Viamos e não veremos | Page 6

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o tom aos differentes ramos, que
podem despedir do throno geral do público interesse, de mui pouco
virão a servir a bondade do Sol, a fertilidade do chão, a actividade da
industria, e a inergia do homem.
IV. Para nos mostrar que não muitas mas sabias Leis, e á risca
observadas são o que formão a felicidade Pública, dizia o sabio
Arcesiláo, que assim como aonde ha mais abundancia de Medicos, ha
mais enfermidades, assim aonde ha muitas Leis ha mais vicios!
V. As enfadonhas formalidades (que até ao presente se tem observado,

porém graças á nossa Nova Constituição que as dissipará) de que se
achão carregadas as Leis na prática do Foro de huma grande parte das
Nações, que se dizem policiadas, póde ser, que fossem boas na sua
instituição primitiva: pelo menos hoje parece que servem sómente de
eternisar as materias dos litigios; de dar que fazer aos Advogados; de
fazer viver os Officiaes do Expediente; de obrigar a desistir hum pobre;
que não tem mais, que muita justiça; e de avizar a Eternidade a hum
desvalido desesperado litigante. O grande P. Antonio Vieira, diz com
bem graça em hum de seus Sermões, que se o Processo Criminal, que
se fez a Jezu Christo em Jerusalem, fosse formalisado pela prática
actual do Foro, ainda no seu tempo não estaria consumada a
Redempção.
VI. Bias sentenciando á morte hum delinquente, lhe corrêrão as
lagrimas; e perguntado porque chorava, se como Juiz podia livrar o Réo,
respondeo: Porque não posso faltar ás Leis da Justiça, nem ás da
natureza.
VII. A Augusto Cesar, dizia Ovidio: Se todas as vezes, Senhor, que os
homens peccão, cahisse sobre o delinquente hum raio, em breve tempo
se veria Jupiter sem armas. Mas não inferio bem, diz o Padre Vieira,
antes se todas as vezes que os homens peccão, cahisse logo o raio sobre
o delinquente, não se acabarião, mas sobejarião raios: porque tanto que
o castigo andasse junto com o delicto, nenhum homem se havia de
arrojar a delinquir.
VIII. A clareza, e a precizão, são dois attributos indispensaveis das
boas Leis. Desde o primeiro até ao ultimo dos homens he conveniente,
a meu vêr, que saibão todos, o que lhes he mandado prohibido, ou
tolerado. Parece que deveria ser a primeira Cartilha do Mestre Ignacio,
que se mandasse lêr aos rapazes na escolla; como acontece com a
Biblia nas escolas em Inglaterra.
* * * * *
Este sentimento que nós chamamos Brio, quando elle tem por objecto o
amor da nossa Patria, he a primeira das virtudes Sociaes. Todo o
homem que possue, e cultiva este sentimento, será sempre o bem-feitor

da sua especie, assim como tambem será hum modello de Heroismo
para os homens que houverem nascido no mesmo terreno, e fallarem a
mesma Linguagem:--Pois: Ainda que seja hum dever o amar a todos os
homens, a preferencia que nós dermos aos nossos Compatriotas, ás
producções da sua Industria, aos fructos; e Cultura de seu terreno, será
á medida de graduarmos a nossa propria estimação; ¿Quem deu tanta
superioridade á Nação Ingleza (façamos-lhe justiça neste particular), e
tantos respeitos sobre os outros povos da Europa?... O seu Brio
Nacional!--Portuguezes lembremo-nos do Brio Nacional dos Heróes
que honrárão (e hão-de honrar) tanto a nossa Patria, que em todos os
seculos forão, e serão, o espanto, e admiração do mundo ¿Qual seria a
Nação, que se não sentira ufana por ter por Compatriota hum
Albuquerque, que em immensa distancia da sua Patria, ameaçado de
todo o poder de hum Rei Persiano sem quasi algum soccorro,
respondeo aos Embaixadores deste ao pedirem-lhe Tributos?--Eis a
moeda (apontando-lhes para hum monte de ballas e granadas, e pondo a
mão no seu alfange) de Tributo com que costuma a pagar ElRei de
Portugal!

He precizo que sejamos quem d'antes fomos.
Quando huma nação tem grandes virtudes Públicas, nunca lhe falta
aquella elevação de caracter que a faz sobressahir entre as outras
Nações contemporaneas. A criação que El-Rei D. João 1.^o soube dár a
seus filhos, e á Côrte, produzio tamanhos effeitos sobre o caracter
Nacional, que por quasi dois seculos Portugal conservou a
preponderancia do valor, e da fortuna sobre o resto da Europa. Nestes
famosos tempos, a Historia Militar dos Portuguezes mostra illustres
documentos de quanto se conhecião, e se praticavão as virtudes
heroicas que eternizárão o nome dos Gregos, e dos Romanos, e quanto
o amor da familia era generosamente sacrificado ao Amor da
Patria.--Entre outros grandes exemplos Portuguezes, bastará sómente
citar o de Antonio Moniz Barreto, Governador da India.--Achava-se em
estreito cerco a importante Fortaleza de Malaca.--o poder dos Achens, e
dos Jáos era tão forte, que a prudencia mesma desconfiava do bom
successo das nossas Armas. Entre grandes precisões do estado, o

Illustre Barreto querendo apromptar acceleradamente os recursos que
parecião impossiveis de se
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