual se n?o póde alcan?ar o Ceo. A tudo isto respondèr?o muito conformes, que por isso o estimav?o muito mais, & que entendi?o ser hum homem celeste, do qual esperav?o grandes felicidades, & para confirma??o desta sua Fè, estando jà a armada para partir, vir?o cair do Ceo hum globo de fogo, pelo que entendèr?o, que a sua vinda era para os alumiar: por esta causa, aonde quer que chegava a noticia do servo de Deos, todos o vinh?o ver, pedindolhe, que lhe fisesse o sinal da Cruz com agoa b[~e]ta, a qual tambem levav?o com rara estima??o; a ras?o de a estimarem tanto foi, porque na primeira visita, advertido o Anga pelo Beajù Louren?o, que tomasse agoa benta (que estava ao entrar da porta) porque o havia de livrar de muitos males; fello alli, & lhe cobrou tal fé,
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