Chronica de el-rei D. Affonso Henriques | Page 9

Duarte Galvão
este tanto nos seus augmentos que não
cabendo na esfera de sua propria grandeza se multiplicou em duas
Sagradas Sedes, nas quaes, uma conservando o titulo de Archiepiscopal,
que já tinha, se separou com a differença de Oriental por respeito do
sitio que tem na Corte, e a outra com o distintivo de Occidental que é o
sitio deste Reino a respeito do Mundo, se exalta com o especioso titulo
de Patriarcal sendo a primeira que o logra em todo elle. Por ventura que
tanta gloria lá tenha o seu proporcionado auspicio, no seu glorioso
fundador, que tambem foi o primeiro em Portugal; mas sem questão,
deve o seo glorioso augmento á Serenissima, Augustissima, Felicissima,
e sempre Magnifica Magestade do Senhor Rei D. João o V no nome
que somando na linha de todas suas acções sempre em tudo heroicas,
em tudo excellentes, e magnanimas em tudo, o numero admiravel de
todas as de seus gloriosissimos Progenitores se dignou illustra-las com
a Real preheminencia de engrandecer a sua Corte com uma Santa Sé
Patriarcal, realçando seus lustres com o feliz, e premeditado acerto de
instituir por seu primeiro Patriarca ao Meritissimo, Illustrissimo, e
Reverendissimo Senhor D. Thomás de Almeida da Nobilissima Casa de
Avintes, Bispo que foi de Lamego, e Porto; e para que finalmente na
sua Corte pela destas Igrejas Occidental, e Oriental constasse
notoriamente o ardentissimo desejo, que rezide no seu religioso coração
de que o nome da Divina Magestade, o Rei dos Reis, e Senhor dos

Senhores seja sempre louvado desde o Oriente onde o Sol nasce, té o
Occaso onde fenece: «A Solis ortu usque ad Occasum laudabile nomen
Domine».
Tão gloriosos progressos, tiveram o seu feliz principio nas acções do
Serenissimo Senhor D. Affonso Henriques, que esta Chronica descreve,
e é mais que justo, saiam a luz do mundo, que pertende dar-lhe este
Restaurador das primitivas, e estupendas memorias de Portugal, para
que por benificio da estampa resuscite no mundo um vivo modelo da
Magestade, um elegante exemplo do valor, e um famoso trofeo da
admiração. Este o meu parecer salv. semp. mel. Carmo de Lisboa
Occidental 1 de Agosto de 1726.
Fr. José de Sousa.
Vista a informação, póde-se imprimir a Chronica de que se trata, e
depois de impressa tornará para se conferir, e dar licença que corra,
sem a qual não correrá. Lisboa Occidental, 3 de Agosto de 1726.
D. F. Arcebispo de Lacedemonia.
DO PAÇO
_Approvação do Reverendissimo P. Mestre D. José Barbosa, Clerigo
Regular da Divina Providencia, Chronista da Serenissima Casa de
Bragança, e Academico do Numero da Real Academia da Historia
Portugueza, &c_.
SENHOR
Por Ordem de V. Magestade vi a Chronica d'El-Rei D. Affonso
Henriques, que compoz Duarte Galvão, e que quer mandar imprimir
Miguel Lopes Ferreira. De um louvo o zelo em fazer publicar as
Chronicas dos nossos Reis, que tantos tempos ha que se conservam
manuscritas, e do outro não posso deixar de lhe não occultar a
negligencia com que se houve na composição desta Chronica, porque
parece que não fez exame algum para o que havia de escrever. Mas
como vejo riscados nella alguns Capitulos, e tudo vejo reformado pelo

Doutor Frei Antonio Brandão Chronista mór deste Reino no 3.^o tomo
da Monarchia Lusitana, bem se póde imprimir sem escrupulo. Vossa
Magestade ordenará o que fôr servido. Nesta Casa de N. Senhora da
Divina Providencia 12 de Agosto de 1726.
D. Jose Barbosa C.R.
Que se possa imprimir vistas as licenças do S Officio, e Ordinario, e
despois de impresso tornará á Mesa para se conferir, e taxar, que sem
isso não correrá. Lisboa Occidental, 22 de Agosto de 1726.
Pereira.--Galvão.--Teixeira.--Bonicho.

_Chronica do muito alto, e esclarecido princepe D. Affonso Anriques,
primeiro Rei de Portugal_

CAPITULO I
_Como El-Rei D. Affonso de Castella chamado Emperador, casou sua
filha Dona Tareja com o Conde D. Anrique, dando-lhe em casamento
Portugal por Condado com certas condições_.
Começando de escrever das vidas, e mui excellentes feitos dinos de
eterna memoria, dos mui esclarecidos Reis de Portugal, encomendo-me
áquelle guiador de seus nobres, e virtuosos corações Espirito Santo, que
assi participou com elles de sua infinda graça para as obras, me queira
dar alguma para os escrever, e assentar em devida lembrança, por tal
que não pareçam falecidas minhas palavras na grande excellencia de
tão louvadas obras, de cujo louvor a primeira prova, e testemunho será
o meu esforçado, e manifico Rei D. Affonso Anriques, primeiro Rei de
Portugal, fundamento logo proprio, e necessario, por Deos ordenado
para tão alto cume da gloria destes Reinos, como nelle edeficou,
segundo que seu immenso louvor não menos se verá ao diante
acrescentado, e conformado pelos Reis seus successores, os quaes,
contando deste primeiro Rei, são por todos quatorze com o Serenissimo

de todo louvor illustrado El-Rei D. Manuel N. Senhor, o qual
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