Cantos Sagrados | Page 5

Manuel de Arriaga
querida!...?E eu, em face d'ella, a contemplar-lhe a Vida!...
Ent?o a Luz, qual fl?r, subtil e sorridente,?Me disse a mim que sou seu terno confidente:
Poeta! vês o mundo alegre e harmonioso;...?Em intimo convivio unido o sol á terra,?E a terra e o sol aos céus!... No enlace auspicioso,?Permutam entre si os bens que a Vida encerra!...
A vida é sim um Bem; por isso é dada a todos!...?A todos por egual, a infindas creaturas,...?Que, em multiplo labor, e por differentes modos,?Procuram-no attingir na terra, e nas alturas!...
áquelle que transp?e as portas da existencia?Um vinculo d'amor protege-o logo, e fica?Ao mundo inteiro preso, em mutua dependencia,?Ah desde a larva obscura ao sol que a vivifica!..
Qualquer que seja o nome, ou chama-lhe Verdade,?Belleza, Amor, Justi?a: é tudo a mesma cousa!...?é quem fecunda e rege os soes na immensidade;?Quem dá ao universo a paz em que repousa!...
Por isto o mundo inteiro é todo uma harmonia!...?E sente a reanimal'o uma alma alegre e s?!?E vens de longe aqui, sedento de poesia,?A namorar-me a mim, que sou a tua irm?!
Do Sol baixei aqui a ler-te os evangelhos?Eternos de Verdade, e a missa vae findar!?Meu crente e meu poeta! é a hora: de joelhos,?Em nome do Senhor, te quero aben?oar!
á sua voz curvando a fronte: em fé immerso,?Senti entrar-me n'alma a alma do universo!...
Irm?, gemea de minha, a luminosa fl?r,?Encerra-se afinal n'esta palavra==Amor==!
Quinta da Beselga
1885.
VIII
AVé CREATOR!
Desprende pelo espa?o as azas d'ouro,?águia de Deus, no mundo extraviada!...?Pela patria celeste, a tua amada,
Vae em busca de Deus,?Cantando um hymno em honra do seu nome,?Que meu querer e instincto insaciavel?Te guiar?o, qual bussola admiravel,
Pelos infindos ceus!
Senhor! venho invocar teu nome augusto,?Em face d'estes vastos horisontes!...?Que em torno a mim o rio, a arvore, os montes,
Fallando-me de Ti,?Lan?am-me n'alma um teu olhar divino,?E, com elle, um occeano de luz pura,?Que me trasborda em ondas de ventura
O que eu t'offere?o aqui!
N?o sob o tecto do sombrio templo,?Que a fé christ? do povo erguera outr'ora?Como um tumulo, onde o homem commemora
A tua morte, oh Pae!...?Mas sob o tecto azul do Templo Eterno,?Perante o sol que passa dando a vida?Em teu nome, que esta ora??o sentida
Buscar teu throno vae!
Pois é--me triste a mim que as cousas brutas,?Ellas, sem alma, em gratid?o me ven?am:?E a Terra, emquanto o Sol lhe envia a ben?am
Da sua eterna luz,?Converte-a em fl?res, canticos e fructos,?E, n'um concerto alegre e harmonioso,?Tributa ao Sol um culto t?o piedoso,
Que o peito meu seduz!
Tu vel'a, quando o Sol lhe affasta os raios?Do seu formoso olhar durante o inverno,?A amante debulhar-se em pranto eterno,
Das gallas se despir;?Em valle e monte as folhas, com tristeza,?Dos troncos com os ventos desprendendo-se,?E o mar, co'os ceus em lucta contorcendo-se,
Raivoso aos ceus bramir!...
Mas quando o Sol de novo a aquece e anima:?Oh que effluvios d'am?r ent?o contemplo!...?Traz o amante a alleluia ao escuro templo,
E as trevas d?o fulg?r;?Espalma a folha o ramo resequido,?E, ao som do mar que canta de mansinho,?Da terra brota a fl?r, da haste o ninho,
Do ninho surge o amor!
Seja assim o meu peito! Que a minha alma,?Buscando o foco eterno e resplendente?Do Sol dos soes, o Ser Omnipotente:
Me eleve o cora??o?A trasbordar torrentes de harmonias,?Que entoem pela voz das creaturas:?Santo! Santo! tres vezes nas alturas,
Ao Deus da creac?o!
Pois eu que sou o espirito das cousas,?O verbo inspirador, a alma, a vida;?Sinto em meu peito a gratid?o devida
á tua m?o que attrae?Em giro eterno os mundos do Universo;?E eu vendo orar ao Sol a fl?r n'o matto,?N?o hei de só ficar injusto e ingrato
Para comtigo, oh Pae!
Seja pois o meu canto a voz do interprete,?Que moldando nas formas da palavra?A vida universal que em tudo lavra
Co'o sopro animador:?Eu possa vêr a Terra envolta em canticos,?Sobre as azas de luz da alma humana,?Remontar-se ás origens d'onde emana,
As tuas m?os, Senhor!
Quinta da Beselga
1871.
IX
SURSUM CORDA!
Oh Sol, alma do mundo! esplendido portento?D'um mar feito da luz! vulc?o, cuja fornalha,?Por entre um fogo eterno, expande o movimento?Da machina febril do mundo que trabalha!
E tu, Astro do amor, que, em noite silenciosa,?Qual perola engastada em fulgidos brilhantes,?Derramas tua luz serena e voluptuosa?Nos seios virginaes das timidas amantes:
C'o os vossos esplendores,
Pela amplid?o dos ceus,
Cantae altos louvores
Ao espirito de Deus!
E tu, mar rugidor! austero cenobita,?Que em
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