Apontamentos sobre a via de communicação do rio Madeira | Page 6

Antonio Rebouças
grandioso rio.
Portanto, o unico obstaculo que se opp?e á communica??o do Oceano com o vasto paiz banhado pelo Mamoré e seus tributarios, o qual se póde designar como a bacia do alto Madeira, s?o as 17 cachoeiras, que se succedem no espa?o de 250 milhas, desde a de Guajaramirim no Mamoré ate á de Santo Antonio no Madeira.
N?o resta duvida que ellas interp?e uma barreira invencivel a qualquer genero de navega??o regular; pois assim n?o se póde qualificar a que hoje atravez dellas tem lugar, correndo innumeros riscos e pesadissimos trabalhos, descarregando a cada passo as embarca??es e levando as cargas por terra e por vezes arrastando os proprios vehiculos por caminhos marginaes em longos trechos. Para dar idéa das contrariedades que encontra esta viagem, basta mencionar que as can?as de commercio gast?o até 5 mezes em subir as cachoeiras, entretanto que a descida se póde realizar em 12 dias, como a fez Gibbon, e até em 7 1/2 como aconteceu ao engenheiro brasileiro Coutinho.
A explora??o profissional, que ora devem estar levando a effeito por ordem do governo imperial os illustrados engenheiros Keller, resolverá com dados positivos--si essas cachoeiras podem ser canalisadas para prestar navega??o desimpedida, quaes as obras necessarias a este effeito e emquanto importará?. á vista, porém, das noticias de expedi??es anteriores, desde a da commiss?o portugueza demarcadora dos limites de 1777 até ás modernas do boliviano Palacios, do norte-americano Gibbon e do brasileiro Coutinho, nada ha de temerario em assegurar que a canalisa??o das cachoeiras do Madeira, sem ser um projecto inexequivel, é obra de tal magnitude e por conseguinte exigirá t?o enormes capitaes, que n?o é para ser tentada no presente, nem está em rela??o com a grandeza dos interesses, que por meio della se pretende promover.
Para suppril-a de prompto e qui?á preparar as cousas para sua futura execu??o, a opini?o geral propende para uma outra empreza, que evitará a travessia das cachoeiras em vez de removel-as, sendo mais realisavel por ser menos custosa. é a de abrir uma via terrestre desde Santo Antonio até Guajaramirim, seguindo mais ou menos a corda do arco que descreve o rio, cujo comprimento Gibbon avaliou em 180 milhas isto é, 60 leguas de 20 ao gráo[8]. Esta estrada, que toda ficará em territorio do Brasil, tem segundo o mesmo viajante todas as probabilidades de percorrer um terreno livre de inunda??es, sem ser muito accidentado.
[8] O distincto engenheiro Coutinho e com elle o Dr. Tavares Bastos e outros illustres brasileiros, que modernamente se h?o occupado da communica??o do Madeira, d?o á mesma linha o comprimento de 50 leguas. A differen?a deste numero para o que apresentamos e que em diante adoptaremos, provém da especie de legua considerada. Assim a extens?o de 180 milhas, reduzida a leguas de 20 ao gráo ou de 5.555 metros, produz 60 leguas; ás de 18 ao gráo ou de 6.173 metros sómente 54 e ás de 3.000 bra?as ou 6.600 metros apenas 50. Sem duvida o engenheiro Coutinho considerou as leguas desta ultima especie, que s?o as mais usuaes no Brasil. Se n?o o seguimos nesta parte, é porque adoptando a legua de 5.555 metros reduzimos facilmente as medi??es de Gibbon, avaliadas em milhas maritimas, e sobretudo porque, referindo-nos frequentemente aos roteiros da Bolivia, era a que mais convinha por ser a de valor mais aproximado ao da boliviana, que como já foi dito tem 5.564 metros.
Os que fazem a estrada das cachoeiras sómente de 32 leguas, provavelmente supp?em-n'a come?ando n?o de Guajaramirim, mas da boca do Beni, conservando a navega??o das 18 leguas do Mamoré, onde ha cinco cachoeiras.
é por tal meio que nos parece se devem unir os valles do alto e do baixo Madeira, abrindo assim caminho franco ao commercio da Bolivia com o Atlantico pelas aguas do Amazonas. Conjunctamente com o beneficio desta estrada, o vapor sulcará as aguas do Mamoré e de suas grandes ramifica??es, e aproveitando-se da navegabilidade que estes rios offerecem nas extensas planicies de Mojos, Santa Cruz e Chiquitos, irradiará em todos os sentidos e irá fecundar com a industria e com o commercio a um vasto paiz, que para desenvolver-se e prosperar sómente aguarda a possibilidade de exportar o seus productos. é a extens?o do seu territorio, sua popula??o e seu commercio e os recursos que contem em si o que revistaremos em seguida, a fim de deduzir os elementos com que se póde contar para retribuir os capitaes necessarios á empreza de tornar regulares e expeditos os transportes por toda a via do Madeira.

III.
Regi?o boliviana da bacia do Madeira.--Sua extens?o e popula??o.--Condi??es de seu commercio.--Estado presente.--Conjecturas sobre seu futuro.--Contingente do Brasil para o trafego da via do Madeira.
O systema orologico da Bolivia divide physicamente o seu territorio em quatro grandes regi?es, cada uma das quaes verte as aguas que as reg?o com destino diferente:
1.^o A
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