uma
população numerosa, que para exercitar suas forças e sua intelligencia
possúe uma natureza uberrima, onde não ha industria que não ache
seu lugar.
O commercio existente da Bolivia pela via do Madeira, insignificante
como é, já revela a propensão, por assim dizer innata, dos povos do
Beni e de Santa Cruz, de pratical-o por ahi. Em 1865, o valor da
exportação e importação foi de 64:000$ ou cerca de 32.000 pesos[12],
sendo de 32.000 arrobas a quantidade das mercadorias. Este reduzido
commercio occupou 98 embarcações, tripoladas por 1.276 indios, que
de certo na viagem redonda não gastaráõ menos de seis mezes![13].
Estes algarismos, melhor que quaesquer ponderações, demonstrão
cabalmente que só um vehemente desejo de commerciar levaria a
empregar tanto material, tantos braços e tanto tempo, para conseguir
resultado tão exiguo, correndo demais os riscos inherentes á perigosa
travessia de 17 cachoeiras.
[12] No correr deste trabalho avaliaremos sempre o peso em dous mil
réis de moeda brasileira. O conto de réis vale 500 pesos na dita
hypothese.
[13] Dados do relatorio da companhia do Amazonas no anno de 1866,
citados na obra--O valle do Amazonas--do Dr. Tavares Bastos.
Entretanto o mesmo commercio tem feito notavel progresso nos ultimos
tempos, pois Dalence diz que em 1864 seu valor não passava de 1.000
pesos[14].
[14] Bosquejo statistico de Bolivia, por D. José Maria
Dalence--Chuquisaca--1857.
Seria gravemente erroneo ajuizar do trafego futuro da via do Madeira
pelo que é e tem sido até o presente. Por ora elle apenas representa as
transacções excepcionaes de um povo isolado, que restringe sua
producção e a seu consumo por não ter meios de exportar
vantajosamente e que só por vezes se aventura com grandes sacrificios
a trocar com seus vizinhos o pouco que lhe sobeja pelos artigos que de
todo não póde fabricar.
Mas depois que os transportes para o exterior se tornarem expeditos e
baratos, o estimulo do lucro promoverá a producção, o consumo
acompanhal-a-ha em progressão corelativa e a circulação commercial,
que se deriva da troca dos generos de consumo pelos de producção,
adquirirá a importancia que sóe ter nos paizes que se achão no gremio
do movimento industrial e civilisador das nações mais adiantadas.
A deducção do valor do futuro commercio da Bolivia pelo Madeira,
partindo da importancia total do que esta republica faz actualmente
com o exterior, na mór parte pela via do Pacifico, vai fornecer-nos
conjecturas, mais ou menos acceitaveis, a fim de dar idéa de sua
grandeza; as quaes, porém, antes ficaráõ aquem do que ultrapassaráõ
da realidade, porque, graças ás facilidades da nova communicação, o
paiz entrará em condições de exportar e importar muito mais
favoraveis do que as tem tido até agora.
A exportação de toda a Bolivia foi, em 1864, avaliada em 2.539.956
pesos[15]. A cifra exacta da importação nos é desconhecida. Vimol-a
em um diario de La Paz estimada aproximadamente em 3.700.000
pesos, valor que nos parece verdadeiro, pois é pouco superior ao que
se deduz pela consideração do numerario exportado no mesmo anno, o
qual, segundo a distribuição das parcellas da exportação acima citada,
figura pela quantia de 1.057.543 pesos, sem duvida remettida ao
estrangeiro para saldar o excesso da importação. Dahi se conclue que
esta provavelmente deveria ter subido a mais de 3.500.000 pesos; e
portanto os valores da exportação e importação reunidos seguramente
excederão de 6.000.000 de pesos, ou 12.000 contos de réis em moeda
brasileira.
Si se reparte a cifra deste commercio exterior por toda a população da
Bolivia, supposta de 2.000.000 de almas em numero redondo, caberia
tres pesos por cabeça e aos 800.000 habitantes da região do Madeira
2.400.000 pesos, ou 4.800 contos de réis entre exportação e
importação.
[15] Guia General de Ruck. 1865.
Do mesmo artigo, em que achamos estimada a importação da Bolivia
em 3.700.000 pesos, era esta somma repartida como segue pelos
departamentos da republica:
Cochabamba $ 1.000.000
Oruro 100.000
Chuquisaca 500.000
La Paz 1.000.000
Potosi e Tarija 1.000.000
Santa Cruz 100.000
Somma $ 3.700.000
Não se menciona o departamento do Beni, porque seu consumo de
mercadorias estrangeiras é fornecido de La Paz e Cochabamba.
Si com estes algarismos se faz a conta da importação da bacia do
Madeira, incluindo nella toda a dos departamentos de Cochabamba e
Santa Cruz e um terço dos de La Paz e Chuquisaca, á semelhança do
que praticamos no calculo da população, acha-se o valor de 1.600.000
pesos.
Seguramente esta quantia não é agora retribuida no todo com
productos exportados, mas sel-o-ha infallivelmente e quiçá com
demasia, logo que o commercio para o exterior tomar o seu curso
normal pela via dos rios, removidos os empecilhos que hoje a
difficultão e aproximadas as distancias com o auxilio do vapor. Então
a importação e exportação sommadas montaráõ a 3.200.000 pesos ou
6.400 contos, quantia, que é de esperar, não tardará em ser
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