Cantos Sagrados

Manuel de Arriaga
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The Project Gutenberg EBook of Cantos Sagrados, by Manuel de Arriaga
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Title: Cantos Sagrados
Author: Manuel de Arriaga
Release Date: August 11, 2007 [EBook #22299]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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MANOEL D'ARRIAGA
CANTOS
SAGRADOS
LISBOA
MANOEL GOMES, Editor
LIVREIRO DE SUAS MAGESTADES E ALTEZAS
_70--RUA GARRETT (CHIADO)--72_
1899
DEDICATORIA
_ás almas piedosas e cultas em cuja convivencia encontrei conforto, fortalesa e fé na bondade e na virtude,_
_e_
_ás proximas gera??es futuras, a quem compete a integra??o do destino humano segundo o novo Ideal de Justi?a_
_offerece e consagra estes CANTOS_
_O SEU AUCTOR._
AO PUBLICO
A exemplo do lavrador que nas tardes melancolicas do outomno, antes que chegue o inverno, recolhe os fructos das suas pequenas herdades, nós, n'este periodo calmoso da existencia em que entrámos, e primeiro que a morte nos venha trazer, com a paz da sepultura, a melhor compensa??o dos nossos longos soffrimentos, deliberámos recolher e seleccionar as poesias que escrevemos no longo periodo de trinta e dois annos, que decorre desde 1867 até hoje e que, com rarissimas excep??es, devidas quasi sempre a inconfidencias e curiosidades d'amigos, s?o todas ainda hoje ineditas.
Reunimol-as em quatro volumes, o primeiro dos quaes, o dos _Cantos_, é o que damos hoje á publicidade.
O segundo com o nome de _Irradia??es_, é dividido em quatro livros--_Devaneios_--_Imagens d'um mundo extincto_--_Nas Alturas_--_No Lar_.
O terceiro contém poesias dispersas, ensaios e fragmentos.
O quarto, um poema heroico glorificando os triumphos da Humanidade no concerto do Universo, e onde, sob uma fórma dramatica, reatámos as tradi??es gloriosas de Portugal no periodo de Renascen?a á futura solu??o do problema humano, sob um novo ideal de justi?a.
Foi este poema, a que démos o titulo de _Synthese Suprema_, escripto nos tres ultimos annos que se seguiram ao nosso affastamento da politica militante, quando abandonámos de todo o parlamento, onde a nossa voz ficou por completo isolada e perdida...
Compozémol-o ante a amea?a constante da morte que as nossas doen?as, ent?o aggravadas, nos punham todos os dias diante dos olhos, sem esperan?as de o levarmos ao seu termo; e foi feito a peda?os nas poucas horas d'ocio que nos restavam dos nossos deveres profissionaes.
A poesia aos nossos olhos nunca foi um mero recreio de espirito.
Como todas as bellas artes, tende a exercer uma func??o social, hoje tanto mais necessaria quanto é frouxa, ou quasi nulla, a que a Religi?o, e a moral d'ella nascida, exerceram outr'ora nas multid?es incultas, que á falta d'um ideal filho dos tempos, que as ajude na solu??o do seus tenebrosos e multiplos problemas: ou se tornam indifferentes ou scepticas e vivem como espiritos revoltados contra todo o existente!...
A muitos parecerá contradictorio que, tendo nós combatido em toda a nossa vida, ha mais d'um quarto seculo, o obscurantismo, os absusos e os crimes commettidos á sombra das religi?es positivas, sobre tudo da religi?o dogmatica, nos aventuremos, sobre as ruinas do velho mundo e á entrada dum novo cyclo historico, a soltar cantos d'uma t?o ardente fé religiosa!...
A resposta encontral'a-ha o leitor na nota elucidativa á poesia _O que eu vi_, que adiante publicamos, e nas immediatas.
Se errámos ou n?o, os factos é que o h?o-de decidir d'aqui mais a algum tempo.
Só aqui diremos que para se unirem pelo Amor e pela Justi?a as duas metades da humanidade, de que depende a integra??o do destino humano, o homem e a mulher, que as cren?as religiosas e as demonstra??es scientificas trazem t?o profundamente divorciados na vida do lar e no foro interno; para levarmos ao povo a communh?o do novo credo e levantarmos-lhe o cora??o e a alma muito acima das meras quest?es de interesses materiaes em que o trazem envolvido: é preciso procurar um ideal fóra das contingencias humanas, preparar com elle as almas para os actos fundamentaes d'abnega??o e d'altruismo que reclama o problema social, o que só se pode alcan?ar á sombra de religiosidade que está no fundo da nossa natureza, mudando apenas de objectivo e de processo.
Qualquer que seja porém, a opini?o em contrario de nossos?competidores, e que acatamos, é d'esperar que attendam a que, n'uma obra d'arte, n?o se deve perder de vista a sinceridade do seu auctor, o fim que se prop?e servir e o meio que emprega para o alcan?ar.
Sob este triplice ponto de vista, em que sempre nos mantivemos, talvez possamos contar com a benevolencia dos nossos contrarios.
Ainda uma palavra sobre as raz?es porque só agora, no fim da nossa carreira, nos aventuramos a publicar estes trabalhos.
Dentre muitos outros, o motivo predominante encontral-o-ha o leitor no
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