A virtude laureada | Page 9

Manoel Maria de Barbosa du Bocage
convulsa.
As melenas, fren��ticas, arrep��la, E de ��spides alastra o pavimento; Na boca, onde as espumas s?o veneno, As maldi??es lhe fervem.
Torcendo, e retorcendo os vesgos olhos, Vagu��a delirante a vasta furna: A Morte, a propria Morte, ao ver-lhe as furias, Treme no throno horrendo.
O Fado, contra quem vomita o Monstro Negra turma de pragas, indignado Manda ronque o trov?o, fuzile o raio, E sobre ella desabe.
A Furia, remordendo-se, baqu��a, E no bojo inflammado o Inferno a sorve. Em tanto a grande Lysia, exultadora V?a a abra?ar seu Filho.
* * * * *

*EPISTOLA*
Feita no julgado ultimo periodo de vida do Senhor Manoel Maria de Barbosa du Bocage.
EPIGRAFE.
Rebus angustis animosus as que Fortis appare. Horat. Od. 7. liv. 2.
Se p��de hum mocho, piador nas selvas Brancas plumas cobrar, surgir de noite, E dos pios colher vozes son��ras, Tendo assumpto sem par, Her��es cantando! N?o sou ave infeliz, odeio as tr��vas; Minha essencia mudei; encaro o dia, O dia, que nasceo na luz d'Elmano. �� tu Dominador, de quem domina No medonho poder d'escuro p��go, Onde morre o Vulgar, existe o Grande; Em que ufana de Ti a Eternidade, Dos limites sahio, mandou soberba Aos Futuros pasmar, tremer aos Fados; E nos Livros ao tempo sobranceiros O teu nome esculpir, dar vida ��s letras; Que sedentas t��'li de iguaes talentos, Sem a mira lan?ar a mais, ou tanto, Novo campo n?o d?o a novo entalhe. Accolhe os versos meus, os meus louvores, Que o p��jo suffocou; mas cede o p��jo �� voz da Gratid?o, que em mim res?a. Que inaudito prazer me surge n'alma!.. Elmano, Elmano meu, do Mundo gloria, Quando penso que os sons adormecidos Da Lyra (que em temor c��de �� vontade) V?o dos Astros romper luzente Espa?o, Indo aos Numes levar?o, que he dos Numes Esta empreza, que os Ceos no seio acolhem, De que hes justo cr��dor, que humilde off're?o, Hade a Jove aprazer, durar em Jove. Se ao jugo dos Mortaes, se ao Fado, �� Morte Inda liga tua alma a terrea massa, Se em tormentos, se em ais, se em dor, se em pranto A substancia languece, que te anima, E de humano a pens?o (dever custoso) No continuo pular do sangue ardente[1] Encaras com temor; temor n?o tenhas! A morte para o Sabio he gosto, he vida. Assim o gr?o Cam?es, de Lysia esmalte, E das grandes Na??es portento, espanto, Na desgra?a morreo, viveo na morte! E o Nume atroador de P��lo a P��lo, Por cem aureos canaes fendendo os ares, Inda o nome do Her��e espalha ufano, Inda alentos lhe d��, vida mais nobre. Quebradas as priz?es aos ser terreno, Que te v��da subir de Vate a Nume, Hade os tubos encher com s?pro estranho, E teus versos mandar ao Ceo da Gloria. N?o julgues, que se, Her��e, zombas da morte, Encarando teu mal desdenho o pranto Hade Lysia chorar, dar?o os Lusos Do pranto, que a raz?o sanar n?o sabe, Grossas agoas ao T��jo caudaloso, Que dos limites seus fugindo irado, V�� ao Ganges levar, levar ao Nilo A noticia cruel, que humanos punge: E Josino (que a vida ass��s molesta Nos hombros lhe suppeza alonga os dias Que, d'Elmano vivendo assim distante, H?ode o manto roubar �� noite escura!) A tristeza dar�� da morte o premio. Revive, Elmano, pois no Ethereo Reino; Que eu, em quanto tiver vitaes alentos, Heide em ti prantear d'Amigo a falta, E de Vate, e de Her��e ceder ao pasmo.
Jos�� Joaquim Gerardo de Sampaio.
[1] Alludo ao aneurisma, huma das principaes molestias, que o atorment?o.
* * * * *
Ao Senhor Manoel Maria de Barbosa du Bocage, achando-se o A. molesto.

*EPISTOLA.*
O Sabio n?o vai todo �� sepultura, Na memoria dos homens brilha, e dura. Rim. du Bocag. T. a.
Hum triste, hum infeliz, da Sorte av��ssa Tragando o fel dos ais, o fel da vida, Sa��da hum triste, que abra?ar n?o p��de, Penh��ra em letras, mensageiras d'alma, Os effluvios da candida amizade, Os saudosos gemidos, que te envia, Elmano, que em solu?os te evap��ras, Que atroppelado pela dor intensa, S��ltas dos lumes teus acerbo pranto, Que em v?o te banha as faces enlutadas, Que tenta em v?o desenrugar teus Fados. Mas ah! cobra valor; constancia, Amigo: Esfor?ada raz?o represe as m��goas, Que a horrenda fantasia, nebulosa Avulta em quadros, em que tudo he negro. Se ella d�� brilho, se a existencia affaga, Debuchando na id��a deleitosa Glorias, prazeres, jubilos, encantos; Tambem nos males nos accurva a mente Com duplicados, horridos pavores. Baldar o sentimento ao corpo afflicto N?o quero, Elmano, que tambem sou homem. Se Z��no, se Plat?o sorrindo em ancias, N?o mostr��r?o na face a c?r do medo, Que er?o diremos cora??es de bronze? Sentir?o, que a desgra?a a todos punge; Por��m soffr��r?o com tenaz constancia, Engolfados na s?a Filosofia. Se qual viv��r?o, tal morr��r?o l��dos; Porque n?o seguiremos os
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 16
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.