co zinha. Ela usava apenas calcinha preta e
tinha os braços cruzados sobre os pequenos seios brancos com piercing. O cabelo preto flutuava
em volta de sua cabeça num emaranhado discreto. Ela não se chamava realmente Geórgia.
Também não se chamava Morphina, embora tivesse adot ado esse nome nos dois anos em que
fora stripper. Seu nome verdadeiro era Marybeth Kimball, tão simples, tão comum que ela rira na
primeira vez que o revelara a Jude, como se isso a embaraçasse.
À medida que o tempo passava, Jude ia deixando para trás uma coleção de namoradas
góticas que tiravam a roupa ou eram cartomantes, ou tiravam a roupa e eram cartomantes, belas
moças que usavam cruzes egípcias, esmalte negro nas unhas e que ele sempre chamava pelo
nome de seus estados de origem, um hábito de que po ucas gostavam, pois não queriam ser
constantemente lembradas da identidade que estavam tentando apagar com toda aquela
maquiagem de mortas-vivas. Geórgia tinha 23 anos.
— Porra de cães estúpidos - disse ela, empurrando um deles com o calcanhar. Estavam
rodando em volta das pernas de Jude, estimulados pelo cheiro do bacon. — Me fizeram levantar.
— Talvez estivesse na hora de tirar o rabo da cama. Já pensou nisso? - Ela fazia tudo para
nunca ter de se levantar antes das dez.
Geórgia se curvou diante da geladeira aberta para p egar o suco de laranja. Ele gostou da
vista, do modo como as tiras da calcinha cortaram a s duas nádegas, de uma brancura quase
excessiva, mas desviou os olhos enquanto ela bebia diretamente da caixa. Geórgia deixou o suco
na bancada da pia. Ficaria ali até estragar se Jude não o guardasse na geladeira.
Ele estava contente com a adoração das góticas. Gos tava ainda mais do sexo, de seus
corpos ágeis, atléticos, tatuados e ávidos por uma excentricidade. Mas já fora casado com uma
mulher que usava copo, guardava as coisas na gelade ira e lia o jornal de manhã. Jude sentia falta
das conversas dos dois. Eram conversas adultas. Ela não tinha sido stripper. Não acreditava em
adivinhação do futuro. Era um relacionamento maduro .
Geórgia usou uma faca de carne para cortar a caixa da UPS. Deixou a faca na bancada da
pia, com a fita adesiva grudada.
— O que é isto? — ela perguntou.
Havia uma segunda caixa dentro da primeira. Estava muito apertada dentro da outra e
Geórgia teve de puxar por um bom tempo até consegui r tirá-la e pousá-la na bancada. Era
grande, brilhante e preta, e tinha a forma de um coração. Bombons às vezes vinham em caixas
como aquela, embora ela fosse grande demais para bo mbons. E caixas de bombons eram cor-de-
rosa ou, no máximo, amarelas. Podia ser uma caixa c ontendo lingerie — só que Jude não tinha
encomendado nada do tipo para dar a Geórgia. Ele fr anziu a testa. Não fazia a menor idéia do
que poderia haver ali dentro e ao mesmo tempo senti a
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