Chronica del rei D. Diniz | Page 8

Rui de Pina
no seu Regno do Algarve hum Castello mui forte, que dizia? Crasto Marim, que era na frontaria dos Mouros Despanha, e Dafriqua, na quaal Fortaleza se podia fazer novo Convento, e nova Religia?, em que entrassem novos Cavalleiros de Jesu Christo lidadores por defen?a? da sua sancta Fee, e por seu acrecentamento.
Ho quaal Castello lhe aprazia tirar da Coroa de seu Regno, e dalo de todo por seu isento aa dicta nova Ordem que se fizesse em que averia muitos Cavalleiros de continoa, e for?osa resistencia contra hos imigos da Fee, e que estes beens dos Templarios dividamente se poderia? conceder, e apropriar, e porém pediam ha Sua Santidade em nome delRei D. Diniz, que assi ho quizesse outorgar, pelo quaal ho Papa, e Cardeaes vendo ha sancta ten??o, e boom dezejo delRei aacerca do servi?o de Deos, e de sua Fee, satisfez em todo ha suas onestas peti?oens, e ouve por beem de se fazer ha nova Ordem de Cavallaria de Christo, que agora hee, aa quaal hos dictos beens, e couzas dos dictos Templarios fossem pera sempre atrebuidas, e que hos Freires della fizessem sua profissa? pela Regra, e Estatutos da Ordem de Calatrava, e que ho Abbade Dalcoba?a, que pelo tempo fosse vizitasse esta Ordem; com outras mais crausulas, e folenidades que nas Bulas da nova institui?a? sa? conteudas, has quaaes hos dictos Procuradores trouxeram ha ElRei D. Diniz, que era na Villa de Santarem, com que foi mui alegre.
E ali foi feita, estabelecida, e decrarada ha dicta nova Ordem de Christo, e foi logo della ho primeiro Mestre D. Frei Gil Martins, que ent?o era Mestre Daviz, e foi esto feito, e celebrado na dicta Villa de Santarem no mez de Maio da era de mil trezentos e vinte annos, (1320) avendo jaa doze annos, que ha dicta Ordem do Templo era jaa destroida por cobi?a do dicto Rei Felippe de Fran?a, ha cujas culpas Deos que hee em todo justo, nom tardou muito com justi?a e pena, porque este Rei Felippe correndo monte ho cavallo em que corria arrastrando como touro ho matou, e delle ficara? tres filhos, e huma filha Dona Isabel, ha saber ho maior Felippe, e o segundo Luis, e ho menor Carlos, e ha filha Dona Isabel que cazou com ElRei D. Anrique Dingraterra, hos quaaes todos morreram sem delles ficar erdeiro de Fran?a, e ficou desta vez estinta ha gera?a? dos Rex de Fran?a, que viera? de Ugo Capet.
Nos quaaes annos que ha Ordem de Christo nom foi feita, El-Rei D. Diniz recolheo pera si has rendas da dicta Ordem do Templo como dice, e dellas ouve solene quita?a? dada, e outorgada pelo dicto novo Mestre de Christo fundada em razoens que parecia? asaas justas, e onestas, e por compensassa? desso se deu aa dicta Ordem ho Castello de Crasto Marim, onde primeiramente foi ordenado ho Convento della, e depois se mudou aa Villa de Thomar, onde era ho Convento dos do Templo.
Ha quaal Ordem de Christo por proprios Mestes, e com nomes de Mestres se governou, e regeo atee ho tempo do Ifante D. Anrique, filho legitimo delRei D. Joha? deste nome ho primeiro de Portugal, que da dicta Ordem foi ho primeiro, e perpetuo administrador, ho quaal por sua singular deva?a?, e grandeza de animo por nom seer cazado, nem teer filhos, acrecentou muito na dicta Ordem ha que procurou, que fossem dadas muitas rendas com jurdi?am do Espiritaal das Ilhas de Guinee, que elle primeiramente descobrio, e depois ha dicta Ordem em rendas, e comendas, e jurdi?oens, e em privilegios, e liberdades foi muito mais ennobrecida, e acrecentada em tempo delRei D. Manuel N. Senhor, que della tambem por autoridade Apostolica foi perpetuo Governador ha que creceram re?oens, edeficios, e excellentes Ornamentos, e novas comendas, e ha vintena das grandes riquezas das Indias, Arabia, Persia, que elle como Princepe virtuozo, e de grande animo, novamente mandou descobrir, e achou, como em sua Coronica mais propria, e largamente hee decrarado.

CAPITULO XVIII
_Da discordia, que ouve antre ElRei D. Dinis, e ho Ifante D. Affonso seu filho erdeiro, e has causas porque._
Atraaz fica escrito has deficuldades, e trabalhos com que ElRei D. Diniz cazou o Ifante D. Affonso seu filho, com ha Ifante Dona Breatiz, filha delRei D. Sancho de Castella, e por lhe teer grande amor, e afei?a? como ha reza? requeria, lhe deu sua caza em Lixboa, com muitas, e gra?des festas, pera que de seus poovos ouve grandes ajudas, e assi se acha, que aalem de muitas Villas, e teerras, que tinha lhe ordenou mais de seu assentamento, em cada hum anno oitenta mil livras, que estimadas segundo ha valia da prata daquelle teempo, valiam da moeda dagora trinta e dous mil cruzados, ha reza? de duas livras, e meia hum cruzado, que hee verdadeira conta, e
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