desde o chefe do estado, podemos dizel-o, até ao mais
humilde cidadão, todos faziam votos para que a victoria fosse coroar
com a sua rutilante aureola as armas d'esse valente e generoso povo,
que Portugal tem o bom senso de não tornar responsavel pelos actos
praticados por dois dos seus despotas.
E olhe vossa alteza princeza:--tudo isto aconteceu estando um
Bonaparte á frente da França... Hoje, que não está lá nenhum, calcule
como terá augmentado a nossa sympathia por aquella grande nação.
* * * * *
A esperteza saloia precisava de correctivo. Ahi fica. A princeza diz que
nós os portuguezes somos muito pacientes. Assim é, mas quando um
mosquito começa a zumbir-nos aos ouvidos, a importunar-nos, depois
de o sacudirmos, uma, duas, tres vezes, zangamo-nos e damos-lhe uma
palmada com tanta vontade... que o esborrachamos.
É uma porcaria, d'accordo. Mas tambem para que serve a agua?
* * * * *
Agora as ultimas palavras... as palavras da despedida.
N'uma carta circular que sua alteza dirigiu á imprensa diz:--Il faut me
pardonner quelques plaisanteries sans importance et sans parti pris...
que é como se dissesse:--queiram os senhores desculpar alguns gracejos
innoffensivos e sem intenção...
Ah! pois não princeza! Com todo o gosto... Sem mais aquella, como se
diz em giria... E se o nosso folheto tiver a honra de ser lido por vossa
alteza, lembre-se das suas linhas e queira tambem
desculpar-nos:--quelques plaisanteries sans importance et sans parti
pris.
* * * * *
Segue a biographia da princeza.
BIOGRAPHIA
Rattazzi--(Maria Studolmire Wyse, princeza de Solms, depois condessa)
mulher de lettras franceza, nascida em Waterfard (Inglaterra) em 1833.
É neta de Luciano Bonaparte, irmão de Napoleão I, e filha de Letizia
Bonaparte, e de sir Thomaz Wise, membro do parlamento de Inglaterra,
que morreu ministro plenipotenciario da Grã-Bretanha em Athenas.
Descendente de uma serie de uniões consideradas como outras tantas
mesalliances para a familia Bonaparte, foi sempre considerada por esta
como uma intrusa, ou como uma inimiga. Quando o principe Luiz, seu
primo, foi eleito presidente da Republica franceza, prohibiu-lhe
formalmente que usasse o nome de Bonaparte-Wise, pelo qual eram
conhecidos seu pae e seu irmão. Entretanto, a sua filiação napoleonica,
está tão bem estabelecida senão melhor que a do seu proprio primo. Seu
avô Luciano, principe de Canino, casára, em segundas nupcias, com
madame Bleschamp, viuva de um agente de cambio, casamento que
descontentou muito Napoleão, e fez romper todas as relações da familia
imperial com Luciano; este, tendo-se retirado á Italia, fez naturalisar
romanos todos os seus filhos, tão pouca era a sua fé na restauração da
dynastia a que pertencia. A neta, nascida de mãe romana, Letizia
Bonaparte, e de pae irlandez, era realmente uma Bonaparte, mas tão
pouco franceza quanto possivel. Foi comtudo educada na casa da
Legião de Honra de S. Diniz, e, como não tivesse meios, fez-se
professora.
Em 1848, quando á familia Bonaparte foi permittida a entrada em
França, e o principe Luiz se propoz a presidente da Republica Franceza,
foi pedida em casamento por Mr. Frederico de Solms, rico alsaciano
que a dotou em 700 ou 800 mil francos, esperando que ella viesse a ser
uma das estrellas da futura côrte de seu primo, e que assim o levasse ás
grandezas. Não aconteceu nada d'isto. Os Bonapartes, e principalmente
o futuro Napoleão 3.^o não a consideraram como da familia; como o
pae da segunda mulher de Luciano occupara um emprego d'inspector
nos direitos reunidos, pretendiam não terem nada de commum com a
descendente d'um vendedor de tabacos, e foi isto o que os jornaes do
Elysseu lhe disseram, nu e cru, quando Madame de Solms, posto que
muito nova ainda, porque então apenas contava 16 annos, começou a
tornar-se notavel.
Lançou-se então na opposição, attrahiu a sua casa algumas
notabilidades do partido democratico, abriu as suas salas aos litteratos,
deu festas esplendidas, e ostentou um luxo que tinha a pretenção de
fazer epoca na historia contemporanea. No seu pequeno circulo
comparavam-a a mademoiselle Montpensier e dizia-se que do seu
boudoir sahiria uma nova Fronda. Por occasião do golpe de estado de 2
de dezembro, em que estavam implicadas algumas pessoas que
frequentavam as suas salas, julgou-se tambem obrigada a deixar a
França, habitando ora em Roma, na Belgica, ora as cidades de caldas
mais notaveis.
Considerava-se como exilada, e tendo alguns jornaes publicado que ella
pedira para ser amnistiada, fez-lhes publicar esta resposta altiva:--«Só
um governo liberal e sensato me póde fazer voltar á França. Até o dia
em que triumphem as nossas liberdades, acceito o exilio; mas protesto
energicamente contra toda e qualquer nova insinuação, grave ou pueril,
tendente a fazer admittir que, no presente ou no futuro, sob qualquer
consideração, e em qualquer extremidade em que me encontre, eu
possa ligar-me directa, ou indirectamente, a uma familia da qual me
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