de linguas tres, na dextra arr?cha, Al?a na outra o facho.
Silv?o-lhe horrendas na tostada fronte Viboras crespas, de que est�� coalhada; Nutre nos peitos ��vida serpente, De insaciavel fome.
Atro veneno a lingua lhe destilla, A lingua, que de vibora parece: V��s G��rgonas, v��s Furias, tu Medusa, N?o sois mais horrorosas.
De espa?o meneando as azas longas, Demanda vagarosa a Estygia margem; E alli, prendendo o v?o, descendo �� terra, Que, ao sentilla, estremece.
Alli em subterranea, em ampla furna, Desde a infancia dos seculos formada, Dura, immutavel lei impondo a tudo, Reside a Morte horrenda.
Mont?o enorme de esbulhados ossos, De craneos seccos lhe comp?em o throno, Ass?ma no alto o descarnado Monstro, A ferrea fouce em punho.
Vo?o-lhe em roda L��mures, Espectros, Jazem-lhe aos p��s as lividas Doen?as: O silencio, o pavor, a escuridade Alli, perennes, m��r?o.
Nos quatro cantos de horrorosa estancia Quatro cyprestes l��gubres se elev?o; Aves sinistras, rouquejando agouros, Entre os ramos se aninh?o.
Para aqui se encaminha a Inv��ja t?rpe: Tremendo, aos p��s do throno se apresenta; Frio terror os membros lhe entorpece Ao encarar o Nume:
Mas, assanhando a roedora serpe, Que no peito lhe p��sce, a dor vehemente Lhe esperta o cora??o, lhe volve o ac?rdo; E assim troveja a Furia:
"Deosa, dominadora do Universo, Cujo imperio vastissimo confina Co'a muralha da immensa Eternidade: Branda meu rogo affaga.
J�� vezes mil o t��trico veneno Das serpes, que me touc?o, que alimento, F��z em teus lares borbulhar o sangue De victimas sem conto,
Servi?o n?o vulgar, que te hei prestado, J��s me confere a n?o vulgar indulto: Vinga-me, �� Deosa, de hum Mortal soberbo, Que ousa affrontar-me impune.
Elmano, o caro a Febo, e caro a Lysia, C'roado ha muito de immurchavel louro, Sobre o ludibrio meus al?ou ufano Trof��o de eterna dura.
Com p�� robusto esmigalhou valente (Da pe?onha mortal nem foi tocado) Viboras, que arranquei da tran?a horrenda, Para arrojar-lhe ao seio.
Tentei v?mente ennegrecer-lhe a Fama, Que nivea, e pura os Orbes divagava! Meus baldados projectos s�� servir?o De aviventar-lhe o lustre.
Chusmas de Zoilos, meus fieis Ministros, Em v?o em meu favor as armas tom?o: Relampagu��a o Vate, e nos abysmos Baque?o, aterrados.
Myrrhada de pezar, baixei ao Orco, E alli fui prantear a inj��ria minha: Gritos, que ent?o soltei de dor, de raiva, Inda nelle retumb?o.
Foi-me comtudo balsamo suave �� dor cruel, que me ralava o peito, O grato ann��ncio, de que o Vate odioso Ro?ava o ponto extremo.
Mortifero aneurisma promettia Romper-lhe antes de muito os n��s da vida! Meu cora??o folgou, desaffrontado, Co'a proxima ventura.
J�� com soffregas m?os, tintas em sangue, No B��ratro compunha atr��z pe?onha, Para ensopar-lhe as socegadas cinzas No t��cito jazigo.
Por��m, �� Deosa, se, exercendo a Fouce, O demorado golpe n?o desfechas, As, que alimento, gratas esperan?as, Qual fumo, se esvaecem.
Sim, ��s cont��nuas s��pplicas de Lysia, Como que o Fado a fronte desenruga; Brado, macio j��, como que intenta Deferir-lhe propicio.
Ah! e quanto, inda assim oppresso, enfermo, Quando me affronta, me assoberba Elmano! Seu Estro sempre o mesmo, sempre em chammas, Raios me vibra intensos.
Todos de Lysia abalizados Cisnes Melifluo canto em seu louvor mod��l?o; R?to ao porvir (merc�� de Apollo) o seio, Vida f��d?o-lhe eterna.
E serei, ai de mim! assim calcada, Sem que possa vingar-me!.." Aqui lhe br��t?o As l��grimas em fio, entre solu?os Suffocada, emmudece.
Depois de curto espa?o, a Morte horrenda, A fronte definada meneando, Al?a a medonha voz, e assim responde �� consternada Furia:
"N?o te desdenho, �� Filha: do meu throno Tu ��s robusto apoio; os teus servi?os A obriga??o me imp?e de ser-te grata: Morrer�� quem te affronta"
Disse; e n'astea da Fouce o corpo firma, Ergue-se, e ensaia para o v?o as azas: Nos cantos da caverna os negros Mochos Solt?o da morte o grito.
Eis que estranho clar?o, rompendo as tr��vas, S��bito inunda a l?brega morada; Eis apparece (mortal raio �� Inv��ja) Em branca nuvem Lysia.
Brando surriso esmalta-lhe o semblante, Nos olhos o prazer lhe reverb��ra, Luz-lhe na dextra lamina de bronze, Qual astro, fulgurosa.
Com garbo magestoso a vestidura Sobra?a ro?agante; e assim que arr��sta O Nume aterrador, na voz suave Taes express?es lhe envia:
"Chorosa, amargurada, longo tempo Curva ante o Solio do adoravel Fado, Ferventes rogos, humidos de pranto, Fiz subir-lhe �� presen?a.
De Elmano, do meu Vate a vida em risco: Meu cora??o materno consternava: Elle era a gloria minha; ella morr��ra, Se morresse o meu Vate.
Regeitado, por��m, n?o foi meu rogo: O Fado para mim sempre benigno, Risonho me outorgou (merc�� n?o tenue) O suspirado indulto.
Eis o Decreto seu:" (e entrega ao Monstro A lamina de bronze.) Ao v��-lo a Parca, Depondo a curva Fouce, inclina a frente, E reverente o beija.
"Cumpre-se, �� Lysia, (diz) a Lei do Fado." Exulta Lysia, e presurosa surge Da habita??o medonha: op��cas sombras De novo alli se espess?o.
Oh que horrendo espectaculo n?o era A Inv��ja furiosa, ardendo em raiva! Da dextra, da sinistra a serpe, o facho Arrem��?a
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