Consta-me que o snr. Chardron consente que este opusculo seja
trasladado a francez e hespanhol. Suspeita-se que a Allemanha e o
Reino-Unido pensam em o traduzir com uma grande sêde de idéas. Pois,
se isto assim é, como não póde deixar de ser, bom será que lá fóra se
leia em linguagem conhecida uma opinião ingenua a respeito do
escriptor moderno mais consciencioso de Portugal, como a princeza,
baseada em anthropologia e assás biologica, qualificou o snr.
Theophilo. De si proprio dizia elle com paspalhona philaucia no
Ath[ae]neum de Londres, Revista do anno de 1878:
«Actualmente a philosophia positiva conta muitos admiradores em
Portugal, e os novos espiritos disciplinados por ella vão conhecendo
com grande clareza de que trabalhos este povo precisa para progredir.
N'este espirito acabam de sahir á luz os dous primeiros fasciculos
d'uma Historia Universal, que a imprensa portugueza tem considerado
como uma renovação dos estudos historicos em Portugal; a noção
positiva da historia e o esboço da historia dos egypcios estão a par dos
(muito pardos) modernos trabalhos da archeologia prehistorica e
egitilogica».
É o que pensa de si o egitilogico snr. Theophilo. Já lhe não basta o
elogio mutuo. O oraculo, quando os catechumenos de cá o não
incensam, trata elle de salvar na Inglaterra a reputação da critica
portugueza, escrevendo que a imprensa lhe considera as farfalharias
uma renovação dos estudos historicos em Portugal. Ridiculo até á
compaixão!
Os livros do snr. Theophilo são uma balburdia, retraços de sciencia
apanhados a dente, mal mascados, um cerebro atrapalhado como
armazem de adeleiro, golfos do bôlo não esmoido, cousas apocalypticas,
muito desatadas, em prosa deslavada, derreada, enxarciada de
gallicismos, cahotica, apontoado enxacôco de retalhinhos apanhados á
tôa n'uma canastra de apontamentos baralhados e atirados para o prélo.
Toda a farragem do snr. Braga é isto, creiam-me os Pisões e a snr.^a
Rattazzi. A cabeça tôa-lhe a vazio, em competencia com a da sua
admiradora. Todo elle é uma bexiga de gazes maus; quando a apertam,
faz-se mister, como para o portugaison, apertar o citado appendice.
Diz que o snr. Luciano Cordeiro é um dramaturgo original: parece que
a originalidade do snr. Luciano Cordeiro está em não ter escripto drama
algum.
Reflexionando conspicuamente sobre a nossa deploravel instrucção
publica, sahe-lhe de molde contar que nós, os portuguezes, a um
brazileiro que passa chamamos macaca. Que o brazileiro vai passando,
e nós dizemos: É una macaca.
Não é tanto assim; não se lhe desfigura o sexo. Se a princeza, ao passar,
ouviu dizer: é una macaca, isso não era com o brazileiro.
E a proposito de macaco:
Tendo esta dama escripto lisonjeiras cousas da gentileza e bonito feitio
dos homens portuguezes, exceptuou caprichosamente um criado do
Hotel Mondego, o José Macaque. Diz que elle tem uma fealdade
socratica. Eu não affirmo que José Macaco seja um galan com o perfil
de Bathylo de Samos nem os tres quartos do Cupido de Corregio.
Anacreonte de certo lhe não toucaria as louras madeixas de pampanos e
rosas de Teos, nem me persuado que Sodoma ardesse por causa d'elle
ou de mim. Assim mesmo, sem algum motivo estranho á plastica, a
princeza Maria Letizia, indisposta com José Macaco, não lhe
perpetuaria no seu livro como em um bronze de Esopo, a fealdade.
Devia de haver uma causal esthetica para injuria tão desproporcionada
com as culpas arguidas a José Macaco. Sua alteza não o baldeava á
zombaria dos seculos porvindouros pelo delicto de lhe não servir
mayonnaise de lagosta à la gele, nem mexilhões á provençal. Indaguei,
por intermedio d'um meu amigo em Coimbra, quaes as causas ingentes
dos odios assanhados pela Discordia ignivoma, como diria Homero,
entre Macaco e Princeza. Tentaria elle como o hediondo Thersites da
Iliada arrancar com suspiros absorventes os olhos meigos da nova
Pantasilea? Trato de averiguar. Se a resposta não vier a tempo,
dar-se-ha em appendice supplementar.
Trata com amoravel equidade o snr. G. Junqiero. Acha-lhe bellas
cousas no seu don Jooâ, e que realça no estylo menineiro, enfantin. O
snr. Junqueiro, se bacorejasse este obsequio, não mettia na sua Viagem
á roda da Parvonia uma Princeza Ratazana, «em toilette myrabolante,
cheia de pedrarias e plumas». A princeza Ratazana da farça dá um
jantar a lyricos e satanicos, e canta:
É um paiz singular A patria dos malmequeres! Póde-se dar um jantar
Ficando os mesmos talheres.
Mas os convivas, a quatro libras por cabeça,--o snr. Guerra,
gratis--põem-se nas flautas, e ella abysma-se no buraco do ponto. A
troça está impressa. Guerra Junqueiro vingou A. A. Teixeira de
Vasconcellos.
Este escriptor, prodigo de gabos e cortezias aos seus collegas, houve-se
cavalheirescamente com a princeza. Fez folhetim heraldico da sua raça
corsa, do espirito e dos livros que eu apenas conhecia de lh'os vêr
citados no Dictionnaire de l'argot parisien, por Lorédan Larchey, Paris,
1872. Ella é authoridade em giria.
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