portuguezes. O general Junot promettia um Cam?es para a Beira. Pois nem com isso ganhou os animos dos beir?es. Contentaram-se com o seu Braz Garcia de Mascarenhas[2], e n?o quizeram o Cam?es francez.
Nunca este bom povo portuguez faltou aos seus principes em prol da patria, qualquer que fosse a conjunctura, e por grande que parecesse o poder dos adversarios. Lealdade, perseveran?a, coragem, dedica??o e desinteresse eram qualidades antigas dos portuguezes. Nem virtudes se lhes chamava. O nosso povo era assim. Fazia o seu dever. Do arado á bésta, ao mosquete ou á escopeta havia a distancia do comprimento do bra?o. Louvado Deus! O bra?o ainda é o mesmo! E a distancia tambem!
No empenho de reconstituir a independencia portugueza, vieram os inglezes ajudar-nos, e aproveitar as nossas boas disposi??es contra a Fran?a. Cá ficaram por fim a governar como se o reino fosse d'elles. O povo n?o os podia supportar. Em uma linda manh? do mez de agosto de 1820, ergueu-se de mau humor, e mandou os inglezes para Inglaterra. Fez bem. Lá é o logar d'elles.
Pois ainda cá voltaram em 1826, mas foram-se embora sem fazerem cousa alguma, porque para vencer o Silveira bastaram as tropas portuguezas. O caso foi que d'ahi ficou sempre aos realistas a idéa de dizerem que as institui??es liberaes tinham sido sustentadas pelas bayonetas estrangeiras.
Deus perdoe a quem lhes poz nas m?os esta pedra para quebrarem a cabe?a aos liberaes.
Os inglezes vieram outra vez em 1847 de bra?o dado com os castelhanos. Ninguem sabe quem os chamou, ou quem o sabe, n?o o quer dizer. Melhor é que nunca o diga. Bem farto de malqueren?as anda o mundo. N?o precisa que lhe acrescentem o numero dos odios.
E a todos esses attentados directos e indirectos resistiu constantemente o povo portuguez. Vigorosa nacionalidade é aquella que nem o poder de visinhos ambiciosos, nem os erros ou deslealdades dos naturaes poderam ainda destruir. Curiosa historia a da funda??o d'este pequeno estado que desde o seculo XII até aos nossos dias tem sabido annullar, mais pela energia do caracter popular do que por outros meios, multiplicados elementos de destrui??o e de morte.
Este estudo é talvez mais proveitoso hoje do que nunca o foi, porque depois de termos circumnavegado o globo, e arvorado a nossa bandeira em tantas partes do mundo, parece que caminhamos agora para uma situa??o t?o critica e arriscada, como aquella em que inscrevemos o nome portuguez no livro de oiro dos povos livres e independentes. Ao menos assim o dizem os politicos, e póde ser que o perigo venha á for?a de chamarem por elle. Tem-se visto.
O conhecimento do modo pelo qual nos constituimos em nacionalidade distincta e forte, poderá convencer-nos de que só depende de nós mesmos a sustenta??o d'este heroico feito de nossos maiores. Já n?o é pouco.
As na??es que têem perdido a independencia, sofrem na historia a accusa??o de a n?o terem sabido defender ou de já n?o serem dignas de a possuir. Fóra d'esta triste alternativa as na??es ou n?o morrem ou ressurgem.
Vamos á narra??o.
II
O REINO DE LE?O
Bermudo III subiu ao throno de Le?o depois da morte de seu pae Affonso V, fallecido de molestia quando intentava tomar Vizeu. Bermudo tinha uma irm? chamada D. Sancha, e os fidalgos de Castella desejavam que casasse com ella o conde Garcia, seu joven soberano. O conde já era, pelo casamento de uma de suas irm?s, cunhado do rei de Le?o. A outra era mulher de D. Sancho, rei de Navarra.
Os magnates castelhanos, dirigiram-se com o joven conde para Le?o, porém Bermudo estava em Oviedo. Resolveram ent?o ir ter com elle á c?rte, mas antes de come?arem a jornada, o mo?o Garcia foi assassinado por uma familia, inimiga declarada da sua. Chamava-se esta familia Vigila. Outros lhe chamam Vela.
As consequencias d'este crime foram de grande importancia na peninsula hespanhola, principalmente para o ramo primogenito da dynastia leoneza.
Sancho, rei de Navarra, tomou o encargo de vingar a morte de seu cunhado Garcia, e succedeu-lhe na soberania das terras de Castella. Apesar da innocencia de Bermudo no attentado dos Velas, elle foi quem pagou mais caro esse triste acontecimento. é sorte dos principes expiarem os erros de quem os cérca e aconselha ou de quem em nome d'elles preocede mal.
Um pretexto de pouca valia fez dentro em breve romper a guerra entre Navarra e Le?o, e Bermudo, pouco feliz nos feitos militares contra Sancho, teve de dar a Fernando, filho do rei de Navarra, sua irm? Sancha por mulher. Cedeu tambem ent?o todo o territorio entre os rios Cea e Pizuerga, com o que ficaram mui dilatados os dominios de Sancho já soberano de Navarra e de Arag?o, agora senhor de Castella, e de uma boa parte das terras de Le?o. Esta cedencia foi feita em 1032.
T?o vastos estados n?o passaram unidos ao primogenito de Sancho. O

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