Chronica de El-Rey D. Affonso II | Page 5

Rui de Pina
se dirá. E este Rei Dom Affonso de Castella ao tempo desta
batalha era de cincoenta e seis annos, e no anno seguinte tendo Cortes
em Burgos, se diz que mandou a ellas chamar a este Rei de Portugal
seu genro, ás quaes elle não quiz ir, e elle anojado desso, determinou
fazer-lhe guerra, e tomar-lhe os Reinos se podesse, e que com este
fundamento indo para Prazença adoeceo no termo de Revaldo em uma
Aldea, que se diz Martim Manhos, e ahi faleceo, e foi dahi levado, e
sepultado no Moesteiro das Holgas de Burgos, que elle novamente
fundou, e outros dizem que vinha para se ver no extremo de Portugal
com seu genro para o aconselhar em suas couzas, e debates em que
andava, com suas irmãs, e que todavia faleceo no dito lugar, porque
tambem este Rei Dom Affonso de Portugal logo como Reinou não lhe
faleceram grandes necessidades, e afrontas de excommunhões do Papa,
e de guerras, e desavenças que houve com suas irmãs a Rainha Dona
Tareja, molher que fora del-Rei Dom Affonso de Lião, e da Ifante
Dona Sancha, de que a cauza brevemente foi esta.
El-Rei Dom Sancho, como em sua Coronica disse, leixou em seu
testamento á Rainha Dona Tareja, sua filha, que fora cazada com o dito
Rei Dom Affonso de Lião, a Villa de Monte mór o Velho, e Esgueira, e
mais dez mil maravedis douro, e certa prata, e que se ella morresse, que

houvesse estes Lugares a Ifante Dona Branca sua irmã della, e leixou á
Ifante Dona Sancha a Villa Dalanquer, e dez mil maravedis douro, e
tambem prata, e que se ella falecesse, que houvesse a Villa a Ifante
Biringela sua irmã, das quaes Villas, e cousas ellas houveram a posse, e
as tinham; mas El-Rei Dom Affonso seu irmão em caso que fosse
contra seu juramento, e menagem, não quiz estar inteiramente pelo
testamento del-Rei seu padre, antes como Reinou logo pedio as ditas
Villas, e Fortalezas a suas irmãs, dizendo: «Que El Rei seu padre lhas
não podia dar, que era em mui grande diminuição do Reino, e que era
sobresso concedido privilegio do Papa Alexandre Terceiro, por o qual
as cousas do Reino senão podiam dar a alguma pessoa nem emlhear, e
que assás lhe leixara a ellas nos maravedis douro, e prata de seu
testamento com outras cousas, que tinham de suas fazendas.
E sobre este requerimento El-Rei, e a Rainha, e as Ifantes suas irmãs
por lhe darem reposta, pediram dias de liberação, dentro dos quais ellas
se recolheram logo com a Ifante Dona Branca sua irmã ao Castello de
Monte mór, e o basteceram, e fortalezaram, e deshi se emviaram logo
aggravar ao Papa Innocencio III que ficára por executor do testamento
del-Rei seu pai, e por esso lhe leixou o dito Rei D. Sancho seu pai cem
marcos douro, e assi o fizeram ellas mais saber ao dito Rei de Lião com
que a dita Rainha Dona Tareja fora cazada, e era apartada delle pela
Egreja, de que houveram logo ajuda, e soccorro, a que por seu mandado
veo logo o Ifante Dom Pedro seu irmão dellas filho del-Rei Dom
Sancho o que depois passou a Marrocos, e trouxe aos ossos dos
Martyres, e assi veio ao dito soccorro, e ajuda o Ifante Dom Fernando
filho da dita Rainha Dona Tareja, e del-Rei Dom Affonso de Lião, e
assi veo em sua companhia Dom Pedro Fernandes de Castro o
Castellão, aquelle que em companhia dos Mouros foi prezo em
Portugal, e logo solto, e depois passou, e morreo em Marrocos, e com
alle veo muita gente, que foi nos estremos de Portugal, donde enviaram
ás ditas Villas, e Fortalezas de Monte mór, e Alanquer aquella que
comprio para defenção dos Castellos, e para resistencia del-Rei Dom
Affonso de Portugal, o qual por sentir muito o insulto tamanho dos
estranhos, e tão grande desobediencia dos seus naturaes, veo logo á dita
Villa de Monte mór, e por algumas vezes requereo a suas irmãs, e
principalmente a Dona Tareja, cuja era, que houvesse por bem de

desistir de seu alevantamento, e quizesse que o Castello se entregasse a
algum homem de que ambos se confiassem para o ter em boa guarda, e
fieldade, e que de sua fazenda delle lhe faria dar todas dispezas, e
mantimentos para esso necessarios, e que este arrecadasse inteiramente
para ella todas as rendas, e direitos da Villa, mas que as menagens
fossem feitas a elle, o que ella nunca quiz fazer, antes se diz que
consentio, que os de dentro em desprezo, e por injuria del-Rei seu
irmão calando o nome do Reino, e del-Rei de Portugal a que deveram
acatar, e obededer, envocaram, e chamaram o nome de Lião, que
repetiam muitas vezes, e que outro
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