humidos e repenicados por entre as broas de p?o podre, os cabazes d'ovos e os casaes de cap?es, que atravancam a passagem por entre os fieis ajoelhados na nave.
Nos dias ordinarios engrola a missa das almas ao romper do dia n'um latim abreviado, mastigado �� pressa, e vae podar as cepas, sachar o cebolo, enxertar os limoeiros ou ca?ar as perdizes, palmilhando o monte, saltando vallados, e regressando a casa ao toque das Ave-Marias, com os perdigueiros adeante, a espingarda na bandoleira; dando as b?as noites para a direita e para a esquerda ao atravessar a aldeia; batendo no hombro aos homens, beliscando na cara as raparigas, com a boa jovialidade carnal do seu velho confrade de Meudon o reverendo Rabelais.
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O padre de sala grassa principalmente na aristocracia das cidades, cujas casas frequenta por um resto de tradi??o antiga nas familias nobres, onde o capell?o era de rigor nos accessorios da mise-en-scene, como o boleeiro, o creado de farda e a preta.
As meninas nobres, que hoje l��em o Figaro e os romances de Daudel, n?o tomam completamente a serio essa reliquia heraldica. O padre da casa �� para ellas um simples utensilio de caracter profano, recreativo e caturra. Tro?am-o como um grotesco inoffensivo, e utilisam-o como um servi?al de sexo neutro, collocado na serie zoologica da herilidade entre a creada de quarto e o homem. Encarregam-o de certas compras raciocinadas, que n?o sabe fazer um simples mo?o de recados sem o curso dos seminarios.
�� o padre que vae ao Se��xas buscar as l?s para bordar, segundo os matizes da amostra, que leva o bracelete a compor ao Leit?o, e o chignon para frisar ao Godefroy. �� elle que acompanha ��s lojas de dia e ��s visitas sem cerimonia �� noite. Leva os agasalhos; ajuda a vestir os paletots, ata os sapatos cujas fitas se desla?am no caminho, e paga os bilhetes do americano com dinheiro que se lhe fornece para isso.
N?o est�� persistente n'uma s�� casa, como nas antigas capellanias. Anda aos dias. Aos domingos vae jantar a casa das F., onde serve ao croquet ou ao lawn-tennis no jardim, e onde marca as carambolas no bilhar �� noite. ��s segundas feiras chaperona a li??o de desenho das meninas S. ��s ter?as acompanha a viscondessinha de X ��s suas devo??es a S. Luiz e a outros logares. ��s quintas d?o-lhe ch�� preto e p?o torrado com manteiga para ir fazer perna ao wihst da velha baroneza de P.
Aos ser?es, em torno do candieiro, depois de despejado o saco das mexeriquices que traz das casas d'onde vem, v�� as gravuras das Illustra??es, ou dorme. As meninas procuram ��s vezes arrancal-o ao torp?r da sua digest?o ou da sua ignorancia, ambas egualmente crassas:
--Padre Jos��, esperte! n?o se fa?a ainda mais mono do que ��; scintille para ahi um boccado; tenha faisca, ainda que seja em latim, ou em canto ch?o!
E perante o olhar d'elle, esbugalhado, vermelho, attonito, ellas, em inglez, umas para as outras, picando o crochet:
--Cada vez mais bruto! uma lastima! um cumulo!
Quem precisa de padre e o n?o tem �� m?o, pede-o emprestado, como se pede emprestado ao visinho um alicate ou um martello. Sophia, que est�� em Cintra, escreve para Lisboa a uma amiga:
?Resolvemos abrir duas portas na sala de jantar sobre o jardim. Preciso d'olheiro para os operarios. Cede-me Padre Antonio por oito dias. D��-lhe dinheiro para o omnibus e manda-m'o ��manh? sem falta.?
��s vezes o padre de sala dosapparece por algum tempo da circula??o, posto na escada com a respectiva bagagem,--uma camisa, um pente, dois pares de piugas embrulhadas n'um jornal--, e uma pontuada de bengala nos rins em estimulo de velocidade para a porta da rua.
Algu��m �� noite pergunta:
--Que �� feito do padre Jo?o?
E o dono da casa, levantando os olhos do jornal que l�� a um canto, responde lentamente:
-Mandei-o rinchar para as lesirias. Come?ava a achar-se folgado de mais para se continuar a ter �� argola. �� o que lhe fiz sentir esta manh? por meio de uma ligeira admoesta??o corporea.
--Mas o physico do sacerdote �� inviolavel �� sagrado!
--Por isso tambem n?o foi pelo lado cruzes que eu o admoestei, foi pelo lado cunhos.
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De resto, entre as familias dislinctas de Lisboa, quando alguem quer casar-se, confessar-se com decencia, ou receber soccorros espirituaes para morrer com elegancia, vae aos Inglezinhos ou manda pedir a S. Luiz dos Francezes a visita do reverendo Abb�� Miel.
O padre extrangeiro tem sobre o padre indigena a vantagem de n?o se haver abandalhado nas elei??es, de n?o ir para a plateia de S. Carlos applaudir a opera e dizer gra?olas ��s senhoras suas confessadas, que est?o nas bancadas ao p�� d'elle, de n?o andar pelas casas particulares com as piugas e com as fraquezas embrulhadas em papeis, e de n?o misturar nunca--a n?o
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