A Queda dum Anjo

Camilo Castelo Branco

A Queda d'um Anjo

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Title: A Queda d'um Anjo Romance
Author: Camilo Castelo Branco
Release Date: March 5, 2006 [EBook #17927]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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A QUEDA D'UM ANJO
ROMANCE
POR
CAMILLO CASTELLO BRANCO

LISBOA
LIVRARIA DE CAMPOS JUNIOR--EDITOR
77--Rua Augusta--81
1866

Imprensa de J. G. de Sousa Neves--Rua do Caldeira, 17

*DEDICATORIA*
ILL.^{MO} E EX.^{MO} SR. ANTONIO RODRIGUES SAMPAIO
Meu amigo.
Volto a offerecer-lhe uma das minhas bagatelas. Chamo assim, para me fingir modesto, bagatelas a umas coisas que eu reputo no maximo valor. Se n?o fossem ellas, naturalmente eu n?o chegaria a grangear a estima de V. Ex.^a, que m'as tem lido, e alguma vez louvado. Já V. Ex.^a, antes de me conhecer, quiz encravar a roda do meu infortunio, roda com que eu estou sempre brincando como as crean?as com os seus arcos. Que tinha eu feito para commover a bemqueren?a do meu prestante amigo? Tinha feito uns livros futilissimos, á imita??o d'este que lhe offere?o.
N?o é esta boa opportunidade de eu vir com a minha obla??o de pobre a V. Ex.^a Lembra-me a senten?a do nosso Diogo de Teive:
_Donat cum egenus diviti Retia videtur tendere_.
Os praguentos h?o de querer ver aquellas rêdes, por que n?o sabem que V. Ex.^a já me constituiu, ha muito, no dever de eterna e profunda gratid?o.
Lessa da Palmeira 27 de setembro de 1865.
CAMILLO CASTELLO BRANCO.

I
*O heroe do conto*
Calisto Eloy de Silos e Benevides de Barbuda, morgado da Agra de Freimas, tem hoje quarenta e nove annos, por ter nascido em 1815, na aldeia de Ca?arelhos, termo de Miranda.
Seu pae, tambem Calisto, era cavalleiro fidalgo com filhamento, e decimo sexto var?o dos Barbudas da Agra. Sua m?e, D. Basilissa Escolastica, procedia dos Silos, altas dignidades da egreja, commendatarios, sangue limpo, já bom sangue no tempo do senhor rei D. Affonso I, fundador de Miranda.
Fez seus estudos de latinidade no seminario bracharense o filho unico do morgado da Agra de Freimas, destinando-se a doutoramento _in utroque jure_. Porém, como quer que o pae lhe fallecesse, e a m?e contrariasse a projectada formatura, em raz?o de ficar sosinha no solar de Ca?arelhos, Calisto, como bom filho, renunciou á carreira das lettras, deu-se ao governo da casa algum tanto, e muito á leitura da copiosa livraria, parte de seus avós paternos, e a maior dos doutores em canones, conegos, desembargadores do ecclesiastico, cathedraticos, chantres, arcediagos e bispos, parentella illustrissima de sua m?e.
Casou o morgado, ao tocar pelos vinte annos, com sua segunda prima D. Theodora Barbuda de Figueir?a, morgada de Travanca, senhora de raro aviso, e muito apontada em amanho de casa, e ignorante mais que o necessario para ter juizo.
Unidos os dois morgadios, ficou sendo a casa de Calisto a maior da comarca; e, com o rodar de dez annos, prosperou a olho, tendo grande parte n'este incremento a parcimonia a que o morgado circumscreveu seus prazeres, e, por sobre isto, o genio cainho e apertado de D. Theodora.
Remenda teu panno, chegar-te-ha ao anno, dizia a morgada de Travanca; e, afferrada ao seu adagio predilecto, remendava sempre, e sergia com perfei??o justamente admirada entre a familia, e fallada como exemplo na área de quatro leguas, ou mais.
Em quanto ella recortava o fundilho ou apanhava a malha r?ta da pinga, o marido lia até noite velha, e adormecia sobre os in-folios, e acordava a pedir contas á memoria das riquezas confiadas.
Os livros de Calisto Eloy eram chronic?es, historias ecclesiasticas, biographias de var?es preclaros, corographias, legisla??o antiga, foraes, memorias da academia real da historia portugueza, cathalogos de reis, numismatica, genealogias, annaes, poemas de cunho velho, etc.
Respeito a idiomas estranhos, dos vivos conhecia o francez muito pela rama; porém, o latim fallava-o como lingua propria, e interpretava correntemente o grego.
Memoria prompta, e cultivada com aturado e indigesto estudo, n?o podia sair-se com menos de um erudito em historia antiga, e repositorio de noticias miudas sobre factos e pessoas de Portugal.
Consultavm-n'o os sabios transmontanos como juiz indeclinavel em decifrar cipos e inscrip??es, em restabelecer épocas e successos controvertidos por authores contradictorios.
Sobre castas e linhagens, coisa que elle tirasse a limpo, n?o dava péga a duvida nenhuma. Ia elle desenterrar gera??o já sepultada ha setecentos annos, e provar que, na era de 1201, D. Fuas Mendo casára com a filha de um mesteiral, e D. Dorzia se havia sujado casando mofinamente com um pagem da lan?a de seu irm?o
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