Chronica del rei D. Diniz | Page 9

Rui de Pina
sua caza em Lixboa, com
muitas, e graãdes festas, pera que de seus poovos ouve grandes ajudas,
e assi se acha, que aalem de muitas Villas, e teerras, que tinha lhe

ordenou mais de seu assentamento, em cada hum anno oitenta mil
livras, que estimadas segundo ha valia da prata daquelle teempo,
valiam da moeda dagora trinta e dous mil cruzados, ha rezaõ de duas
livras, e meia hum cruzado, que hee verdadeira conta, e asaaz aprovada,
como outras vezes jaa dice, e assi em todalas couzas, que occurriam se
vio que ho honrava, e estimava muito, e tinha cuidado de lhe criar seus
filhos, porque jaa atee este teempo elle ouvera ho Ifante D. Affonso,
que menino faleceu em Penella, e assi ouve ho Ifante D. Diniz, que seu
avoo ElRei D. Diniz com grande amor criava em sua caza, e nella
faleceu moço, porque ElRei foi tam anojado, e triste que nom sabia,
nem podia com nenhuma couza seer ledo, nem consolado, e em tanto
estremo sentio ha morte deste seu neto, que ho Papa lhe escreveo
sobresso hum Breve de consolaçam, cheio de muita prudencia, e
graãdes confortos.
E por estas cauzas aalem das outras obrigações naturaaes, e Reaaes que
nelle avia, nom hee de duvidar, que ho Ifante D. Affonso devera
sempre de amar, e obedecer sobre todos a ElRei D. Diniz seu padre, e
assi lhe acatar por aver abençam de Deos, e ha sua, ho que em principio
de sua idade, em seendo Ifante nom se acha seer assi, antes ho contrairo,
cuja verdade, e declaraçam em cazo, que por sua graveza nom seja
doce, nem gracioza couza pera ouvir, porém ha necessidade de sua
Estoria, que escrevo obriga, e constrange ami que ho nom cale,
principaalmente por mostrar, que hos lizongeiros, e maaldizentes antre
hos padres, e hos filhos nunca ajam lugar, nem sejam ouvidos, que se
estes nom foram cridos, nom ouvera tantas cauzas de desavença dantre
ElRei, e seu filho, e assi pera que se saiba quam grande erro hee daar
pena, e castigo ha algumas pessoas por quaalquer maal, que delles seja
dicto posto que traga em si muita cor de verdade, atee elle sem paixaõ
nom seer primeiro sabido, e justificado, e tambem porque nos erros, e
graveza, que se vir nas desobediencias, e desacatamentos que ho Ifante
teve ha ElRei seu padre se vejam, e resprandeçaõ mais craro has
boondades, e merecimentos dos filhos, quando acerqua de seus padres
usarem ho contrairo.
E porque nestas desavenças delRei, e de seu filho ouve, e se passaraõ
muitas, e mui largas couzas, que seriaõ mui longas pera escrever, eu

dellas soomente apurarei brevemente has principaaes, e has que pera
esta Estoria mais necessarias me parecerem. E segundo ho que acho, e
pude comprender, tres rezoens ouve, e todas sem cauza, nem rezaõ,
porque ho Ifante D. Affonso se moveo ha esta sua desobediencia contra
seu padre, das quaaes ha primeira foi em Beja, por sentir que ElRei D.
Diniz queria grande beem ha D. Affonso Sãches, e aho Conde D. Joaõ
Affonso seus filhos naturaaes, hos quaaes segundo se acha nom
serviam, nem catavaõ aho Ifante como elle desejava, e merecia, e deste
conto nom era ho Conde D. Pedro tambem seu irmaão bastardo, e de
todos hos bastardos ho mais velho, porque sempre seguio ha parte do
Ifante, e por esso foi ha requerimento de D. Affonso Sanches
desterrado de Portugal pera Castella, e todas suas teerras, e fazenda
tomadas, e depois retornado, como aho diante se diraa, e ha segunda
cauza foi ha grande cobiça, e desordenado desejo, que sempre teeve de
aver, e cobrar pera si has riquezas, e tezouros delRei seu padre, e ha
terceira por querer, que em toda maneira ElRei deixasse, e tirasse de si
ha Justiça, e Governança do Regno, e livremente ha deixasse ha elle.
E porém em algumas destas couzas nom avia cauza, nem rezaõ que
pera ho Ifante nom fosse grande erro querellas, e muito mais
procurallas, porque ElRei querer beem ha D. Affonso Sanches, e aho
Conde D. Joaõ era grande rezaõ, e assi por seerem seus filhos, como
por hos achar sempre em todolas couzas mui conformes aa sua vontade,
e ha seu serviço mui obedientes, especialmente que ha afeiçaõ, que
ElRei lhes mostrava nom empedia, nem mingoava ho do Ifanto seu
filho, mas como ho amor, e senhorio sempre querem seer senhores, por
esso saõ mui amiude mui cheios de ciumes, e sospeita, pelo quaal ho
beem, que ElRei mostrava ahos outros seus filhos cauzava na vontade
do Ifante mui duvidosa tençaõ, com que enganandose cuidava, que
ElRei ho nom amava tanto, quanto devia, e por esso por todolas as
maneiras, que podia trabalhava, e procurava de apartar, e desavir estes
filhos delRei seu padre, assi como logo fez
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