de fornecer, cosia-se com os lardos suinos como qualquer
fornecedor do exercito brazileiro do Paraguay. A justiça perseguiu-o
como concussionario; Jorge safou-se, fez-se ariano, e levou d'assalto a
cadeira archiepiscopal de Athanasio. Depois, na capital do Egypto, a
execração publica encarcerou-o afim de o processar; mas o povo,
impacientado com as delongas do processo, atirou-o ao mar. «Como é
que este malandrim (pergunta Campbell na biographia de Shakspeare)
chegou a ser transformado em S. Jorge, patrono dos exercitos, da arma
de cavallaria e da ordem da Jarreteira?» Campbell diria á senhora
princeza: «Patricia, antes de escarnecer as crenças portuguezas, zombe
das inglezas. O santo é nosso, e Deus sabe que bestialidade grande
praticaram os lusos admittindo um santo da Gran-Bretanha na
vanguarda d'uma jolda de velhacos que lhes fizeram á industria da
metropole e ás colonias d'Africa o que o tal Jorge fez ao toucinho dos
soldados romanos».
Ora, se é facto que o sujeito sizava a carne de porco das legiões
romanas, esse devia ser coherentemente o santo tutelar d'Inglaterra. Eu,
porém, segundo a minha historia ecclesiastica, muito mais orthodoxa e
correcta que a de Campbell, pendo a crêr que S. Jorge era um principe
da Cappadocia que soffreu martyrio, imperando Diocleciano, depois de
ter matado um certo crocodilo que queria comer a filha do rei Aja.
Jorge levou talvez em vista, n'este crocodilicidio, plagiar Perseu que
matou outra fera que queria comer Andromeda, filha do rei Cepheu. O
que é certo é que os saxonios, estes selvagens, incapazes de produzir
um santo, adoptaram o da Cappadocia. Nós é que não tinhamos
necessidade do santo, dando-se o caso de mais a mais de sermos
ridiculisados por causa d'elle no livro da snr.^a Rattazzi, princeza que
de certo não vai ao florilegio como o seu collega principe Jorge.
Sobre materia intrincada de cultos, presume que o enigma poderia ser
resolvido pelo bispo de Visens, Alves Martius. Este nome está bastante
corrompido para se pensar que o prelado de Visens Martius é um bispo
mosarabe, coevo do duque de Laf[oe]s, com diphthongo.
Deturpar nomes de bispos e duques pouco importa; é muito peor
divulgar, ácerca das realengas aspirações d'uma duqueza benemerita de
respeito, umas chocalhices cochichadas nas salas, mas nunca escoadas
pelo esgôto da imprensa séria. Allude em termos esbandalhados de
actriz patusca ao duque, marido d'essa duqueza, e attribue ás barrigas
das senhoras portuguezas um exquisito predominio abdominal sobre os
esposos. Esta senhora, que tem apenas a carne indispensavel para se
não confundir com um fluido, abomina metaphoricamente os ventres
grandes, as barrigas das damas portuguezas fidalgas que nobilitam nas
suas membranas os maridos e os filhos. Pilherias de farceuse de
goguette. Umas buffoneries de petit souper,--can-can de sobre-loja
entre costureiras que bebem do fino e teem namoros nas cavalhariças
do paço.
A snr.^a Rattazzi ri muito das superfetações cosmeticas e oleosas do
conde de M. Valha-nos Deus! A snr.^a princeza, como objecto colorido,
é ha muitos annos uma chromo-lithographia das obras do bibliophilo
Jacob. Que Alphonse Karr me não deixe mentir.
Do duque de Saldanha repete anecdotas chinfrins que põem
gargalhadas sobre a campa do bravo caudilho a quem D. Pedro IV
agradeceu a corôa de sua filha. Conta um dialogo forte que elle teve em
1851, ás quatro horas da manhã, com a rainha D. Maria Pia, e que ella
mostrára desejos de o mandar espingardear. Ora, em 1851, a senhora D.
Maria Pia, o Anjo, tinha quatro annos, e desde que veio para o throno
de Santa Isabel e de Santa Carlota Joaquina apenas tem espingardeado
alguns borrachos, 4 em 5. E o duque de Saldanha--conta a
princeza--apresentou-lhe a esposa no seu palacio d'ella em Antin.
Assim zomba a snr.^a Rattazzi dos seus amigos mortos e matraquêa
Saldanha que a visitava, quando o Figaro a escarnecia e Pelletan lhe
desenhava o perfil na Nouvelle Babylone.
Está a caracter quando, annotando um artigo espirituoso do Pimpão,
explica á Europa o que é o «Perna de pau» e a «Horta das tripas»
(Jardin des tripes). Falla muito de faguêtes que a incommodam, e diz
que Vm.^{cê} é o diminutivo de V. Exc.^a. Investigando a linguistica,
observa que não dizemos o rei, mas el-rei; e que o el é recordação
mourisca e vestigio da occupação dos arabes. Confunde o artigo
hespanhol el (do latim ille) com o artigo arabico al, prefixo a muitas
palavras portuguezas. As Therezas philosophas são muito mais
vulgares que as Therezas philologas. Diz que o nosso ai Jesus! tambem
é musulmano, e o se Deus quizer tambem é vestigio arabico. É uma
mulher das arabias, ella!
Faz rir á custa dos archeiros que tocam o tambor á chamada. A snr.^a
Rattazzi nasceu em Inglaterra onde hoje em dia se conservam usanças
ridiculas, ratices que se avantajam muito á do archeiro que rufa a caixa.
Exemplo: os dous manequins
Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.