A virtude laureada | Page 3

Manoel Maria de Barbosa du Bocage
trilha Por onde a m?o de Jove arreiga espinhos, Que súbito depois converte em flores!... Mas que ufano Baixel retalha o Téjo![1] Brinc?o no tópe flammulas cambiantes, E cambiante bandeira as ondas varre: Eis v?a, eis se aproxima!.. Hum quasi monstro, De aspecto feminil, tigrinas garras, De trage multic?r, lhe volve o leme! Que Turba enorme á sua voz marêa! E o ferro curvo, e negro ao fundo arroja! Desce a vaso menor a horrivel Furia, Recolhe?o-lhe o rosto, os fins lhe alcan?o.... Lá vem, lá toca sobre a arêa e salta. Inimiga dos Ceos![2] és tu, profana! Sacrilega, fallás, blasfemad?ra, Peste dos Cora??es, Org?o do Averno! Vens tambem macular com teus venenos, Com halito infernal, e atroz systema Campos, que meu bafejo Elysios torna!
[1] Apparece hum Baixel, donde pouco depois desembarca a Libertinagem com sequito numeroso. [2] Corre para ella.
Libertinagem.
Org?o n?o sou do Averno, o Averno he sonho[1] Para mim, para os meus, n?o soffro o jugo, Que sobre Cora??es t?o férreo péza. Fantasticos Deveres n?o me illudem; O sensivel me attrahe, do ideal n?o curo, Só de palpaveis bens fecundo a mente; O Bando, que allicio, e que prospéro, Vive em prazeres, em prazeres morre. Complei??o dos Cat?es, Moral de ferro, Furia, Libertinagem me nomêa; Mas o carácter meu destroe meu nome. Delicias ao teu seio, ó Lysia, trago, N?o crúas oppress?es, nem agros males, Que o Fantasma Raz?o produz, maquina; Eu sou a Natureza: ella n?o manda, Que o gosto opprimas, que os desejos tor?as; As paix?es contentar, n?o he loucura: Prestar-lhe atten??o, vontade, assenso, He lei, necessidade, e jus dos Entes. Olha: com sceptro de oiro impéro, ó Lysia; Franquêa o pensamento a meu systema, Despe imagens quiméricas e approva, Que a posse do Universo em ti remate.
[1] Sentimentos abominosos da Libertinagem, refutados vigorosamente pelo Genio da Na??o.
Genio.
Enganas-te, Perversa, os Ceos a escud?o; De Lysia puro Insen?o aos Numes sóbe, arde em virtude, inflamma-se na Gloria; Moral, Religi?o, saudavel Jugo, Que péza aos Impios, que aos Iniquos péza, Nunca foi grave a Lysia, Heróe supremo, Que he na Terra, o que he Jupiter no Olympo, Aqui, n?o com violencia, e n?o com arte, Mas pelo exemplo morigéra os Lusos, Só menos, que as Deidades, venturosos. N?o manches estes Ceos, Tartareo Monstro, Onde jaz da Virtude o trilho impresso. Eco da Magestade, a voz te aterre Do zeloso Ministro infatigavel, Luceno, ao Throno, ás Leis, aos Deoses curvo, Que, em vínculo fraterno atando os Póvos, Os vê curvos ao Throno, ás Leis, aos Deoses. Negreja, a teu pezar, o horror, que doiras, O Inferno, que n?o crês, de ti fuméga, E o Remorso tenaz te róe por dentro. Este Povo de Heróes, de Irm?os, de Justos, Teu carácter maldiz, teu nome odêa. Aparta-te daqui... mas tu repugnas! Guerreiros da Virtude, e flor da Patria,[1] Que limpais a Moral de intrusa escória, Eia, apurai o ardor contra esse Monstro; A vosso invicto Esfor?o a Furia cêda, Do Gremio da Innocencia o Vicio fuja.
[1] Sahe Tropa armada, que trava peleja com os sequazes da Libertinagem, e os vai destro?ando.
Libertinagem.
N?o se alcan?a de mim victoria facil.
Genio
Satéllites da Gloria: Avante, avante: A Pérfida franquêa, a Palma he vossa.
Libertinagem.
Colheste contra mim Triunfo inutil: Lysia perdi, mas senhoreo o Mundo.[1]
[1] Embarc?o-se tumultuosametne, sempre acossados pela Tropa.

*SCENA IV.*
O Genio, e Tropa.
Gra?as, ó Numes, sucumbio a infame. Heróes, eu vos bemdigo o Marcio fogo, O rápido valor, que n'hum momento A melhor das Na??es salvou do estrago...[1] Mas, Deoses, soffrereis, que n'outro clima, Talvez á infamia sua ignoto ainda, Sobre o lenho orgulhoso aporte a Fera, E tóxico respire, e peste exhale: O sacri1egio pune; hum raio, ó Jove, Hum raio a torne cinza, hum raio abysme O ligneo Torre?o no equóreo centro[2] Annuiste-me, oh Deos: He chammas todo! Lá cabe, lá se desfaz, e o Tejo o sorve. Vai, Monstro , vai saber, desesperado, Se he fantasma a Raz?o, se he sonho o Inferno, Vai no horrendo tropel dos teus sequazes De momentanea flamma á flamma eterna; E eu, ministro dos Ceos, submisso aos Fados, Vou por m?o de hum Mortal encher seus planos.[3]
[1] Vai-se a Tropa. [2] Cahe o raio sobre o Baixel da Libertinagem, e o abraza. [3] Vai-se.

*SCENA V.*
Carcere subterraneo, onde estar?o os Vicios, e os Crimes agrilhoados, exprimindo variamente nos géstos a sua desespera??o.
A Policia com Guardas.
Contra os Vicios communs, que pouco empecem, Exercer correc??es n?o só me he dado. Velai, Guardas fieis, sobre os Perversos, Que a Policia commette ao zello vosso, Até que o raio Némesis dispare Co'a férrea voz de Tribunal supremo. Eu dos crimes terror, dos crimes freio, A supplicio exemplar, que sare a Patria D'impia contagi?o, reservo aquelle De todos o mais duro, o mais funesto, Que, instrumento servil de atroz vingan?a, Tingio vendida m?o no sangue alheio. Ao cutélo de Astréa em v?o furtaste
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 16
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.