atmosphericas d'esse dia, dirigindo
circulares a todos os meteorographos do mundo. Duzentas e cincoenta
respostas de differentes observatorios provaram que a onda
atmospherica qua determinara a tempestade fôra presentida pelos
observadores, e que a catastrophe teria sido evitada se o telegrapho, que
caminha mais depressa do que a corrente do ar, houvesse feito passar
de observatorio em observatorio a noticia do phenomeno.
Antigamente faziam-se preces e penitencias para pedir chuva; hoje em
dia a chuva não se pede, manda-se-lhe simplesmente que caia, e ella
cáe precisamente no ponto que se lhe designa.
Ha poucos annos ainda, no Baixo Egypto, não chovia nunca. Os
celleiros eram construidos ao ar livre, a descoberto, sobre os telhados.
Desde tempos immemoriaes que o vento secco do norte mantinha esse
estado de coisas na referida região. Um dia, porém, a corrente
septentrional chega á Alexandria e encontra uma certa difficuldade em
passar com a rapidez do costume; detem-se um momento, retarda-se
um instante: basta isso para que ella se dilate, para que se eleve no
espaço, para que arrefeça na razão da altura a que subiu e para que,
por-consequencia, se converta em chuva. D'onde viera esta poderosa
resistencia á invasão do vento esteril? De uma revolução geologica na
configuração do solo? Do encontro de um vento opposto? Da influencia
calorifica da radiação solar? Não. A voz de preso dada ao vento norte, o
encarceramento d'elle n'uma certa porção do espaço, a sua
condemnação inilludivel a condensar-se e a ser chuva, fôra
simplesmente a obra do homem, que vencera o vento plantando a
arvore.
As florestas que têem o poder de occasionar as chuvas por meio da sua
interferencia na corrente dos ventos, possuem ainda a propriedade de
lhes regular os effeitos impedindo os excessivos irrigamentos, e as
inundações.
Além de certos processos de cultura e de arborisação nos cabeços dos
montes e nas encostas das colinas, ha outros meios de impedir os
estragos das cheias,--dando aos rios um regimen torrencial, operando
largos cortes transversaes nos declives do solo para regular a descida
das aguas, construindo tubos de drenagem, etc.
Quando um dique, como o de Vallada, se rompe por effeito de um
repentino augmento no volume da agua no leito de um rio, ha meios
praticos, prontos, expeditos, de construir diques provisorios. O sr.
Babinet, nos seus estudos ácerca da chuva e do irrigamento da França,
lembra para os casos analogos ao de Vallada a construcção de barreiras
feitas com grandes caixas de ferro fundido similhantes ás que
transportam a agua potavel nas navegações de longo curso. Estas caixas
enchem-se com a mesma agua do rio e sobrepõem-se ou enfileiram-se
de encontro á corrente até formarem um obstaculo de dimensões
adquadas ao volume da agua que se tem por fim represar.
O mesmo sr. Babinet suggere para o meio preventivo da arborisação o
sabio alvitre, tão moralisador, de organisar regimentos de plantadores
formados de corpos de veteranos, cujas praças encontrariam n'esse
trabalho um suave emprego da sua actividade, que o Estado poderia
utilisar remunerando-a com liberalidade superior á importancia
mesquinha do soldo e proporcional ao serviço prestado por esses
cidadãos, até hoje inuteis, á salubridade e á riqueza publica.
Por occasião das ultimas inundações em França, das recentes
inundações na Inglaterra, os meios apontados e muitos outros,
descobertos pela sciencia no momento do perigo, em frente da
catastrophe, têem sido objecto dos mais graves estudos por parte do
governo, por parte da imprensa, por parte principalmente das
corporações especiaes, dos meteorologistas, dos engenheiros
hydrographos, dos de florestas, dos de pontes e calçadas, etc.
Em Portugal deante do facto da inundação espraiada sobre as
povoações do Ribatejo, e das margens do Guadiana, a questão principal,
a questão summa, a questão technica, é posta completamente de parte,
ou nem sequer chega a ser afastada: não concorre no problema, é como
se não existisse!
* * * * *
Em face do desastre, dos nossos periodicos, do nosso parlamento, dos
nossos proprios estabelecimentos de instrucção, irrompe um só grito
enorme, consternado, lacrimoso, impotente, imbecil:--_Caridade!
Caridade! Caridade!_
Parece não se ter unicamente em vista achar um remedio, mas cumprir
uma expiação que minore os castigos do Ceu!
Um antigo proloquio egypcio dizia: Chuva em Tebas, desgraça no
Egypto. A população portugueza não mostra ter da chuva uma
comprehensão menos supersticiosa que a da tradição tebana. Estamos
na metaphysica dos cataclismos incommensuraveis.
Debalde a meteorologia--com quanto em estado rudimentar, não
constituida ainda em sciencia sobre bases experimentaes e com
processos deductivos,--nos annuncia, ainda assim, que não ha nos
phenomenos do ar aberrações extraordinarias, inaccessiveis á previsão,
mas sim uniformidades periodicas de successão, as quaes o estudo das
ondas atmosphericas e da acção magnetica do globo, estudo dirigido
harmonicamente em uma cinta de observatorios que cinja
ininterrompidamente o globo, chegará por certo a poder um dia
regulamentar systematicamente. Definir-se-ha o sentido scientifico
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