Cantos Sagrados | Page 7

Manuel de Arriaga
concilia?Ras?o e Fé, Justi?a e Consciencia:?Ah quero-te Jesus! por meu escudo,
Por meu amparo e guia!
Na Sé de Lisboa
na quarta feira de trevas
1888.
XI
Fé E RAS?O
A CRUZ E O PáRA RAIOS
Da velha cathedral, esbella e rendilhada,?Votada a ser mans?o do Deus, author do mundo,?Na flecha a mais gentil, campeia aben?oada?A cruz do Redemptor, da Gallilêa o oriundo!
Nos impetos da fé, cortantes como a espada,?O ungido do Senhor, d'olhar cavo e iracundo,?Aponta á multid?o, humilde e ajoelhada,?Por seu supremo amparo a cruz, no azul profundo!
Em nome d'ella exal?a a fé porque a aviventa,?E diz mal da ras?o que tenta, em v?os ensaios,?Dos ceus arrebatar a luz, de que é sedenta!
Mas do alto onde ella está, que causa até desmaios,?Temendo que a derrube o fogo da tormenta:?Em nome da Ras?o lhe p?e um pára raios!...
Outubro de 1888.
XII
AMOR E PROVIDENCIA
Em quanto eu, alta noite, velo e lido,?Por vós mantendo innumeros cuidados,?Dormis, caros filhinhos, socegados?Em torno a mim o sonho appetecido!
Dormis?! sonhaes de certo... e eu pae envido?Meus esfor?os por vêr realisados?Vossos sonhos gentis e perfumados:?Ampara-vos um peito estremecido.
Outro Alguem faz por nós o que eu vos fa?o:?Com suprema bondade e sapiencia,?Rege os mundos que rolam pelo espa?o!
Esse Alguem é o Amor por excellencia,?O formidavel e invisivel bra?o,?E o olhar que nunca dorme==_a Providencia_==!
Lisboa, 1885.
XIII
á GUERRA!
O QUE EU SINTO...
Se vejo com pavor as luctas carniceiras?Que empenham as na??es, chamadas as primeiras,
Nos campos da batalha,?Ah! quando a sós comigo e o Eterno me concentro,?Ou?o n?o sei que voz a mim bradar cá dentro:
==é Deus que ali trabalha==!
Por mais que ousado v?o aos ceus a aguia eleve,?Nos ceus ha um limite além do qual em breve
Fallece a aza e taes?Como as aguias os reis!... Subiram, mas solemne.?O dia ha de chegar em que Deus os condemne
E brade-lhes==N?o mais==!
No ch?o n?o ha raiz que diga á Terra==estanca?A seiva que me dás==! Nem aguia ou pomba branca
Que engeite o v?o alado!...?N?o ha um lavrador que entaipe em cal e pedra?A fonte de chrystal, de cujas aguas medra
A arvore, a flor, o prado!...
E onde ha no mundo um povo a outro povo extranho?!... Ou odio figadal, intrinseco, tamanho
Que a todos nos divida?!?Se a Terra, o mar profundo e o proprio sol s?o pouco?Por darem vida a um lyrio: haverá hoje um louco
D'um Cezar que decida,
D'encontro ás sabias leis por Deus dadas ao mundo,?Que um homem, cujo peito infinito e profundo
Abrange a Terra e os Ceus,?Guerreie o proprio irm?o que é d'elle a propria essencia, A luz, o ar, a vida, a for?a, a providencia,
Que deste-lhe, meu Deus?!
Oh n?o!... Tu mandarás o dia em que a Justi?a?Obrigue-os a expiar com fronte submissa
Dos crimes o estendal?Que encheu de sangue e horror as paginas da Historia, Servindo de li??o, ficando por memoria,
Em prol do teu Ideal!...
E o mundo hade voltar á fonte d'onde veio,?E ser todo elle amor, justi?a e paz!... Já leio
Signaes _de nova Luz_!...?As cren?as do Passado estando já em terra,?Vem prestes a surgir a nova Lei que encerra
Os sonhos de Jesus!...
E eu beijo e adoro a m?o que impelle e rege o mundo,?Que deu a flor ao campo; os sóes ao firmamento,
E o espirito divino?Aos nossos cora??es! Que a toda a creatura,?á flor que desabrocha, ao astro que fulgura,
A todos deu destino!
Por isso eu n'este mar, sobre este ch?o d'abrolhos,?Por onde cae amaro o pranto dos meus olhos,
De fito no Senhor,?De fito no Ideal, minha alma n?o se inquieta:?Confia e sobe a Deus, é como a borboleta
Que vae poisar na flor!
Bussaco, 1870.
XIV
á PAZ DOS POVOS
HOMO, EX HOMINIS LUPO, HOMINIS COOPERATOR
De lobo te foi dado outrora o nome,?Lobo que a propria especie devastava?Cruento e fero, qual n?o viras nunca?Le?es, pantheras, tigres ou chacaes!...
E a fera, quando a fome
A incita, é quando crava
O dente e a garra adunca
Nos miseros mortaes.
Da massa do teu cerebro colhendo?A luz consciente e pura das ideas,?Concebes mil engenhos homicidas,?Inventos d'infernal destrui??o!
Com elles, monstro horrendo!
Ha seculos semeias,
Em guerras fratercidas,
A morte e a assola??o!...
Mas como as for?as cosmicas da Terra?Cessaram suas luctas de gigantes,?Trazendo á luz
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