triumphos, e das palmas,?e atravez sempre! sempre! do gemido?do Genio eternamente perseguido.
Por isso quando foi perto do throno?da terrivel Justi?a, da Immutavel,?ia ainda indignada do abandono?em que se afunda o Genio inconsolavel.?Como os nordestes varrem pelo outomno?as roseiras, assim ella implacavel,?tinha varrido toda a piedade?contra a dura e egoista Humanidade.
Mal a viu a Justi?a disse--ó Fome
? que é que trazes da sombria Terra? Trazes um ai do que morreu sem nome? Sonho de virgem que teu bra?o enterra? Trazes um riso que o infeliz consomme? Ultimo beijo em que um amor s'encerra? Trazes um grito, um desalento fundo? Trazes um pranto de que riu o mundo?
Trago mais que isso replicou sombria?a magra Fome, apresentando o pranto:?--Eu trago-te esta lagrima t?o fria?como o gume da Espada justo e santo.?Eu trago-te este pranto d'agonia,?e que a ti mesmo causará espanto,?pranto que gelou como uma esperan?a,?pranto que clama um grito de vingan?a!
A Fome ent?o narrou, succintamente,?a historia da lagrima marmorea.?Narrou toda essa vida descontente,?toda essa tragedia t?o sem gloria;?seu genio, seu destino, e febre ardente?do Bello, e de gravar-se na memoria,?e esse pranto t?o triste e t?o profundo,?que só o quiz uma mulher no mundo!
Ao acabar ergueu-se ferozmente?a Justi?a em seu throno, commovida,?e clamou com um brado omnipotente?tal que as origens abalou da Vida:??--Eu juro pelo sangue do innocente,?por mim, por esta lagrima caida,?pelo Ceu, pela D?r, e pelo Espa?o,?por minha espada, e for?a de meu bra?o;
por tudo que ha de justo e de terrivel,?por tudo que ha de santo e d'implacavel,?pelo pranto que cae no Invisivel,?e o solu?o que rolla no insondavel,?que n?o destruo ó mundo, ó insensivel,?planeta! essa vida miseravel,?por ter havido uma mulher que quiz?um desolado pranto d'infeliz!
?Mas já que o n?o quizeste ó Terra fria,?quero-o eu, de continuo, na presen?a!?Quero tel-o de noute, quer de dia,?como um sonho constante em que se pensa!?Quero ter esta lagrima sombria,?para um dia lavrar tua senten?a!?Quero tel-o ante mim, como lembran?a:?para lembrar-me de que sou Vingan?a!
?Quero tel-o ante mim, ah! como um grito,?que me recorde os tristes que sem nome?h?o estendido os bra?os no Infinito,?na sêde de Justi?a que os consome!?Quero tel-o ante mim, como o afflicto?brado do Genio que morreu á fome,?e que vos prove d'esta espada os brilhos,?de que vós, ó Poetas, sois meus filhos!?
Assim disse a Justi?a. E desde ent?o?ante ella jaz o pranto eternamente,?para provar que se n?o verte em v?o?a lagrima, na terra, do innocente:?que a natureza é m?e, e o Genio irm?o?do espirito dos astros refulgente?e que a Justi?a sopra a sua ira?nas cordas vingadoras d'uma Lyra.
Eu n?o sei se entendestes o sentido?Occulto e justo d'esta allegoria,?se fiz ondular bem a vosso ouvido?os tenebrosos sons d'esta agonia??E vós, ó tristes! tristes! que haveis ido?tranzidos repousar na valla fria,?esquecidos, inglorios, sem um pranto?a lagrima acceitai d'este meu canto!
Acceitai este canto, como preito?craneos de lava que n?o orna o louro!?e emfim morrestes, porque o vosso peito?bateu nas pedras, d'entre as nuvens d'ouro.?Acceitai n'esta lagrima o respeito,?vós que encontrastes só riso e desdouro!?e que em vez do festim do que trabalha,?n?o tivestes nem louros, nem mortalha!
Acceitai n'esta lagrima o protesto?de muitas gera??es de rebellados?contra o abandono insolito e funesto?do mundo silencioso aos vossos brados!?Em vez do riso, insulto, e do doesto,?acceitai nossos pezames irados,?e n'este canto, ó mortas existencias!?os protestos de muitas Consciencias!
E tu, ó mundo, aprende-o! D'ora avante?n?o mates mais o Genio que irradia!?N?o s'ergam nunca mais ao ceu distante,?Contra ti, magros bra?os d'agonia!?Por que hoje, sabe-o bem! fixa e brilhante,?está clamando e bradando noute e dia,?acima d'Odios, Prantos, e Cubi?a,?a lagrima marmorea ante a Justi?a.
FIM.
End of Project Gutenberg's A Fome de Cam?es, by António Duarte Gomes Leal
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