concep??es delirantes se apresentam primeiro, apparecendo as illus?es e allucina??es como um facto secundario da doen?a, ou, pelo contrario, a esphera sensorial �� primitivamente affectada e s�� depois irrompem as concep??es chimericas.
Ora, segundo Foville, n?o �� de modo nenhum indifferente para a natureza mesma da doen?a que a success?o das duas ordens de symptomas se realise n'um sentido ou n'outro, porque o allucinado-delirante ��, em regra, um perseguido que p��de tornar-se megalomano, ao passo que o delirante-allucinado �� mais vezes um megalomano que p��de vir a ter id��as de persegui??o. A raz?o d'isto, no dizer de Foville, vem de que na loucura parcial as allucina??es primitivas s?o, como estabelecera Las��gue, preponderantemente, sen?o exclusivamente as do ouvido, de um caracter, em regra, penoso ao principio e de molde, portanto, a gerarem um delirio depressivo. Ora, sendo a hypothese do allucinado-delirante mais frequente que a do delirante-allucinado, �� tambem mais vulgar o perseguido-megalomano que o megalomano-perseguido.
Posto isto, que serve para mostrar que n?o �� meramente accidental a passagem de um delirio a outro, Foville, estreitando mais o assumpto, deriva �� explica??o do modo intimo por que ella se realisa.
A transi??o (mais frequente, como foi dito) do delirio de persegui??o ao de grandezas opera-se, ao v��r de Foville, por um processo logico. ?Depois, diz elle, de terem por mais ou menos tempo attribuido as proprias allucina??es a inimigos desconhecidos, contentando-se com explical-as por uma palavra mais ou menos obscura e mysteriosa, certos lypemaniacos allucinados dizem a si mesmos: Factos d'esta ordem n?o podem passar-se, no estado social em que vivemos, sem a interven??o de pessoas influentes e altamente collocadas; essas s��, portanto, s?o as instigadoras dos nossos tormentos. Outros, ao contrario, reconhecendo que n?o succumbem nunca de um modo completo aos perigos de que se sentem cercados; supp?em ter amigos occultos, mas de um grande poder, que os protegem. Esta ordem de id��as imprime desde ent?o o seu cunho ao conjunto das concep??es e allucina??es: os doentes fallam de grandes personagens que v��em por toda a parte, desconhecem a identidade real dos individuos, que os cercam e cr��em que imperadores, imperatrizes e principes os visitam ou lhes enviam mensagens. No meio do delirio melancolico as id��as de grandeza adquirem realmente uma importancia preponderante. Mas as coisas podem ir mais longe ainda. Impressionados pela despropor??o entre a sua posi??o burgueza e o poder de que devem disp?r os seus inimigos para os attingirem, a despeito de tudo; entre o apagado papel que desempenham no mundo e os moveis imperiosos que podem explicar o encarni?amento com que s?o perseguidos, alguns d'estes doentes acabam por a si proprios perguntarem se realmente s?o t?o pouco importantes como parecem. Uma nova perspectiva se abre diante do seu atormentado espirito: n?o �� j�� a dos outros, mas a propria personalidade que aos seus olhos se transforma. Para que os persigam d'este modo, dizem elles, �� preciso que um alto interesse se d��, e isso s�� se comprehende porque elles fa?am sombra a gente rica e poderosa, porque tenham, elles proprios, direito a uma fortuna e a uma posi??o de que fraudulentamente os despojaram, porque perten?am a uma classe elevada de que foram afastados por circumstancias mais ou menos mysteriosas, porque n?o sejam seus verdadeiros paes os que como taes consideram, porque perten?am, emfim, a uma alta estirpe, as mais das vezes real?[1].
[1] Foville, La folie avec pr��dominence du d��lire des grandeurs, pag. 345.
E accrescenta: ?Estas id��as ter?o, sobretudo, tendencia a produzir-se nos casos em que, j�� antes de doente, o individuo teve de soffrer no seu orgulho ou nos seus interesses pelo facto da irregularidade ou do mysterio do proprio nascimento. Assim, temos notado que esta f�� n'uma origem illustre, que esta cren?a n'uma imaginaria fortuna �� relativamente frequente nos filhos naturaes que v��em a cahir na loucura. S?o elles principalmente os preparados para ��s id��as de persegui??o juntarem um novo romance em que dominam as concep??es de grandeza, as substitui??es ao nascer, as confus?es de pessoas?[1].
[1] Foville, Loc. cit., pag. 346.
Como se v��, Foville n?o faz sen?o seguir a orienta??o psychologica de Las��gue, que explicava pela interven??o de um raciocinio a passagem, no delirio de persegui??es, do periodo prodromico ao de estado. Um processo logico, essencialmente deductivo e syllogistico preside tambem, segundo Foville, �� g��nese das id��as ambiciosas que derivam de um delirio persecutorio.
Mas n?o �� este, reconhece-o Foville, o unico modo por que o delirio de grandezas p��de produzir-se; algumas vezes succede que as concep??es ambiciosas se installam primitivamente, dando-se ent?o o caso de surgirem depois id��as de persegui??o, por uma sorte de propaga??o regressiva que, ao fim de um certo tempo, acaba por nivelar as situa??es. Qual �� agora o mecanismo de transi??o? ?�� difficil, escreve Foville, cr��r-se um doente na posse de direitos �� fortuna e ao mando, figurar-se descendente de uma familia illustre, e
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