As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes (1882-11/12)

Ramalho Ortigão

As Farpas: Chronica Mensal da Politica, das Letras e dos Costumes (1882-11/12)

Project Gutenberg's As Farpas (Novembro A Dezembro 1882), by E?a de Queiroz This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.net
Title: As Farpas Da Politica, Das Letras E Dos Costumes (Novembro A Dezembro 1882)
Author: Jos�� Maria E?a De Queiroz and Ramalho Ortig?o
Release Date: December 7, 2004 [EBook #14296]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK AS FARPAS ***

Produced by Cl��udia Ribeiro, Larry Bergey and the Online Distributed Proofreading Team. This work was produced from images generously made available by the Biblioteca Nacional de Lisboa, Portugal.

[Illustration: E?A DE QUEIROZ--RAMALHO ORTIG?O--AS FARPAS]
E?A DE QUEIROZ--RAMALHO ORTIG?O
AS FARPAS
Chronica Mensal
DA POLITICA, DAS LETRAS E DOS COSTUMES
QUARTA SERIE N.o 2
NOVEMBRO A DEZEMBRO 1882
Ironia, verdadeira liberdade! ��s tu que me livras da ambi??o do poder, da escravid?o dos partidos da venera??o da rotina, do pedantismo das sciencias, da admira??o das grandes personagens, das mystifica??es da politica, do fanatismo dos reformadores, da supersti??o d'este grande universo, e da adora??o de mim mesmo.
P.J. PROUDHON.

SUMMARIO
Congressos catholicos e ideias clericaes--Anjos e reprobos--As influencias e eclesiasticas na sociedade portugueza--A egreja e as mulheres--Os nossos padres, padre de miss?es, padre d'aldeia e padre de sala--Os clubs e as sacristias--O jogo, a batota, o rei dos lusos e o rei de copas, a rusga, a vacca--Doutor Jardim, sabio, e Rosalia, dama illustre--Novas applica??es da mobilia �� critica litteraria--A moderna arte portugueza e as escamas da corvina--O jornalismo em Braga--O partido legitimista e a bandeira branca de Senna Freitas--Sampaio o Saraiva de Carvalho--A augusta princeza anjo da caridade e do bric-��-brac--Tragico fim de um gato d'esse anjo--Fausto e jocundo desacato de s.ex.a o ministro da justi?a por s.em.a o nuncio de sua Santidade--A urna e a corveta Stephania--Os commendadores e os c?es de faian?a---Milagrosa reappari??o de Nossa Senhora Apparecida.
* * * * *
?Se Deus approva, que tenha a bondade de se deixar ficar sentado.... Est�� approvado.?
Tal ��, resumidamente exposta, a commoda maneira de votar por meio da qual n?o s�� o congresso catholico, reunido recentemente em Lisboa, mas muitos dos concilios ecclesiasticos que precederam este, se mettem de gorra parlamentar com os legisladores do ceu e constatam a approva??o da divindade ��s delibera??es tomadas pelos clerigos. Para esses cavalheiros,--papas, bispos, conegos, simples padres d'enterro ou sacrist?es--Deus �� absolutamente a mesma coisa que �� para o snr Fontes a sua maioria regeneradora, o que quer dizer: uma entidade encarregada de, assistir �� apresenta??o dos decretos e de dar o sim.
* * * * *
Nos serm?es de penitencia das nossas villas e aldeias o truque �� o mesmo que nos concilios, mas refor?ado com um cordel.
O orador sacro, encarregado pela remunera??o de 3$600 em dinheiro e um prato de especiones com vinho fino, de refrescar para commodidade das almas em cada uma das domingas da quaresma os ardores do purgatorio, irrigando de eloquencia e de latinidade esse recinto de clarifica??o espiritual, come?a por p?r Deus no throno do altar mor, sob a figura do Senhor dos Passos escondido atraz de uma cortina roxa, e dirige-se em seguida para a cadeira da verdade, acompanhado de uma ponta do barbante com que se ha de puxar a cortina. No final da predica, �� perora??o, o ecclesiastico, depois de haver enxugado a um dos len?os estendidos sobre o parapeito do pulpito os 3$600 de transpira??o escorrida pela fronte e pela regi?o cervical, pega no cordel, volta-se para a cortina, faz uma venia e diz:
?Senhor! se minha debil voz, eccoando n'este auditorio conspicuo, a cuja frente diviso o veneravel vulto do illustre conselheiro d'estado honorario, presidente d'esta benemerita irmandade,--se minha debil voz, digo, conseguiu levar ao vosso cora??o amantissimo a convic??o do arrependimento em que se acham immersas as almas que ora vedes prostradas a vossos p��s, dignae-vos, Senhor, de apparecer para ouvirdes nossos votos. Apparecei, Senhor! Porque n?o appareceis?!?
E por meio da bem conhecida e sempre efficaz figura de rhetorica intitulada obsecra??o,--um dos mais arrojados e vehementes de todos os tropos,--o orador, dirigindo-se sempre �� cortina, com bola de m?o para a lacrimosidade dos fieis, faz sentir a estes por tabella que �� mister que elles solucem durante alguns minutos para que Deus lhes appare?a, e lhes perdoe. Os fieis ent?o desatam em suspiros de corrente pranto, e o ecclesiastico, acabando emfim por lhes dar Deus de presente, cae elle mesmo prostrado de commo??o e de espanto na borda do pulpito, como se nunca em sua vida lhe houvesse apparecido um t?o portentoso milagre como esse de se correr a mesma cortina que occulta a imagem do Senhor dos Passos, a que elle tem por officio puxar os cordeis em todas
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 24
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.