A virtude laureada | Page 4

Manoel Maria de Barbosa du Bocage
Colo rebelde ás Leis, ó tu, cruento, Lobo nocturno, que, vibrando as garras, A mansos Cidad?os oiro, existencia De mistura usurpavas, sem que ao menos Tremesse o cora??o, e as m?os tremessem. Estes, mais que nenhuns, velar se devem, Estes nas feias, subterraneas sombras Para o pavor da Morte a mente ensaiem. Eu, Luz do bom Luceno, eu Alma, eu Tudo, Corro, entre-tanto, a suggerir-lhe idéas, Com que os públicos Bens flore??o, medrem. A Sciencia, e Penuria, antigas Socias, Em seus Lares por elle ha pouco ouvidas, O fertil patrocinio lhe implorár?o. Em lagrimas lhes deo penhor singelo De firme protec??o: vós, Indigentes, Seus effeitos vereis, vereis, ó Sabios, Que a Mente, e o Cora??o por vós divido.[1]
[1] Vai-se.

*SCENA VI.*
Sal?o Magestoso da Policia, adornado das Estatuas de varias Virtudes.
O Genio, e a Hospitalidade.
Eis-me na Estancia da Policia Augusta, Cultora da Raz?o, das Leis, do Solio, A fitubante, a pávida Indigencia, Que já dos males seus alivio goza, Por m?o do Bemfeitor, que os Ceos inspir?o, Vem co'a Sabedoria honrar seu nome, De interna Gratid?o, sagrar-lhe os cultos; Mas profundo respeito os pés lhe tolhe, E o Sal?o venerando entrar n?o ous?o.

*SCENA ULTIMA.*
Os ditos, e a Policia, que, ouvindo as ultimas palavras, sahe de repente.
Policia.
Foi sempre este lugar franco á Virtude, Entrai. [1]
[1] Entr?o as duas.
Hospitalidade.
Longe de vós hum v?o receio.
Policia.
Cumpri vosso dever, tecei contentes De Luceno o louvor. Materia summa As Virtudes vos d?o, que resplandecem Em brilhantes Estatuas magestosas Neste brilhante, Magestoso Alca?ar. Aquella, que risonha os olhos firma, Como que rosto súpplice attentando, He a Benevolencia, e diz no affago, Que alguns, havendo a honra em mais que os lucros, Ante duro Ministro enfrê?o preces, E só do Compassivo, e só do Affavel A presen?a demand?o, que os conforte, Que ao rogo n'hum sorriso o effeito augure, E n?o de altiva injúria avilte o rogo. Esta he Exemplo, est'outra he a Inteireza; Alli Fidelidade o jaspe anima; Desinteresse além reluz, e avulta; Mais perto voluntaria Obediencia Curva o docil joelho: eis as Virtudes, Que fórm?o, bom Luceno, o teu caracter, Todas egregias, necessarias todas.
Sciencia.
Verdade, e Gratid?o nos lábios nossos, Approv?o quanto s?a em honra delle.
Indigencia.
Oh Reinante feliz com taes Vassallos!
Policia.
Folga, Sciencia, e tu, Penuria, folga: Dado me he recrear-vos, ser-vos guia Ao Principe immortal, de quem reflectem Raios de luz para o Ministro excelso, Que o seu mór premio tem na Regia Gloria. Curvai-vos, e admirai o Heróe sublime, Que Lysia adora, e que adorára o Mundo, Se o Mundo todo merecesse olhallo.[1] Vêde a seus pés o Magistrado insigne, Que nelle se revê, que a bem da Patria A Grandeza Real submisso implora.
[1] Abre-se o fundo do Theatro, apparece o Retratro do Principe R. com o Magistrado a seus pés, offerecendo-lhe os Votos mais puros da Na??o.
Hospitalidade.
Quanto a Virtude altêa a Dignidade.
Sciencia.
Oh Júbilo: Oh Ventura!
Indigencia.
Eu pasmo, eu tremo.
Genio. (Dirigindo-se para o retrato do Principe R.)
Heróe, sacro aos Mortaes, acceito aos Numes, Olympico Fulgor comp?e teus dias; Os Ceos na minha voz mil dons te abon?o, Com meus olhos teu Povo os Ceos vigi?o, O Commercio por ti de fé se nutre; As Artes, a Virtude, as Leis triunf?o; No Solio, no Poder tens base eterna; Tua alma sobresahe aos teus Destinos; E de teu puro arbitrio esse org?o puro, He digna escolha tua, aos Astros vea No rasto de oiro, com que o Pólo esmaltas. Subditos de JO?O, rendei mil cultos Ao gr?o Regente, ao inclyto Carácter, Que nelle diviniza a especie humana: A voz da Gratid?o se alongue em Vivas, E cordeal ternura os labios honre.
(CORO.)
Oh Luso Heróe! Baixaste Da Estancia divinal! Tu és hum Deos visivel, Oh Principe immortal!
FIM.
* * * * *

*SONETO.*
Meu ser evaporei na lida insana Do tropel de paix?es, que me arrastava, Ah! cégo eu cria, ah! mísero eu sonhava Em mim, quasi immortal, a essencia humana:
De que innumeros sóes a mente ufana Existencia fallaz me n?o doirava! Mas eis succumbe a Natureza escrava, Ao mal, que a vida em sua origem damna.
Prazeres, socios meus, e meus tyrannos, Esta alma, que sedenta em si n?o coube, No abysmo vos sumio dos Desenganos.
Deos... oh Deos! quando a morte a luz me roube, Ganhe hum momento o que perdêr?o annos, Saiba morrer o que viver n?o souve.
Bocage.
* * * * *
*SONETO.*
De peito impenetravel sempre ao susto, Lédo entre as armas, a folfar no p'rigo, ó Fran?a, teu magnanimo inimigo, Por timbre teu n?o triunfou sem custo.
Ardendo em gloria o cora??o robusto, Onde teve o troféo, teve o jazigo: Nelson venceo, venceo por uso antigo; Mas da victoria foi desconto injusto.
Bem que nadante a Gallia em rubro lago, (Domando a morte quem seus brios doma) Crê reparar com isto immenso estrago!
Ah! donde um Nelson cahe, logo outro assoma, Assim,de Heróes privando-te Carthago, Heróes fervi?o no teu seio, ó Roma.
Bocage.
* * * * *
*SONETO.*
M?i de Chefes
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 16
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.