Chronica de el-rei D. Pedro I | Page 5

Fernão Lopes
Jo?o Fernandes era enviado, foram faladas muitas cousas com el-rei de Portugal, e n?o se accordando por ent?o em algumas d'ellas, depois acertaram todas suas aven?as, como adiante ouvireis.

*CAPITULO III*
_Das cartas que o papa, e el-rei da Arag?o enviaram a el-rei de Portugal sobre a morte de el-rei, seu padre_.
El-rei Dom Pedro escrevera ao papa, e a el-rei de Arag?o, por novas, quando el-rei Dom Affonso morreu, como seu padre era morto, e elle al?ado por rei em Portugal.
E tendo cada um cuidado de lhe responder, chegaram lhe n'esta sez?o suas respostas. E a letra do papa dizia assim:
?Innocencio, bispo, servo dos servos de Deus, ao muito amado, em Christo, filho Dom Pedro, mui nobre rei de Portugal, saude e apostolical ben??o.
Porquanto, muito amado filho, por tuas letras, e fama, fomos certificado como o mui claro, de nobre memoria, el-rei Dom Affonso teu padre, se finou d'este mundo, sua morte foi a n��s, e ��, mui grande nojo e tristeza. E n?o sem raz?o o devemos ser, quando em nosso cora??o cuidamos nas bondades e virtudes de que sua real alteza era muito ennobrecida, por cuja raz?o o muito amavamos, desejando-lhe que, entre todos os principes do mundo, o Senhor o accrescentasse, e estendesse seu real estado, com prolongamento de bem aventurados dias, nos quaes, acabando sua honrada velhice, a ti, seu primogenito filho, deixasse o regimento e success?o do reino em firme concordia com teus visinhos.
E pois assim �� que o Senhor Deus, em cuja m?o �� o poderio de dar a cada um vida e morte, lhe prouve de piedosamente o levar d'este mundo, n��s p?mos fim e acabamento �� nossa d?r e tristeza, consolando-nos n'este Senhor que d�� e priva e tolhe, quando quer que lhe praz, no qual havemos firme esperan?a que nos altos ceus dar�� bom galard?o e gloria �� alma de el-rei, teu padre, pois, emquanto n'este mundo viveu, se trabalhou de o servir com bons merecimentos, e lhe aprouve com dignas virtudes.
E assim, muito amado filho, piedosamente te consolamos, que te consoles no Senhor Deus, e consideres em tua vontade como succedes no regimento de teu padre, o qual, por exemplo da vida, se mostrou sempre ser fiel catholico.
Por��m, requeremos �� tua real clareza, que sempre, com firme desejo, vivas em temor do Senhor Deus, honrando a sua santa igreja, e, sendo favoravel ��s ecclesiasticas pessoas, as mantenhas sempre em seus direitos e liberdades; e que sejas amador e defensor das viuvas e dos orf?os, al?ando os aggravos aos teus subditos, que lhes n?o seja feita injuria; e que, sem recebimento de alguma pessoa, sempre sejas honrador e amador da justi?a, de guisa que, por tuas obras, sejas chamado por nome de rei que bem rege: e sei certo, se o assim fizeres, que sempre em teus dias viver��s em paz e folgan?a, havendo Deus em tua ajuda, e a sua santa igreja te haver�� em sua encommenda, sendo prestes para toda a tua honra e cumprimento de justas peti??es. Diante em Avinh?o, etc.?
N'outra carta, de el-rei de Arag?o, eram conteudas estas raz?es:
?Muito alto e mui nobre Dom Pedro, pela gra?a de Deus, rei de Portugal e do Algarve: Dom Pedro, por essa mesma gra?a, rei de Arag?o, e de Valencia, e de Mayorca, e de Sardenha, e de Corsega, e conde de Barcelona e de Rossilh?o, saude, como a rei que temos em logar de irm?o, que muito amamos e prezamos, e de que muito fiamos, e para que queriamos muita honra e boa ventura, com tanta vida e saude como para n��s mesmo.
?Rei, irm?o. Recebemos vossa letra, pela qual nos significastes a morte do mui alto e mui honrado el-rei Dom Affonso de Portugal, vosso padre, a que Deus perdoe. E por essa mesma nos fizestes saber que v��s, assim como seu primogenito e herdeiro dos ditos reinos, ereis levantado por rei de Portugal. Das quaes novas, em verdade, Rei irm?o, houvemos desprazer e prazer juntamente: desprazer da morte do dito rei, o qual sabiamos que nos amava como seu filho e n��s a elle como a nosso muito amado padre; mas como da morte nenhuma pessoa seja isenta, e o dito rei seja saido da miseria d'este mundo, doendo-nos d'ella, se por n��s alguma cousa pudesse ser feita, muito prestes eramos de o fazer, por��m rogamos a Deus, em cuja m?o �� vida e morte de cada um, que receba sua alma com os seus santos no paraiso, fiando n'elle que o ha feito. Prazer outro sim houvemos mui grande, Rei irm?o, quando soubemos que ereis al?ado em rei de Portugal e do Algarve, pela success?o herdeira a v��s por direito pertencente, e crendo saber que, assim como n��s tinhamos o dito rei em conta e logar de padre, assim entendemos de ter a v��s em conta de nosso irm?o,
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