mais;
Ella poz-se a correr por selvas, por pinhaes;?Mas caiu-lhe a lanterna,--os filhos aturdidos?A?outavam o ar de choros, de gemidos,?J�� tinha em sangue os p��s dos rijos matagaes;?Os lobos cada vez se aproximavam mais!
Na sombra, ent?o, ouviu-se um grito lacerante,?Tinham levado um!...
Terrivel, n'este instante,?Voltou-se para traz, como hyena ferida,?Desvairada, feroz, tragica, enfebrecida,?Desejando rasgar, rugir, lutar tambem;?Mas logo na sua d?r, lembrou-se que era m?e,?E que ia a exp?r os mais aos dentes agu?ados?Dos animaes crueis.--Elles, os desgra?ados,?Eram filhos tambem!--tambem seu cora??o!?--Fraca e vencida emfim poz-se a chorar ent?o.
?Ella viv��ra sempre entregue �� dura sorte,?T?o avara, cruel, que era mais doce a morte;?Sempre a escrava fiel da Familia, do Lar,?Das duras afflic??es; sabia s�� chorar;--?N?o invej��ra nunca as pompas nem os brilhos;?E at�� nem mesmo o Ceu lhe concedia os filhos!?
Dir-se-hia a noute eterna, a noute desolada;?Come?ou a correr nos campos desvairada;?Depois voltou atraz... ouviu-se um ai profundo;?Uivavam outra vez--Levaram-lhe o segundo.
Ent?o o medo escuro apederou-se d'ella!...?N?o se via no ceu tremer nem uma estrella,?A solid?o profunda, a nevoa fria, intensa,?E em toda a parte s�� chovendo a neve immensa.
Proseguiu a correr, louca, feroz, sem tino,?Quasi o filho a esmagar d'encontro ao seio fino,?Na dura escurid?o, chamando em altos brados?Os nomes immortaes, os symbolos sagrados;?Pedindo compaix?o, miseravel, vencida,?Fraca, chorando j�� aquella negra vida,?Convulsa de terror;--mas, longe, lentamente,?Come?aram a uivar os lobos, novamente.
De novo retomou a barbara carreira?Desalentada j��; at�� que quasi �� beira?D'um fosso aberto ali n'uma vereda escura,?Como um cadaver cae em uma sepultura,?Por fim, quebrada, hostil, olhando os negros ceus?Caiu cheia de d?r, injuriando Deus.
No ceu surgia a lua--e j�� se ouvia agora,?Mais perto, elles uivar na solid?o sonora;--?Ali, ella aguardou que fossem devoral-a.?..........................................?Serena ergueu-se a lua, a lua c?r d'opala!...
*MISERIA OCCULTA*
Bate nos vidros a aurora,?Vem depois a noute escura;?E o pobre astro que ali m��ra,?N?o abandona a costura!
Para uns a vida �� d'abrolhos!?Para outros mouta de lyrios!?Bem o revelam seus olhos,?Pisados pelos martyrios!
Miseria afugenta tudo!?Miseria tem dons funestos!?Quem �� que gaba o velludo?D'aquelles olhos honestos!...
Ninguem seus olhos brilhantes?Descobre n'essas alturas...?E aquellas formas t?o puras,?E aquellas m?os elegantes!
Sempre �� costura inclinada!?Morra o sol ou surja a lua?Nunca vi descer �� rua?Aquella loura encantada!
Aquelle lyrio dobrado?Por que assim vive escondido!?Eu bem sei!--n?o tem cal?ado!?E �� muito usado o vestido!
Por isso n?o tem porvir?Morrer�� virgem e nova,?E aguarda-a bem cedo a cova...?Que eu bem a ou?o tossir!
Miseria afugenta tudo!?Miseria tem dons funestos!?Quem �� que gaba o veludo?D'aquelles olhos honestos!
Pobre flor desfalecida?T?o nova e ainda em bot?o!?Como teve estreita a vida,?Ter�� estreito o caix?o!
*LISBOA*
Cette ville est au bord de l'eau; on dit qu'elle este batie en marbre...?(Baudelaire)
De certo, capital alguma n'este mundo?Tem mais alegre sol e o ceu mais cavo e fundo,?Mais collinas azues, rio d'aguas mais mansas,?Mais tristes prociss?es, mais pallidas crean?as,?Mais graves cathedraes--e ruas, onde a esteira?Seja em tardes d'estio a flor de larangeira!
A Cidade �� formosa e esbelta de manh?!--?�� mais alegre ent?o, mais limpida, mais s?;?Com certo ar virginal ostenta suas gra?as,?Ha vida, confus?o, murmurios pelas pra?as;?--E, ��s vezes, em roup?o, uma violeta bella?Vem regar o _craveiro_ e assoma na janella.
A Cidade �� beata--e, ��s lucidas estrellas,?O Vicio �� noute sae ��s ruas e ��s viellas,?Sorrindo a perseguir burguezes e estrangeiros;?E �� triste e dubia luz dos ba?os candieiros,?--Em bairos sepulchraes, onde se d?o facadas--?Corre ��s vezes o sangue e o vinho nas cal?adas!
As mulheres s?o v?s; mas altas e morenas,?D'olhos cheios de luz, nervosas e serenas,?Ebrias de devo??es, relendo as suas _Horas_;?--Outras fortes, crueis, os olhos c?r d'amoras,?Os labios sensuaes, cabellos bons, compridos...?--E ��s vezes, por enfado, enganam os maridos!
Os burguezes banaes s?o gordos, ch?os, contentes,?Amantes de Cupido, avaros, indolentes,?Graves nas prociss?es, nas festas e nos lutos,?Bastante sensuaes, bastante dissolutos;?Mas humildes crhist?os!--e, em lugubres momentos,?Tendo, ainda, crueis saudades dos conventos!
E assim ella se apraz n'um somno vegetal,?Contraria ao Pensamento e hostil ao Ideal!--?--Mas mau grado assim ser cruel, avara, dura,?Como Nero tambem d�� concertos �� lua,?E, em noutes de ver?o quando o luar consolla,?P?e ao peito a guitarra e a lyrica violla.
No entanto a sua vida �� quasi intermitente,?Afunda-se na ina??o, feliz, gorda, contente;?Adora inda as ac??es dos seus navegadores?Velhos heroes do mar; detesta os pensadores;?Faz guerra a Vida, �� Ac??o, ao Ideal--e ao cabo?�� talvez a melhor amiga do Diabo!
*A SESTA DO SENHOR GLORIA*
�� no fim do jantar. Deram tres horas?No bom relogio antigo dos av��s,?E o senhor Gloria pega n'uma noz?Com um ar de quem trata com senhoras.
A casa de jantar toda pintada?E o estuque cheio d'aves, de paysagens,?De nymphas, prados, d'aguas, de boscagens,?Tem uma forma antiga e recatada.
D'involta com seus goles de Madeira?A senhora digere o seu caf��;?E ao lado, um filho rubido de p��?Parece um pregador sobre a cadeira.
No collo da matrona dorme um gato?No melhor somno commodo do mundo,?Em quanto em baixo um c?o grave e profundo,?Contempla uns restos que inda est?o n'um prato.
O senhor Gloria falla, chocarreiro,?Do seu cunhado Aleixo de Miranda;?L��
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